A Polícia Civil pretende encaminhar ao Judiciário neste fim de semana mais uma parte da investigação sobre o desaparecimento de Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, em Imbé, no Litoral Norte. A mãe da criança, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26, confessou no dia 29 de julho ter matado o filho e arremessado seu corpo no Rio Tramandaí. A companheira dela, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, também está presa. Os bombeiros seguem em buscas pelo menino.
Nos últimos dias, a equipe de investigação, coordenada pelo delegado Antônio Carlos Ractz Júnior vem se debruçando em imagens de câmeras de segurança e em dados extraídos dos celulares das duas. Uma primeira parte do inquérito já foi remetida à Justiça no sábado anterior, dia 7. Naquela primeira fase, a polícia apontou que o menino foi assassinado e teve o corpo jogado no rio. Yasmin e Bruna foram indiciadas por homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e tortura.
Agora, a polícia foca nos elementos mais técnicos, na tentativa de reunir provas de como se deu o crime. O delegado está convicto de que a criança foi assassinada, embora o corpo não tenha sido localizado. Uma análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) apontou nesta semana a presença de sangue de Miguel em uma camiseta dele, encontrada no quarto da pousada onde ele vivia com a mãe e a madrasta.
A polícia já obteve durante a análise das câmeras imagens que, segundo o delegado, mostram Yasmin puxando a mala, onde ela diz ter transportado o corpo do filho. Essa mala, que foi encontrada em uma lixeira na frente de uma residência, ainda está sendo periciada pelo IGP.
Outra perícia que deverá ser realizada na sequência é a reconstituição do crime, tecnicamente chamada de reprodução simulada dos fatos. Por meio dela, a polícia espera que fique clara toda a dinâmica do crime. O advogado Jean Severo, que integra a defesa de Yasmin, informou que ela não participará da reprodução e só falará em juízo. Ainda não há data definida para a realização.
Os policiais pretendiam ainda ouvir novamente a madrasta de Miguel, que atualmente está internada no Instituto Psiquiátrico Forense. Até o início desta semana, segundo o delegado, havia concordância da defesa para que ela prestasse o novo depoimento. No entanto, na quarta-feira (11), uma nova equipe assumiu o caso. As advogadas Fernanda Ferreira e Helena Von Wurmb informaram que a cliente só deve se manifestar em juízo e que ainda aguardam informações sobre o quadro de saúde mental de Bruna. Sobre a reconstituição, afirmaram que não se opõem à participação dela, desde que haja concordância da equipe médica.
O Ministério Público analisa a primeira parte do inquérito no momento e tem até o fim da próxima semana para definir se denuncia as duas pelos crimes, se não aceita o indiciamento ou se pede novas diligências sobre o caso.
Perícias
Local do crime – Os peritos estiveram na pousada onde o menino vivia com a mãe e a madrasta na Rua Sapucaia, na área central de Imbé. Neste imóvel, o menino teria sido espancado, dopado com medicamentos e morto. No local, utilizaram luminol, com o qual localizaram vestígios de sangue. Um azulejo, no qual a criança teria batido a cabeça, estava quebrado.
Poço de luz – Os peritos recolheram um fio de cabelo dentro de uma peça atrás do box do banheiro (um poço de luz), onde, segundo a polícia, o garoto era mantido trancado. A peça tinha cerca de um metro quadrado, era escura e fria. O cabelo pertencia a Miguel.
Corrente - Também foi encontrado DNA de Miguel em uma corrente metálica localizada na pousada. A peça estava em uma lixeira no banheiro. A suspeita é de que a mãe e a madrasta teriam o hábito de acorrentar a criança.
Camiseta – Uma camiseta infantil foi recolhida na mesma pousada. Nela, foi encontrado sangue humano. O DNA apontou que a amostra é compatível com a de um filho de Yasmin. O único filho dela era Miguel. Para a polícia, isso comprova que o menino era vítima de agressões.
Mala – Apreendida dentro de uma lixeira, em frente a uma residência, a mala na qual o menino teria sido transportado foi encaminhada para a perícia e ainda passa por análises.
Pousada anterior – Os peritos também foram até a primeira pousada, na Praia de Santa Terezinha, onde o menino, a mãe e a madrasta moraram por cerca de três meses. Neste local, havia sido gravado um vídeo onde o menino aparece dentro de um guarda-roupas, trancado. Dentro do móvel, foram encontrados fios de cabelo e foi constatado forte odor de urina. Havia marcas junto aos puxadores na porta do móvel, que indicam que algo era usado para mantê-lo trancado pelo lado de fora.
Reconstituição – Nesse processo, os peritos devem analisar como se deu a dinâmica do crime. Esta perícia demanda preparação por parte do IGP, que deve responder ao final uma série de questionamentos sobre o caso. Ainda não há data para acontecer.
“É triste, mas continuamos”, diz comandante dos bombeiros
Os bombeiros do Litoral Norte continuam empenhados nas buscas, que além da equipe de Tramandaí, conta com apoio dos pelotões de Torres, Capão da Canoa e Cidreira. Segundo o comandante de Tramandaí e da operação de buscas, tenente Elísio Lucrécio, o mar segue turvo, o que dificulta a visibilidade, mas o vento está um pouco mais fraco nesta sexta-feira (13).
As equipes vêm percorrendo em veículos a beira mar na tentativa de avistar algo com emprego de binóculos. Como a água está muito turva, não é usado drone no momento. A ação conta com apoio tanto dos pescadores que usam redes na praia quanto dos que estão nas embarcações. Todos foram alertados para avisarem caso encontrem algo no mar.
— Ainda não achamos o pequeno. É o 16º dia. É triste, mas continuamos, não paramos. Enquanto acharmos que há possibilidade de encontrá-lo na nossa região, continuaremos fazendo as buscas. Claro que não podemos desacreditar que possa sair em outra região, que não seja o nosso litoral — afirma o bombeiro.
No final de julho de 2019, o corpo de um surfista que havia desaparecido em Imbé foi localizado no litoral de São Paulo – a cerca de 700 quilômetros. Os bombeiros de Santa Catarina também foram informados sobre o caso, com pedido para ficarem atentos. Além do corpo do menino, as equipes buscam por qualquer vestígio que possa levar à localização, como peças de roupas da criança.