A 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) divulgou nesta quinta-feira (17) imagens dos três suspeitos de terem assassinado o ex-vereador de Porto Alegre José Wilson da Silva, 89 anos. Um deles já foi identificado, segundo a Polícia Civil, mas os outros dois ainda não tiveram a identidade descoberta.
O crime aconteceu em 10 de dezembro no bairro Partenon, na zona leste da Capital. O político era ex-exilado e presidente da Associação dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul.
O vídeo foi captado por câmeras de segurança na Rua Paissandu, onde fica a casa na qual o ex-vereador morava. Na gravação, é possível ver que o trio anda pela rua, na direção da casa, e leva cerca de cinco minutos para ir até a moradia, entrar no local e voltar correndo. Esse tempo revela para a investigação um ponto importante, explica a delegada Isadora Galian. Uma das dúvidas da polícia era como os executores tinham conseguido entrar na casa.
— Com as imagens conseguimos ter certeza de que eles não tinham chave micha. Eles tinham a chave da residência. A chave micha não seria capaz de vencer três portões em um tempo tão curto. Essa chave consegue abrir a porta, mas demora. Foram cinco minutos apenas para vencer os três portões, entrar, matar a vítima e fugir — diz a titular da 1ª DHPP.
Pelo vídeo é possível ver também que pelo menos um dos suspeitos estava com luvas pretas. Nos outros não é possível ter certeza se estavam de luvas. Um dos homens, segundo a delegada, foi identificado, mas ainda não foi ouvido. A polícia espera que, com a divulgação das imagens, possa receber novas informações sobre o trio.
— Ainda estamos apurando a motivação. Mas sabemos que ele tinha bastante dinheiro em casa. Um cheque de R$ 50 mil e uma arma — diz a delegada, embora afirme que o caso segue tratado como homicídio e não latrocínio, que seria um roubo com morte.
Após o crime, os executores fugiram sem levar nada da vítima. Além do trio, a polícia apura quem mais pode ter colaborado com o crime.
— Precisamos saber como eles tinham chave. Saber quem facilitou a entrega das chaves ou como conseguiram obter a chave para ingressar na residência — afirma Isadora.
A polícia ainda aguarda o recebimento de exames pericias, mas garante que pretende concluir a investigação em breve. Informações que ajudem na identificação dos suspeitos podem repassadas pelo telefone 08006420121, inclusive de forma anônima. Até o momento, conforme a polícia, não há ninguém preso pelo crime.
Investigação
Nos últimos três meses, a polícia ouviu cerca de 15 testemunhas, entre eles os filhos do idoso, um chaveiro, um guarda da rua e vizinhos. Uma das primeiras pessoas a serem ouvidas foi a companheira de Wilson, que havia sido sua cuidadora. Ela é considerada pela polícia como a principal testemunha do caso.
A mulher relatou que estava dormindo no quarto quando ouviu barulho de chave em uma porta próxima, de acesso ao quintal da casa. Depois disso, teria acordado o companheiro para que ele fosse verificar do que se tratava. Na sequência, o militar reformado teria pego um facão debaixo da cama e ido em direção a essa porta. À polícia, ela disse que Wilson bateu numa mesa com o facão e perguntou: “Quem está aí?”. Logo depois, teria acontecido os disparos. O ex-vereador foi atingido por dois tiros na cabeça e no abdômen.
Histórico
Capitão reformado do Exército quando jovem, Wilson ganhou o apelido de Tenente Vermelho por suas tendências de esquerda. Em abril de 1964, após o golpe civil-militar, teve seus direitos políticos cassados. Só voltou ao Brasil com a anistia aos presos políticos, em 1979. Era também presidente da Associação de Defesa dos Direitos e Pró-Anistia dos Atingidos por Atos Institucionais, e liderança reconhecida nacionalmente, sempre presente nas atividades em defesa da Anistia.
Em agosto, havia viajado a Brasília para debater assuntos relacionados ao tema. Para comemorar o aniversário de 90 anos, Wilson pretendia reunir os amigos em uma churrascaria no bairro Santana. No convite enviado, escreveu que só festejava aniversário de 10 em 10 anos, e, que, portanto, estaria completando seu nono ano, na segunda-feira, dia 13. No entanto, acabou morto três dias antes.
O PCdoB emitiu nota onde lamenta a perda, e afirma que “o seu exemplo frutificará nas nossas lutas e vitórias contra toda forma de opressão e exploração”. A mesma manifestação diz que o partido cobrará das autoridades policiais e judiciárias o mais rápido esclarecimento do crime. A investigação apontou que não há indícios de crime político no caso.