Durante os debates do quinto júri do processo do assassinato do ex-secretário da Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos, a defensora pública Tatiana Boeira sustentou que houve um aproveitamento político do caso. Sem especificar quem teria sido beneficiado, disse que se explorou o crime para atingir o PTB, partido da vítima e dos réus Marco Antônio Bernardes (então assessor jurídico da Secretaria Municipal da Saúde) e José Carlos Brack (então presidente do PTB de Porto Alegre e consultor na SMS).
Tatiana defende Brack e o enteado de Bernardes, Cássio Medeiros de Abreu, também réu na ação. Assim como o advogado Cláudio Cardoso da Cunha, que a antecedeu e defende Bernardes, ela sustentou que as imagens que mostram o assessor da SMS supostamente recebendo propina da Reação foram adulteradas.
— Não precisa ser perito para saber que essas imagens foram editadas — disse Tatiana.
Sobre o papel de Cássio, que é acusado de buscar a propina, ela explicou as imagens que foram juntadas ao processo. Nas gravações, o enteado de Bernardes aparece com um envelope de dinheiro. Segundo Tatiana, ele estava indo tratar sobre a recuperação de um veículo roubado de seu padrasto.
— O Cássio perdeu 11 anos da vida. A própria promotora de Justiça pediu a absolvição desse menino — destacou a defensora.
A Reação teria entrado no esquema e pagava propina a integrantes da pasta, para que os contratos com a prefeitura fossem mantidos. Naquele ano de 2010, quando o crime aconteceu, Eliseu estava à frente da secretaria e teria descoberto a corrupção, encerrando o contrato com a empresa — que acabou entrando em falência em razão de dívidas e demais problemas.
Sobre José Carlos Brack, recai a acusação de mandar Marco Bernardes cobrar propina para fins partidários. Tatiana disse que o político nunca “engavetou” o processo licitatório para contratação de nova empresa de segurança em postos de saúde para beneficiar a Reação, como sustenta o MP.
— O processo licitatório estava andando, estava na Secretaria da Fazenda — disse a defensora pública, que encerrou pedindo a absolvição de Brack.
— Respeitem a história de vida daqueles dois homens que estão ali — pediu Tatiana apontando para Brack e Cássio.
Haverá mais quatro horas de debates se houver réplica e tréplica. A previsão é de que o júri termine durante a noite.
O crime
Eliseu Santos, então com 63 anos, foi morto na noite de 26 de fevereiro de 2010. Ex-vice-prefeito da Capital, ele era secretário municipal de Saúde à época e se preparava para entrar no carro dele, acompanhado da esposa e da filha, na Rua Hoffmann, no bairro Floresta, minutos após deixar um culto. Santos foi abordado por criminosos e chegou a sacar uma pistola, tentando se defender, mas acabou atingido por uma sequência de disparos e não resistiu.
Cinco réus já foram condenados e um absolvido em júris anteriores.