O ginecologista Cairo Barbosa, acusado de abusar sexualmente de pacientes durante consultas em Canguçu, no sul do Estado, foi preso preventivamente nesta quinta-feira (17). De acordo com a Polícia Civil, ele foi localizado pelas equipes, por volta das 17h, em um apartamento na Praia do Cassino, em Rio Grande.
O homem foi encaminhado ao presídio estadual de Canguçu. Mais cedo, o Tribunal de Justiça do RS (TJ-RS) havia determinado a prisão de Barbosa. A decisão é da juíza Helen Fernandes Paiva, da 1ª Vara Judicial da Comarca de Canguçu.
Barbosa, um dos mais antigos profissionais da área no município, é réu no processo que reúne depoimentos de 19 mulheres que relatam abusos que teriam ocorrido entre 2010 e 2020, de acordo com o Ministério Público.
Até o momento, mais de 30 mulheres procuraram a delegacia e o Ministério Público (MP) para relatar casos, mas alguns deles ocorreram há mais tempo e não foram incluídos no processo porque já prescreveram. Segundo os relatos, as mulheres contaram que o profissional, sem luvas, passou a mão em partes íntimas das vítimas alegando que aquilo fazia parte do exame.
— A prisão realizada hoje traz conforto a uma geração de mulheres canguçuenses que sofreram abusos — pontuou o delegado a frente do caso, César Nogueira.
A decisão é fruto de uma nova denúncia feita na segunda-feira (14) pelo Ministério Público — outra denúncia já havia sido feita em maio e uma terceira deve ser feita nos próximos dias. A entidade pediu a prisão do médico com base na gravidade dos relatos e para garantir a ordem pública, diante da comoção que o caso gerou na comunidade de Canguçu.
Além disso, segundo o MP, Barbosa teria tentado recentemente subornar uma das vítimas, na tentativa de que ela aceitasse depor de forma favorável a ele. Sendo assim, a prisão seria necessária para garantir que não haja interferência do acusado na colheita das provas, argumentou a entidade.
"Quanto à insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão, tenho que a medida já decretada de afastamento do réu do exercício da profissão se mostra suficiente apenas para o fim de evitar a reiteração da prática criminosa contra pacientes, porém não atende aos fundamentos explanados nesta decisão, considerando que o estado de liberdade do réu gera abalo à ordem pública e à conveniência da instrução criminal, sendo a sua prisão preventiva medida de rigor", ponderou a juíza na decisão.
A magistrada disse ainda que "a gravidade dos fatos causa repulsa na sociedade, que está abalada com a notícia de que o médico fez diversas mulheres vítimas nesta comarca de Canguçu, utilizando-se do sigilo da consulta médica, da vulnerabilidade das vítimas no momento do exame e do seu poder de influência para acobertar a sua rotineira prática delituosa".
A juíza também pontuou que os relatos das vítimas são "fortes, uníssonos e muito semelhantes, envolvendo mulheres de diversas idades e localidades do município, não havendo porque se desconfiar que estejam todas mentido e se expondo imotivadamente".
"A necessidade de proteção dessas mulheres e de reposição da ordem social na comunidade de Canguçu recomenda a decretação da prisão preventiva do médico, que causou tanto mal a inúmeras famílias, que encontram-se abaladas pela descoberta de que suas esposas, mães, filhas, irmãs, foram vítimas do ginecologista e sofreram sozinhas as consequências emocionais inerentes ao crime sexual", complementou.
Promotora do Ministério Público a frente do caso, Luana Rocha Ribeiro afirmou que, após a prisão, acredita que novas testemunhas devem surgir:
— Certamente há mulheres que ainda não se sentem seguras de procurar as autoridades, seja por medo, vergonha, ou qualquer motivo. Vemos que muitas vítimas acabam sendo julgadas. Agora, com a prisão, acreditamos que novas vítimas podem surgir.
O que diz a defesa
Procurado, o advogado Gustavo Goularte, responsável pela defesa de Barbosa, afirmou que só irá se manifestar após ser notificado.