A Justiça pretende ouvir o médico Cairo Roberto de Ávila Barbosa, 65 anos, réu por crimes sexuais contra 19 pacientes, neste mês. É também quando devem ser encerradas as audiências para ouvir as vítimas e testemunhas. O ginecologista, que atuava há quatro décadas em Canguçu, no sul do Estado, está preso desde o dia 17 de junho. Em depoimento anterior à polícia, ele negou que tenha cometido os crimes.
O médico é réu em três processos, na maioria dos casos pelo crime de violação sexual mediante fraude. Nesta quarta-feira (6), ele será ouvido em dois processos. Depois, ainda em outubro, estão marcadas mais duas audiências referentes à terceira ação. Segundo a acusação, ele fingia realizar exame ginecológico nas mulheres com intuito de cometer abusos. A primeira denúncia foi encaminhada em maio, com quatro vítimas. Em junho, mais duas denúncias, com um total de 15 mulheres, foram levadas à Justiça.
A constatação de que ele agia reiteradamente levou o Ministério Público a pedir a prisão preventiva do médico. Barbosa foi detido em 17 de junho na Praia do Cassino, em Rio Grande. O réu permanece preso, após o Tribunal de Justiça negar pedido de habeas corpus. Os três processos contra o médico se encontram na fase de instrução.
Em razão da quantidade de vítimas e testemunhas, segundo a juíza Hélen Fernandes Paiva, as audiências foram divididas, com média de cinco a seis depoimentos por dia. Uma das mulheres ouvidas em audiência, no mês de julho, relata ter sido vítima do médico duas vezes, em duas semanas, ao buscar atendimento na clínica durante gravidez, em junho de 2017. Aos 43 anos, conta que por muito tempo se sentiu culpada, tendo de fazer uso de medicamentos.
— Ele continua preso, pelo menos, então já é uma vitória — conta.
Outra vítima, já ouvida pela Justiça, tem 40 anos e relata ter sido abusada em 2014. Em março daquele ano, saiu direto do consultório para a Delegacia de Polícia. Em junho, contou a GZH que teve danos psicológicos após o fato.
— Tive crises de choro, depressão. A gente fica extremamente impotente — disse a mulher.
Acusado responde também por estupro de vulnerável
Um dos casos pelos quais o médico responde é por estupro de vulnerável, já que a acusação entendeu que a situação se deu de forma diferente. A jovem, na época com 20 anos, estava numa gestação de 37 semanas e cinco dias, em início de trabalho de parto, quando, ao procurar o Hospital de Caridade de Canguçu, acabou atendido pelo médico, que estava no plantão. Naquele momento, o ginecologista teria forjado realizar um exame para abusar da paciente.
— Achei estranho, mas não relatei. Pedi para chamar minha mãe. E ele disse que não poderia minha mãe entrar — contou a jovem, em junho.
Os crimes, segundo os relatos das vítimas, teriam acontecido tanto no hospital, como na clínica particular do ginecologista. O médico foi afastado da casa de saúde por decisão judicial ainda no mês de maio, e os atendimentos no consultório foram suspensos. O registro profissional do ginecologista está suspenso, por decisão judicial, durante o processo.
O Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) apura a conduta do médico em uma sindicância que segue em andamento.
Outro argumento usado pelo Ministério Público para pedir a prisão preventiva do médico foi o de que ele teria procurado uma testemunha para pedir que ela depusesse a favor dele no processo. A mulher afirma ter sido vítima do ginecologista, quando adolescente, e acabou levando o caso à polícia. Segundo o MP, o ginecologista teria prometido que a paciente receberia alguma vantagem, caso desse o depoimento.
A mulher não é uma das vítimas nos processos porque o caso dela está prescrito — por ter supostamente acontecido há mais de 12 anos. Outras pacientes deram depoimento ao longo da investigação, tanto para a polícia quanto ao MP, na mesma situação. Como os crimes já estavam prescritos, acabaram ouvidas como testemunhas.
Contraponto
O que diz a defesa de Cairo
Quando foi ouvido na Polícia Civil em relação aos quatro primeiros casos, o médico negou ter cometido os crimes. Já em relação aos últimos fatos narrados pelas mulheres, preferiu permanecer em silêncio. O advogado Gustavo Goularte, um dos responsáveis pela defesa do ginecologista, informou que só se manifesta nos autos do processo.
Em maio, antes da prisão do médico, a defesa havia encaminhado nota, qual afirmava que "não existe prova da ocorrência". "Os fatos são inexistentes. Uma das exigências do doutor Cairo é que o processo tramite o mais rápido possível para que a verdade se estabeleça."