Na noite de 29 de julho, os bombeiros foram chamados para fazer buscas no Rio Tramandaí, em Imbé, no Litoral Norte. Pouco tempo antes, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, havia confessado um crime bárbaro. A mulher contou ter espancado o filho Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, dopado o menino, colocado em uma mala e jogado seu corpo nas águas. Desde então, as equipes estão mobilizadas na tentativa de encontrar o garoto. A operação montada há 12 dias não tem prazo para ser encerrada. As buscas atualmente se concentram na beira da praia.
Nesta segunda-feira (9), o soldado Rodrigo Prates, 32 anos, percorreu mais uma vez a orla, na tentativa de avistar algo na areia ou no mar. Partiu de Tramandaí em direção à Balneário Pinhal — como a corrente marítima mudou nos últimos dias, a busca foi estendida também para o Sul. Em Cidreira, na plataforma, usou drone para verificar se não havia algo preso junto aos pilares. O equipamento permite ampliar a área de procura no mar, sobrevoando pontos suspeitos.
— A água está bem turva, mas se tiver algo boiando, é possível visualizar — explica.
No trajeto, o bombeiro também se mantém atento ao que é trazido para a areia. Um dos objetivos é verificar se vestígios, como roupas do menino, não chegaram à praia. Na semana passada, um pescador encontrou no mar junto à guarita 134, em Imbé, um par de chinelos azuis, de tamanho 33-34. A polícia acredita que o calçado pode ser do menino e pretende submetê-lo ao reconhecimento da madrasta, que está detida no Instituto Psiquiátrico Forense.
A atenção dos pescadores é um ponto importante das buscas, já que são eles que podem auxiliar os bombeiros, informando caso visualizem algo no mar. Com a maré alta, o mar tem trazido para a areia tanto resíduos quanto animais mortos. No sábado (7), somente no trajeto entre Capão da Canoa e Tramandaí, os bombeiros localizaram mais de 10 pinguins sem vida.
— O mar está jogando para fora. Esperamos que tenha um desfecho em breve. É bastante complicado. Ontem (domingo) era Dia dos Pais, estava com meu filho o dia todo. Minha esposa também é bombeira. Volta e meia ficamos pensando nisso. É difícil assimilar um caso assim, com uma criança — afirma o bombeiro, pai de um menino de dois anos e três meses.
Comandante dos bombeiros de Tramandaí, o tenente Elísio Lucrécio explica que o foco no momento deve se manter justamente nessa varredura pela orla. A principal suspeita é de que o corpo tenha sido arrastado do Rio Tramandaí para o mar — havia forte correnteza na semana passada. No rio, os bombeiros empregaram embarcações e mergulhadores, verificando os pontos onde o cadáver poderia estar trancado, sem sucesso. Para ampliar as buscas no mar, a Marinha foi comunicada sobre o caso e emitiu alerta aos navegantes.
— Mantemos as buscas pela orla, sem prazo para acabar. Continuamos em contato com a polícia, e, caso surja alguma nova informação, podemos mudar o planejamento — garante o tenente.
Próximos passos
O delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, que investiga o caso, acredita que a versão apresentada pela mãe, de que arremessou o corpo no rio, seja verdadeira. Ainda assim, na semana passada, foram realizadas buscas por terra, em pontos como terrenos baldios e bueiros, inclusive com cães farejadores.
A madrasta do menino, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23 anos, que também está detida pela morte da criança, confirma esse relato. Ela alega que Yasmin colocou o menino dentro de uma mala e transportou até as margens do rio, onde arremessou o corpo nas águas.
— As provas que localizamos até agora confirmam esse relato — afirma o delegado.
Bruna deve ser ouvida novamente nos próximos dias para detalhar alguns outros pontos. Embora negue ter matado o enteado, ela admitiu ter presenciado as agressões ao menino, que teriam resultado na morte dele. A defesa de Yasmin informou que ela só voltará a prestar esclarecimentos à Justiça.
A polícia pretende encaminhar até o fim desta semana uma segunda parte do inquérito — no sábado, as duas foram indiciadas pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, tortura e ocultação de cadáver. Os policiais querem ouvir ainda a mãe de Bruna e um ex-namorado de Yasmin que relata ser pai de Miguel — o menino não foi registrado no nome dele.
A investigação analisa no momento o material que foi extraído dos aparelhos celulares da mãe e da madrasta. Um dos objetivos é entender quem é o homem que tem nome citado em mensagens trocadas entre as duas. Em uma das conversas, Bruna afirma que esse homem teria dito para que Yasmin prendesse o menino com mais força da próxima vez. Em depoimento, ela alegou que se trata de uma “voz imaginária”. Até o momento, nenhuma pessoa de mesmo nome foi identificada entre as relações das duas.
A equipe de investigação analisa também imagens obtidas em estabelecimentos e residências, no trajeto entre a pousada onde o menino vivia na área central e o rio. O delegado diz que a polícia encontra resistência de alguns moradores, que têm se recusado a fornecer os vídeos capturados pelas câmeras.
— Queremos traçar o trajeto feito por ela, ponto a ponto, com base em imagens — explica.
Contrapontos
O que diz a defesa de Yasmin
Uma nova equipe assumiu a defesa de Yasmin na quarta-feira (4). O advogado Jean Severo, que passou a atuar no caso, afirma que na sexta-feira esteve em contato com a cliente e que ela nega ter cometido o crime.
— Ela se declara inocente. Que ela foi coagida na delegacia a falar aquilo. Ela não vai participar de nenhuma simulação do caso (reprodução simulada dos fatos) e de nenhum outro interrogatório. Ela só vai falar o que realmente aconteceu na frente do magistrado.
O que diz a defesa de Bruna
Os advogados Josiane Silvano e Luiz Paulo Cardoso enviaram nota na qual informam que Bruna permanece no Instituto Psiquiátrico Forense e que “a defesa recebe com naturalidade a conclusão da autoridade policial pelo indiciamento das suspeitas, sobretudo por tratar-se de ato formal e necessário ao devido processo legal”.
Atendendo à Vossa solicitação, a defesa técnica da Acusada Bruna informa que a mesma permanece no Instituto Psiquiátrico Forense aguardando a realização da perícia/avaliação médica/psiquiátrica. Outrossim, a defesa recebe com naturalidade a conclusão da autoridade policial pelo indiciamento das suspeitas, sobretudo por tratar-se de ato formal e necessário ao devido processo legal.