Após os depoimentos das pacientes que afirmam terem sido abusadas por Cairo Roberto de Ávila Barbosa, 65 anos, em Canguçu, no sul do Estado, foi a vez do próprio médico ser ouvido pela Justiça. No interrogatório, o ginecologista preso desde o dia 17 de junho, negou ter cometido os crimes. Réu em três processos, na maioria dos casos pelo crime de violação sexual mediante fraude, esta foi a primeira vez que ele falou na esfera judicial sobre os casos.
Nesta quarta-feira (6), Barbosa foi ouvido dentro dos dois primeiros processos que tramitam na Justiça. A audiência teve início por volta de 10h e foi realizada por meio de videoconferência. Ele manteve a mesma versão já apresentada à Polícia Civil durante a investigação, de que não cometeu os crimes. O médico foi interrogado em dois processos: um primeiro com quatro vítimas e o segundo com oito – ainda há um terceiro.
Em todos esses casos ele é acusado de violação sexual mediante fraude – crime sexual diverso do estupro, por não pressupor violência e, sim, uma forma de ludibriar a vítima para cometer o delito. Conforme a acusação do Ministério Público (MP), após investigação da Polícia Civil, o médico fingia realizar exame ginecológico nas mulheres com intuito de cometer abusos.
Os crimes, segundo os relatos das vítimas, teriam acontecido tanto no hospital quanto na clínica particular do ginecologista. Barbosa atuava havia quatro décadas no município, onde era bastante conhecido.
A primeira denúncia foi encaminhada pelo Ministério Público em maio. Nela, o médico é acusado de ter cometido crimes contra quatro mulheres. Na ocasião, a promotora pediu o afastamento do profissional do Hospital de Caridade de Canguçu e a suspensão da licença médica. As duas medidas foram atendidas.
Em junho, mais duas denúncias, com total de 15 mulheres, foram levadas à Justiça. Na primeira delas, no dia 14 de junho, foram apontadas outras oito vítimas, todas moradoras de Canguçu. No mesmo documento, o MP pediu a prisão preventiva do médico, por entender que ele vinha agindo de forma reiterada contra as pacientes. O pedido foi aceito pela Justiça e Barbosa foi detido em 17 de junho na Praia do Cassino, em Rio Grande. O réu permanece preso, após o Tribunal de Justiça negar pedido de habeas corpus.
Audiências seguem
Além dos dois processos que tiveram audiência realizada nesta quarta-feira, o réu responde a uma terceira ação, movida após outra denúncia, apresentada em 18 de junho. Nela, é acusado pela promotora Luana Rocha Ribeiro dos crimes de violação sexual mediante fraude contra seis vítimas e também de estupro de vulnerável contra uma mulher.
Este último caso teve como vítima uma mulher com 37 semanas de gestação. A jovem de 20 anos, em início de trabalho de parto, ao procurar o Hospital de Caridade de Canguçu, acabou atendida pelo médico, que estava no plantão. Naquele momento, o ginecologista teria forjado realizar um exame para abusar da paciente. Ainda em outubro, estão marcadas mais duas audiências referentes à terceira ação.
O Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) apura a conduta do médico em sindicância.
Contraponto
O que diz a defesa de Cairo Roberto de Ávila Barbosa
Quando foi ouvido na Polícia Civil em relação aos quatro primeiros casos, o médico negou ter cometido os crimes. Já em relação aos últimos fatos narrados pelas mulheres, preferiu permanecer em silêncio. O advogado Gustavo Goularte, um dos responsáveis pela defesa do ginecologista, afirma que só se manifesta nos autos do processo.
Em maio, antes da prisão do médico, a defesa havia encaminhado nota na qual sustentava que "não existe prova da ocorrência". "Os fatos são inexistentes. Uma das exigências do doutor Cairo é que o processo tramite o mais rápido possível para que a verdade se estabeleça."