O segundo dia do quinto júri do processo sobre a morte do ex-secretário da Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos começou com o interrogatório dos réus. O primeiro a depor nesta terça-feira (13) foi José Carlos Elmer Brack, ex-presidente do PTB de Porto Alegre e ex-diretor da pasta que era comandada pela vítima, de quem era uma espécie de conselheiro, na época do crime. Ele é acusado de mandar o assessor jurídico da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e também réu Marco Antônio de Souza Bernardes cobrar propina da Reação — que prestava serviços de segurança em postos de saúde — para que valores atrasados que a empresa teria a receber fossem pagos.
Perguntado pelo juiz Thomas Vinícius Schons se existia essa cobrança de propina, ele negou.
— Chega a ser uma piada. Se houvesse mesmo a intenção, eu tivesse dado ordem e fosse corrupto, não seria por R$ 15 mil — disse Brack.
Está no banco dos réus, além de Brack e Bernardes, Cássio Medeiros de Abreu — enteado de Bernardes, que teria sido responsável por buscar a propina.
Brack falou sobre a sua trajetória política, lembrando que era contratado pela Procempa, mas que na época do crime estava cedido para a SMS. Discorreu sobre sua relação de amizade com Eliseu Santos. Primeiro, disse que não foi ele quem indicou Bernardes para assessoria jurídica da pasta. Depois, disse que sugeriu sua indicação.
O réu, de 78 anos, não esteve no plenário no primeiro dia do julgamento, na segunda-feira (12), alegando motivos de saúde. Nesta terça, entrou de braços com sua filha, aparentando dificuldade de caminhar. Sentou no banco dos réus para ser interrogado e, logo, a filha colocou um aparelho para aferir a pressão do pai. Poucos minutos após o início das perguntas, Brack passou mal. A sessão chegou a ser suspensa, mas logo foi retomada. Disse, então, que não tinha ingerência nas decisões sobre contratações da SMS:
— Eu não tinha relação com contratos, licitações. Mas eu lembro que existia um desconforto sobre a relação contratual com a Reação.
Conforme o MP, os três réus faziam parte de um esquema de corrupção que ocorria na secretaria, na época, e envolvia a empresa Reação, que teria entrado no esquema e pagava propina a integrantes da pasta, para que os contratos com a prefeitura fossem mantidos.
Naquele ano, Eliseu estava à frente da secretaria e teria descoberto a corrupção, encerrando o contrato com a empresa — que acabou entrando em falência em razão de dívidas e demais problemas.
Sobre o contrato com a Reação que havia terminado, disse que, na época, por se tratar de período eleitoral, decidiu-se por seguir com os trabalhos da empresa por mais um período.
— Decidiu-se prorrogar por mais seis meses, com cláusula de encerramento do contrato quando tivesse um vencedor na licitação que estava em curso — recordou o réu.
Conforme Brack, depois do não pagamento de valores atrasados pela prefeitura à Reação, começaram a ser divulgados supostos casos de corrupção na SMS. Lembrou da divulgação de vídeos que flagraram Marco Bernardes recebendo um envelope que seria propina.
— Era uma tentativa deles de tentar receber os valores que estavam atrasados — opinou Brack sobre esses vídeos, classificando como chantagem.
O réu disse que assim que vieram à tona os vídeos, disse para Marco Bernardes deixar o cargo de assessor jurídico da SMS. Também disse ter tomado a decisão de deixar a pasta. Para Brack, a citação de seu nome no caso teria como objetivo criar um fato político para pressionar a prefeitura.
— O objetivo era constranger — disse.
O júri foi suspenso para o almoço e será retomado 14h30min, com o interrogatório dos demais réus Marco Bernardes e Cássio Medeiros de Abreu. Logo depois, vai haver o debate entre acusação e defesa. A previsão é que o júri termine na próxima madrugada.