A Polícia Civil conseguiu localizar imagens de câmeras de segurança que ajudam a mostrar o trajeto feito pela mãe e pela madrasta do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, desaparecido em Imbé, no Litoral Norte. Os vídeos gravados no início da madrugada do dia 29 de julho mostram Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, e Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, caminhando na área central da cidade. A mãe aparece transportando a mala onde estaria o corpo do filho.
Uma das imagens foi captada à 1h03min, na Avenida Osório. Nela, Yasmin e Bruna passam caminhando, as duas usam moletom com capuz. Yasmin carrega com o braço esquerdo a mala, onde estaria o corpo da criança. No mesmo ponto, à 1h58min, as duas aparecem retornando, de braços dados. Segundo a investigação, nesses 55 minutos elas teriam percorrido o trajeto até as margens do Rio Tramandaí. Lá o cadáver do menino teria sido arremessado nas águas.
— A Polícia Civil realizou o trajeto com a madrasta (no dia seguinte à confissão da mãe). E as imagens das câmeras confirmam que o casal fez esse trajeto para levar o corpo da vítima até as margens do Rio Tramandaí. Essas versões apresentadas pelas indiciadas, agora já denunciadas, foram confirmadas pelas provas colhidas no inquérito policial — afirma o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, que conduz a investigação do caso.
A apuração ainda conseguiu localizar pelo menos outros quatro pontos onde foram obtidas imagens de câmeras no trajeto de cerca de dois quilômetros entre a pousada e o rio. Em todos eles, Yasmin é quem aparece transportando a mala. O delegado diz que a obtenção dos vídeos enfrentou alguns obstáculos, como casos de moradores que só possuem imóveis de veraneio, e residem em outras cidades, e até de pessoas que se recusaram a ceder as imagens.
Um dos pontos que chamou a atenção foi o tamanho da mala usada. Segundo o depoimento de Bruna, para que o menino coubesse na mala, Yasmin teria quebrado braços e pernas da criança. Este, inclusive, é um dos pontos citados na denúncia encaminhada ao Judiciário pelo MP. No depoimento à polícia, a madrasta disse também que o menino estava muito magro, subnutrido.
Yasmin e Bruna foram denunciadas pelo Ministério Público pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tortura e ocultação de cadáver. Yasmin está detida na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, e Bruna está internada no Instituto Psiquiátrico Forense. Embora, segundo a polícia, Yasmin tenha confessado o crime, atualmente a defesa diz que ela se declara inocente.
Em depoimento, Bruna relatou que no dia 26 de julho Yasmin espancou o filho, batendo a cabeça dele contra um azulejo. Depois disso, o menino teria apresentado alucinações e ficado com o rosto inchado. Nos dias seguintes, a mãe teria administrado fluoxetina para que a criança parasse de gemer de dor. Na madrugada do dia 29 de julho o corpo de Miguel teria sido arremessado no rio.
Nesta mesma madrugada, foram realizadas pesquisas a partir do celular de Yasmin. Nelas, a mãe tenta descobrir se a água do mar é capaz de apagar impressões digitais. Todo esse cenário leva a polícia e o Ministério Público a entender que o corpo do garoto foi realmente jogado no rio. Os bombeiros do Litoral Norte seguem realizando buscas.
Por que os rostos estão desfocados no vídeo?
As imagens da mãe e da madrasta do menino Miguel foram divulgadas pela Polícia Civil com os rostos das mulheres borrados em respeito à Lei de Abuso de Autoridade, que prevê sanções em caso de exposição da imagem de suspeitos de crimes.
O que diz a defesa de Yasmin
O advogado Jean Severo, que integra a equipe de defesa da mãe do menino, afirmou que já esperava pela denúncia. Yasmin, segundo o advogado, afirma ser inocente. Em manifestações anteriores, a defesa já havia afirmado que a cliente diz que foi coagida para confessar o crime. A Polícia Civil nega as acusações e afirma que ela estava acompanhada de advogado, além de ter o depoimento gravado em vídeo.
“Já era esperado que a denúncia fosse feita nestes moldes com estas imputações vamos fazer a resposta à acusação e Yasmin vai relatar tudo o que aconteceu para o magistrado quando do seu interrogatório. Yasmin se declara inocente.”
O que diz a defesa de Bruna
As advogadas Fernanda Ferreira e Helena Von Wurmb encaminharam nota à reportagem nesta terça-feira.
"Quanto às provas produzidas até o presente momento fica claro que nenhuma serve a comprovar nenhum envolvimento da Bruna no homicídio do Miguel. Assim como elas afirmam, reafirmamos, a Bruna não teve nenhum envolvimento na morte do menino. Seguimos aguardando o resultado da perícia médica da Bruna para maiores posicionamentos, visto que até o momento ela se encontra em tratamento e impossibilitada de sair do Instituto Médico Psiquiátrico."