Uma semana após a morte de Abílio Port, 75 anos, em Três Coroas, no Vale do Paranhana, cinco pessoas serão indiciadas pela Polícia Civil. O inquérito será encaminhado à Justiça nesta quarta-feira (29). Entre os apontados como envolvidos no crime, está um vizinho da vítima. A apuração concluiu que os criminosos pretendiam cometer um assalto, mas acabaram matando o produtor rural.
Os cinco indiciados por latrocínio e organização criminosa foram presos durante a investigação da morte do produtor rural. O crime aconteceu na noite da quarta-feira (22), na localidade de Canastra Baixa, na área rural do município. Por volta das 22h, Abílio Port, 75 anos, e o filho Aloísio Port, 45 anos, seguiam em uma caminhonete de volta para casa, quando foram abordados pelos criminosos, que forjaram precisar de ajuda.
Um veículo estava parado no meio da estrada, quando pai e filho se aproximaram. Um homem na via disse que o pneu havia furado e que precisava de auxílio. Assim que eles pararam, outros assaltantes saltaram do matagal e apontaram a arma para dentro do veículo. Aloísio, que estava na direção, deu ré e os criminosos passaram a disparar contra eles, atingindo o condutor na mão direita e o pai dele no abdômen. Para escapar, Aloísio arremessou o veículo contra o carro dos bandidos.
— Arremessou o veículo deles no barranco, o que impediu de fugirem com o carro e se forçaram (os criminosos) a fugir para o mato. Começamos a investigar em cima deste veículo. E chegamos aos nomes de três deles que tinham participado do crime — explica o delegado Ivanir Caliari, que conduziu a investigação.
Os primeiros identificados na apuração, realizada de forma conjunta com a Brigada Militar, foram o dono do carro, um morador de São Leopoldo, um parente dele, que residia no limite entre Parobé e Taquara, e um vizinho dele, nesta mesma localidade. Chamou a atenção da polícia que este terceiro tinha o sobrenome Port – o mesmo das vítimas. A apuração descobriu que ele era filho de um vizinho do produtor rural, em Três Coroas, parente distante de Aloísio e Abílio.
Foi assim que a polícia chegou até Lindomar Port, 44 anos, que morava a cerca de 800 metros da casa das vítimas. Quando as suspeitas recaíram sobre o vizinho, as buscas também foram deslocadas para as proximidades da propriedade dele. No mesmo dia, policiais foram recebidos a tiros por três criminosos que fugiram para um matagal.
— Em seguida fomos ao encontro desse vizinho das vítimas e ele, sabendo do confronto, estava tentando ligar para o filho, pedindo que se rendesse. Falamos que sabíamos que o filho dele estava envolvido e ele confessou ser o mentor do crime — relata o delegado.
Aos policiais, Lindomar disse que a intenção seria roubar as vítimas e não matar, mas que, durante a ação, acabaram atirando contra o veículo. Quando prestou depoimento na presença de advogado, ele optou por permanecer em silêncio. Segundo o delegado, o homem se dispôs a ir com os policiais até o local onde os outros seguiam escondidos no matagal e negociar a rendição. O filho dele, Wesley Port, 20 anos, se entregou à polícia, assim como o dono do veículo, de 22 anos, morador de São Leopoldo.
Além dos dois, havia um terceiro no matagal, identificado como um morador de Parobé, de 27 anos. Neste primeiro momento ele escapou, mas no dia seguinte acabou preso pela Brigada Militar. Após as quatro prisões, a polícia seguiu apurando o caso. Um quinto envolvido acabou sendo identificado como o homem de 51 anos, que teria pedido ajuda às vítimas no meio da estrada. Ele é padrasto da companheira de um dos presos.
Quando ouvido, ele confessou que estava no local do crime, mas disse que não sabia da intenção de atacar as vítimas. Confessou que saíram de Santa Cristina do Pinhal, no limite entre Taquara e Parobé, e foram até Três Coroas. Lá chegaram a se encontrar com Lindomar e depois seguiram para a estrada onde ficaram aguardando, até que pai e filho se aproximaram e foram abordados.
— Disse que estavam indo caçar javali. Alegou que não foi avisado que ia acontecer o crime. Contou que em determinado momento o motorista disse que o pneu estava furado e pediu para ele pegar o step. Até que veio a caminhonete e ele pediu ajuda. Nisso aconteceram os disparos. Ele confessa toda a dinâmica, aponta os quatro participantes, mas se diz inocente — detalha o delegado.
Versões
Os presos apresentaram diferentes versões sobre quem teria atirado nas vítimas. Cerca de 11 disparos teriam sido efetuados contra o carro. Isso faz a polícia acreditar que todos os envolvidos teriam atirado. Três armas, de diferentes calibres, foram apreendidas. Duas delas foram localizadas pela Brigada Militar em matagais. Para o delegado, o objetivo do crime seria obter dinheiro das vítimas.
— Não verifiquei indícios de execução e sim a presença de elementos que nos levam a crer que sim a intenção inicial era o assalto, que acabou resultando em morte. Eles tinham certa convivência e inclusive tinham vendido uma fração de terra para as vítimas, que pagaram em dinheiro vivo. Acredito que isso pode ter despertado a cobiça, por acreditarem que eles poderiam ter dinheiro casa — diz o delegado.
Além dos crimes de latrocínio e organização criminosa, três dos cinco presos serão indiciados também por tentativa de homicídio, em razão dos disparos contra os policiais.
Contraponto
GZH entrou em contato com o advogado Cristiano Huff, responsável pela defesa de Lindomar e Wesley Port, que informou que não pretende se manifestar à imprensa sobre o caso no momento.