Um dos prédios de maior importância histórica de Porto Alegre, a chamada Casa Lutzenberger entrou em fase final de reforma e deverá ser entregue novamente ao convívio da cidade em pouco mais de um mês, entre o final de fevereiro e o começo de março.
A conclusão da obra, que enfrentou percalços como arrombamentos por ladrões, permitirá que o local volte a ser a sede da empresa fundada pelo célebre ambientalista gaúcho José Lutzenberger (1926-2002), depois de ter abrigado três gerações de sua família. Destacado também pela importância arquitetônica, o imóvel foi tombado pelo Patrimônio Histórico da Capital em 2012.
O casarão localizado no número 39 da Rua Jacinto Gomes, no bairro Santana, foi desenhado pelo pai do ambientalista, o arquiteto Joseph Lutzenberger — responsável por outras construções icônicas de Porto Alegre, como o Palácio do Comércio, no Centro, e o Pão dos Pobres, na Cidade Baixa.
As sucessivas gerações da família viveram na casa de três andares da Santana entre 1932 e 2002, quando o pioneiro do movimento ambiental brasileiro morreu. Conforme uma de suas filhas e sócia da empresa Vida Desenvolvimento Ecológico, Lara Lutzenberger (ao lado da irmã Lilly), a ideia é que a companhia fundada pelo renomado ativista volte a ocupar as dependências do casarão.
— Seguirá sendo sede administrativa da nossa empresa familiar, que atua no âmbito da reciclagem industrial, especialmente no setor de papel e celulose. Excepcionalmente, e se a pandemia permitir, poderão ser agendadas visitas especiais, mas o local é, antes de mais nada, escritório empresarial desde 2012 — afirma Lara.
Naquele ano, a estrutura original recebeu melhorias e um anexo assinado pelo arquiteto Flávio Kiefer para permitir a utilização como endereço comercial.
As atuais obras de manutenção já previam intervenções como renovação de pintura, reforço de impermeabilização e restauro do revestimento da fachada. A insegurança forçou o acréscimo de mais algumas mudanças: ao longo da obra, houve dois arrombamentos. No segundo episódio, os ladrões foram flagrados já no interior do prédio. Por isso, a família se viu obrigada a reforçar as grades na frente do imóvel.
Além do valor arquitetônico, o imóvel tem importância significativa na história do ambientalismo brasileiro.
— Essa casa foi projetada pelo meu avô paterno, Joseph Lutzenberger, como sua morada familiar, quando meu pai e suas duas irmãs ainda eram muito pequenos, assim sendo o testemunho mais genuíno da sua obra arquitetônica. E foi o reduto de onde partiram as estratégias de militância ambiental encabeçadas pelo meu pai desde os anos 1970 até a sua morte, em 2002 — lembra Lara.
A filha do ambientalista lembra ainda a importância de preservar o patrimônio urbanístico:
— Me entristeço de ver o quanto nosso país derruba sem dó prédios cuja arquitetura confere uma janela de visitação aos padrões estéticos e hábitos de vida de outras épocas.
O prédio
- Projetado pelo arquiteto Joseph Lutzenberger, pai do ambientalista José Lutzenberger (morto em 2002), responsável por outras obras importantes da cidade, como o Palácio do Comércio
- Abrigou três gerações da família entre 1932 e 2002, em um espaço de três andares. Nos anos 1970, sediou parte da mobilização que estruturou o movimento ambiental no país
- A partir de 2012, passou a sediar a empresa Vida Desenvolvimento Ecológico, fundada em 1979 por José Lutzenberger. Ainda em 2012, recebeu melhorias e um anexo em um projeto assinado pelo arquiteto Flávio Kiefer
- A atual reforma trará melhorias na fachada, impermeabilização e segurança
- Após a conclusão da obra, o prédio deverá voltar a receber a empresa fundada por Lutz. Se a pandemia permitir, a família pretende permitir visitações especiais