Uma informação dada por uma das testemunhas ouvidas pela Polícia Civil no caso da morte de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, reforça a tese de que não foi o jovem que pediu para ser levado pelos policiais militares para a localidade de Lava Pé, em São Gabriel, onde seu corpo foi encontrado uma semana depois.
No depoimento está registrado que o soldado Cléber Renato Ramos de Lima disse, durante a abordagem, que "caso não achassem o familiar dele iriam largá-lo longe para não retornar mais para o local incomodar".
A testemunha também declarou que em nenhum momento Gabriel citou a localidade de Lava Pé. O que ele teria dito aos policiais militares é que não era da cidade e estava perdido da casa do tio. No depoimento que deram no inquérito policial militar logo depois do sumiço do jovem, os PMs investigados alegaram que Gabriel pediu para ser levado a Lava Pé, onde procuraria por familiares.
E essa versão sobre o possível pedido de Gabriel só surgiu quando o desaparecimento começou a ser investigado. Inicialmente, no boletim feito sobre o atendimento da ocorrência, o próprio soldado Cléber anotou que "a guarnição abordou o sr Gabriel, que consultado estava sem novidades, sendo então orientado e liberado".
Dados do GPS revelaram que a viatura foi até a localidade, parou por um minuto e 50 segundos e, depois, retornou para o patrulhamento.
Testemunhas também relataram à polícia que Gabriel foi agredido durante a abordagem. Um dos relatos apontou que o jovem teria chamado um dos policiais de "fraco" e, nesse momento, acabou agredido com um tapa tão forte que o derrubou. Enquanto estava caído, teria levado três golpes de cassetete na cabeça. Conforme depoimentos, Gabriel foi retirado do local da abordagem parecendo estar desacordado.
O jovem desapareceu na madrugada de 13 de agosto, depois de ser abordado no bairro Independência. O corpo foi achado uma semana depois, em um açude na em Lava Pé.
Os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima e o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso são investigados pela morte de Gabriel. Os três tiveram prisão decretada pela Justiça Militar — por irregularidades na condução da ocorrência — e também pela Vara Criminal de São Gabriel por homicídio doloso, a pedido da Polícia Civil.
Contraponto
GZH deixou recado para Vânia Barreto, advogada de Cléber, e aguarda retorno. No início desta semana, antes do decreto de prisão preventiva a partir do inquérito policial que investiga o caso como homicídio, ela, que defende os dois soldados, negou que eles tenham agredido Gabriel e disse que eles o levaram para a localidade de Lava Pé a pedido dele, mas não o conduziram até o açude onde o corpo foi encontrado, uma semana depois.
Na ocasião, os advogados Ivandro Bitencourt Feijó e Mauricio Adami Custódio, que defendem o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, por meio de nota, também disseram que o cliente é inocente e manifestaram "indignação" com suposta "antecipação de culpa" do segundo-sargento, que, segundo eles, "não ostenta qualquer comportamento à margem da ética-policial militar ao longo de toda sua carreira" .