Trazer de volta parte das características originais do quase centenário Asilo São Joaquim está entre as metas das reformas no histórico prédio na zona sul de Porto Alegre. Algumas delas já são perceptíveis a quem passa pela Avenida Padre Cacique. Aguardada há pelo menos duas décadas pelos servidores da sede administrativa da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) do Rio Grande do Sul, que conviviam com problemas estruturais, a obra se aproxima da metade (48%) e deve ser concluída até setembro.
Inaugurado em 1932 para abrigar meninos órfãos, o prédio era um sonho de Padre Cacique, concretizado 25 anos após a morte do líder religioso. O imóvel passou por alterações ao longo das décadas e foi tombado em 2013. Em outubro passado, deu-se início à reforma para modernizar a estrutura e preservar o patrimônio histórico. Em razão disso, o projeto passou pelo crivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae).
Entre as mudanças mais perceptíveis tanto no lado de fora, como internamente, estão as alterações no telhado. A estrutura comprometida, com madeiras deterioradas e cupins, foi trocada, assim como a cobertura. O telhado, antes acinzentado, ganhou tom alaranjado, que pode ser visto à distância.
— Trocamos de fibrocimento para telha cerâmica, que é original do período de construção do prédio — explica a arquiteta Neusa Marques, do Núcleo de Engenharia e Arquitetura da Fase.
Essa foi uma das etapas mais complexas da obra e se estendeu por quatro meses. Ao longo deste período, havia preocupação com as intempéries. Para não deixar todo o prédio descoberto, foi preciso remover o telhado aos poucos. Quando havia previsão de chuva ou vendaval, era necessário cobrir a edificação.
— A estrutura do telhado é quase um outro pavimento, com tesouras de cinco metros de altura. Se entrasse algum vento, seria catastrófico — detalha o engenheiro residente da obra Pedro Pacheco.
Também devido ao risco de o imóvel ser atingido por raios, pela proximidade com o Guaíba, durante a etapa do telhado, foi realizada a instalação de Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), agora em finalização.
Pintura e elétrica
No momento, os operários trabalham na pintura do segundo andar na parte de dentro do prédio – a do primeiro já foi concluída. Foram escolhidos tons de cinza para recobrir as paredes, que tinham diferentes tonalidades. Assim que a pintura é finalizada, pode se dar início à instalação da elétrica – no primeiro andar deve começar nesta semana.
— O que motivou a obra toda foi a questão das instalações elétricas, que eram extremamente deficientes, precárias. Corríamos sério risco de incêndio — explica a arquiteta Lilliane Andrade.
Antes da reforma, os cerca de 200 servidores sofriam com os receios de sobrecarga da rede. O prédio abriga as diretorias Administrativa, de Qualificação Profissional e Cidadania e Socioeducativa da fundação. Em alguns momentos, não era possível ligar os aparelhos de ar-condicionado, por medo de curto-circuito.
— É um ganho para quem estava aqui trabalhando. É uma era de problemas que termina — diz Lilliane.
Além da parte elétrica, o próximo passo contempla a telefonia e fibra óptica. As melhorias no acesso à internet são esperadas especialmente para uso durante as audiências online com a Justiça e o Ministério Público. Antes da reforma, eram frequentes as quedas do serviço. Até a conclusão da obra, parte dos servidores trabalha em contêineres espalhados pelo complexo, em outras áreas da Fase, ou em teletrabalho.
— É um sacrifício por algo bom, esperado há muito tempo. Estou muito satisfeita com o resultado da obra até agora, e acredito que, pelo andamento, poderá ser concluída até antes do prazo — comemora a presidente da Fase, Sônia D’Avila.
A obra de R$ 4,9 milhões é realizada pela Âncora Construções e Equipamentos Eireli, com recursos próprios da fundação. O prédio em reforma não é usado para abrigar os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.
Mudanças
As reformas tiveram início em outubro, e a previsão de conclusão é em até 11 meses. Dentro do prédio, é possível perceber alterações após a remoção de todos os forros antigos (havia diferentes tipos de materiais). O novo forro de madeira será fechado após a conclusão da elétrica. O pé-direito foi elevado no segundo andar, com padrão de quatro metros em todos os cômodos. Isso permitiu revelar, por exemplo, partes do topo das janelas, que estavam escondidas sob camadas de forro.
Mas não serão apenas essas as mudanças na edificação histórica. A fachada sofrerá alterações, com intuito de deixar o prédio mais parecido com o original. Os tijolos à vista — que não faziam parte do imóvel em 1932 — serão cobertos por reboco e receberão pintura. As janelas deterioradas também serão reparadas e pintadas de branco.
O hall de entrada é um ponto da obra que ainda precisa ser definido. No lado direito, no alto da parede, é possível ver uma pintura deteriorada – acredita-se que tenha a mesma data da inauguração do prédio. Já não é possível identificar com exatidão a obra, que necessita de restauro. No mesmo espaço, há ainda escaiolas (antigo revestimento da parede que imita mármore), que também precisam ser recuperadas. As definições do que deve ser feito na entrada dependem de análise do Iphae.
Outra reforma
Outra obra da Fase teve início nesta semana: a reforma do Centro de Convivência e Profissionalização (Ceconp), num investimento de R$ 6,1 milhões. O local é espaço de oficinas para jovens que cumprem medida de internação com possibilidade de atividade externa de todas as unidades de Porto Alegre. Durante a reforma, que deve levar sete meses, o Centro desenvolverá atividades dentro das unidades do Complexo Socioeducativo da Cruzeiro e online.