Apesar de o corpo de Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, não ter sido encontrado até o momento, nova perícia leva a polícia a concluir que o garoto foi mesmo transportado em uma mala e depois arremessado nas águas do Rio Tramandaí, em Imbé, no Litoral Norte. A mãe da criança, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, e a madrasta, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, respondem pelo crime na Justiça. Na sacola de viagem, a perícia encontrou material genético compatível com o do menino.
Para o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, responsável pela investigação, essa é mais uma evidência de que o menino foi mesmo morto e depois levado até as margens do rio, para ser jogado nas águas. No dia 29 de julho, a mãe confessou ter espancado o filho, dopado com medicamentos e depois se desfeito do corpo. No entanto, posteriormente, a defesa alegou que Yasmin é inocente. Em depoimento, a madrasta afirmou que foi a companheira quem cometeu o crime.
A polícia já tinha obtido imagens de câmeras de segurança que mostram as duas caminhando na madrugada do dia 29 de julho. Nos vídeos (veja abaixo), a mãe carrega a mala, onde a polícia acredita que estava o corpo do menino.
Em outra imagem, cerca de uma hora depois, as duas retornam, abraçadas, e sem a mala. Neste meio tempo, a polícia acredita que elas foram até o rio, jogaram o corpo, e depois deixaram a sacola de viagem em uma lixeira, onde foi apreendida.
O laudo, recebido na última sexta-feira (10) pela polícia, aponta que o material biológico (mistura de DNA) presente na região interna da bolsa coincide com o mesmo perfil de sangue humano detectado em uma camiseta infantil. A peça de roupa, com machas de sangue, havia sido apreendida na pousada onde o menino vivia com a mãe e a madrasta, em Imbé. Ainda segundo laudo anterior, o sangue encontrado na camiseta é compatível com o perfil genético de um filho de Yasmin — ela era mãe somente de Miguel.
— A vítima foi efetivamente transportada no interior da mala em questão — afirma o delegado.
Um dos pontos que chamou a atenção da polícia é o tamanho da mala. No entanto, conforme o depoimento das duas, e imagens obtidas pela polícia nos aparelhos de celulares de ambas, o menino estava subnutrido. O IGP informou que a bolsa vai passar por perícia na Divisão de Engenharia para apurar se uma criança do porte de Miguel caberia na mala.
Segundo a apuração, a criança era constantemente castigada e privada de se alimentar. O menino era mantido, conforme a investigação, trancado em um armário ou numa peça aos fundos do banheiro. Além disso, a madrasta afirmou em depoimento que Yasmin teria quebrado os membros do garoto para colocá-lo na mala.
Yasmin e Bruna foram denunciadas pelo Ministério Público pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e tortura. Para a acusação, o crime foi cometido porque Miguel era visto como um empecilho para o relacionamento das duas.
A mãe segue presa e responde ao processo, enquanto Bruna, embora ainda detida, passa por perícia psiquiátrica. A Justiça aguarda o resultado da análise para decidir o curso do processo em relação à madrasta.
Os bombeiros do Litoral Norte seguiam em buscas pelo corpo do menino até a última sexta. Logo após o crime, as equipes também vasculharam terrenos baldios e outros pontos onde o corpo pudesse ter sido escondido.
As equipes continuaram vasculhando a orla da praia diariamente, embora, neste momento, a maior probabilidade seja de que o corpo já tenha se afastado do litoral gaúcho. O delegado afirmou, nesta segunda-feira, que não há mais "razões técnicas" para manter a operação e que já manteve contato com o Corpo de Bombeiros sobre o assunto.
A vítima
Em agosto, GZH mostrou em reportagem especial como vivia o garoto em Paraí, na Serra, município de onde era natural. Até o início do ano, a criança morava com a avó materna, antes de se mudar com a mãe e a madrasta. Miguel é lembrado pelos vizinhos e professores como um garoto alegre, inteligente e amoroso.
Um dos pontos que chamou a atenção de quem convivia com o menino, antes o crime, foram fotos nas quais ele aparece magro, com olheiras e abatido. Para a polícia, essa mudança repentina na aparência seria resultado das torturas físicas e psicológicas.
Contrapontos
O que diz a defesa de Yasmin
O advogado Jean Severo, um dos responsáveis por representar a mãe do menino no processo, afirma que ela se declara inocente, tendo sido coagida a confessar o crime (a polícia nega coação), e que só apresentará a versão do que aconteceu em juízo.
O que diz a defesa de Bruna
GZH entrou em contato com a advogada Helena Von Wurmb, que atua em nome de Bruna, e aguarda retorno. Em manifestação anterior, a defesa havia afirmado que "quanto às provas produzidas até o presente momento fica claro que nenhuma serve a comprovar nenhum envolvimento da Bruna no homicídio do Miguel. Assim, como elas afirmam, reafirmamos, a Bruna não teve nenhum envolvimento na morte do menino". A nota era assinada também pela advogada Fernanda Ferreira.