Aos 49 anos, Gisele Olabarriaga conciliava em sua rotina diferentes paixões: viagens para praia e para a Serra, costura, tempo para apreciar vinhos, ficar com os filhos e praticar esgrima. Querida na família e pela vizinhança, ela era vista como mulher forte, que gostava de viver e estar perto de quem amava. Na manhã do último domingo (15), no entanto, a vida da publicitária foi interrompida pelo companheiro, segundo a polícia. Após uma suposta discussão entre os dois, ela foi morta a facadas pelo homem de 35 anos com quem dividia a casa no bairro Aparício Borges, na zona leste de Porto Alegre. O caso é investigado como feminicídio.
Nascida na Capital, Gisele havia morado recentemente em Florianópolis e São Francisco de Paula. Após a morte dos pais, ela retornou a Porto Alegre, para ficar mais perto da irmã, portadora de síndrome de down. Mãe de dois filhos, ela se formou em Publicidade e Propaganda e trabalhava com campanhas e eventos. Nos últimos anos, havia parado de trabalhar e se dedicava a demais afazeres e ao lazer.
Segundo o filho, há cerca de dois anos, ela voltou com a esgrima, esporte que praticou por 10 anos, até por volta dos 30. Recentemente, havia ficado em segundo lugar em uma competição, e seguia treinando, apaixonada pelo esporte.
— Ela sempre foi uma mulher muito forte, uma pessoa boa. Não deixava ninguém mandar nela. Era uma pessoa bem-vista, querida, que ajudava as pessoas. É um choque, nunca pensamos que isso fosse acontecer com ela. Ela já havia comentado comigo que queria se separar, que não queria mais viver daquele jeito, mas não sei se chegou a falar isso para ele. Agora, ele acabou com a nossa vida — lamenta o filho, João Olabarriaga, 25.
João afirma que a mãe já teria relatado que tinha o desejo de se separar do companheiro, com quem estava desde 2019. Os motivos seriam as agressões e a desconfiança por parte do homem.
Conforme a Polícia Civil, a mulher não havia formalizado registros por violência doméstica contra o namorado. Segundo a delegada a frente do caso e da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da Capital, Cristiane Pires Ramos, a motivação para o crime teria sido ciúmes.
Após o crime, o homem saiu do local e se deslocou até a casa da mãe, onde teria falado sobre a morte. Depois, foi até o Palácio da Polícia e se apresentou. No momento, ele estava "bastante transtornado e com sangue aparente nas roupas". Em depoimento, ele permaneceu em silêncio, segundo Cristiane. Como o inquérito segue em andamento, seu nome não foi informado pela Polícia.
— Ele chegou na delegacia e disse a mesma coisa que afirmou para a mãe dele, que achava que tinha matado a namorada. Informalmente, na polícia, ele explicou que os dois discutiram por ciúmes e admitiu que agrediu a vítima. Depois disso, disse que não lembra de mais nada. Pelos relatos da família dela, eles já tinham presenciado muitas brigas e agressoes físicas motivadas por ciúmes dele. Ele tinha muito ciúmes dela — diz a delegada.
Homem usava tornozeleira eletrônica
Conforme a delegada, o homem foi preso em flagrante em 2016 por tráfico de drogas. Um tempo depois, ele teve progressão de regime e passou a usar tornozeleira eletrônica, mas teria fugido em diferentes momentos. Em 2020, segundo Cristiane, estava foragido e foi capturado novamente.
Em novembro do ano passado, foi liberado com tornozeleira eletrônica e seguia dessa forma até agora.
Contraponto
De acordo com a Defensoria Pública do Estado, o homem já vinha sendo acompanhado em outros processos pela instituição. A Defensoria informou que foi comunicada sobre a prisão e que irá se manifestar apenas nos autos do processo.