Uma operação com cerca de 200 policiais foi desencadeada nesta quinta-feira (26) para prender 16 integrantes de uma facção que tem base no sul do Estado. A organização criminosa já havia sido investigada e desarticulada em 2017, por roubos em áreas rurais, mas voltou a agir. Até 10h, 12 suspeitos haviam sido presos.
Segundo a polícia, o grupo segue realizando furtos e roubos em fazendas e sítios — foram 28, em 15 municípios da região, nos últimos nove meses —, mas agora também age como milícia, ao montar uma empresa de vigilância clandestina. Logo após os crimes, eles ofereciam às vítimas serviços de segurança privada, e quem não aceitava era coagido ou assaltado novamente.
A operação foi chamada de "Farroupilha", pelo fato de a apuração ter começado após um roubo a fazenda na cidade de Piratini, que foi a primeira capital farroupilha. A ação ocorre em seis municípios da região: Pelotas (base da facção, que atua na cidade há pelo menos oito anos), Rio Grande, Piratini, Morro Redondo, Santana da Boa Vista e em Capão do Leão (sede da empresa de vigilância).
Além dos 16 mandados de prisão, há ainda 46 de busca e apreensão sendo cumpridos. Os nomes dos alvos não foram divulgados.
Grupo violento
De acordo com o delegado André Mendes, titular da Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato (Decrab) de Bagé, a facção já havia migrado parte das ações para crimes rurais, em 2017, com o objetivo de capitalizar o tráfico de drogas. O grupo foi responsável por roubos de gado, em residências e de defensivos agrícolas, sempre agindo de forma violenta.
Vários integrantes foram presos à época, na chamada "Operação Castelo". Com o tempo, eles foram soltos e, há dois anos, em agosto de 2019, alguns voltaram a agir durante tentativa de roubo de uma caminhonete em Pelotas.
Na ocasião, a policial civil Cristina Gonçalves Lucas, que estava saindo da cidade com a família em férias, foi baleada e acabou morrendo. Três homens foram condenados pelo crime no ano passado — o delegado destaca que o objetivo deles era roubar a caminhonete para usá-la nos roubos a propriedades rurais.
Depois disso, a partir de dezembro de 2020, vários roubos começaram a ser registrados em 15 municípios, como Piratini, Pelotas, Santa Vitória do Palmar, Herval, Arroio Grande, Santana da Boa Vista, Pinheiro Machado, entre outros. Foram 18 roubos e 10 furtos.
— Todos os crimes praticados com muita violência, inclusive com famílias sendo submetidas a cárcere privado, trancadas em peças das residências após os assaltos — explica Mendes.
Empresa de vigilância
Os integrantes da facção saíam de Pelotas para ir, por exemplo, até Herval — cerca de 145 quilômetros de distância — para furtar apenas panelas de uma fazenda. Contudo, Mendes descobriu que o objetivo real era outro, ao comprovar que os investigados haviam montado uma empresa de vigilância clandestina.
A Nova Fronteira Vigilância e Monitoramento tem sede em Capão do Leão e teve a interdição solicitada pela polícia. Conforme o inquérito instaurado, a mesma facção que realizava os roubos depois oferecia o serviço de monitoramento às vítimas. Os responsáveis pelo estabelecimento teriam coagido, ameaçado e até mesmo assaltado novamente quem não aceitou o monitoramento.
— Isso é milícia, temos provas suficientes. A empresa batia de porta em porta para oferecer segurança, muitas vezes, logo depois dos roubos que os próprios comparsas realizaram. Contudo, anunciavam nas redes sociais e, um dos integrantes que aparecia no perfil, por exemplo, é um dos presos — ressalta Mendes.
GZH tentou contato com a empresa na manhã desta quinta-feira, mas ainda não obteve retorno por meio dos telefones disponíveis no anúncio em uma rede social.
Outras investigações
Mendes diz que esse tipo de situação preocupa a Polícia Civil. Se antes traficantes estavam assaltando propriedades rurais para capitalizar a venda de drogas, agora estão também agindo como milícias ao aterrorizar proprietários rurais da Região Sul. Além dos roubos de eletrodomésticos, carros, celulares, dinheiro, armas e defensivos agrícolas, bem como gado em algumas ocasiões, a facção oferece posteriormente o serviço de vigilância privada.
Casos semelhantes já ocorreram neste mês em cidades como Cacequi, na Região Central. No último dia 16, seis pessoas foram detidas por abigeato e roubos de defensivos agrícolas e por oferecer, após os crimes, serviço de vigilância semelhante ao da empresa de Capão do Leão.
O delegado diz que, apesar de ter a mesma forma de atuação, os investigados fazem parte de outra facção criminosa. Muitas das ordens para os ataques também são dadas de dentro das cadeias.
Também neste mês, houve uma ação em Cruz Alta, no Noroeste. Sete homens encapuzados fizeram uma família refém em uma fazenda e roubaram o local, que também tem serviço de vigilância. Neste caso, ainda não se sabe se a empresa tem algum vínculo com facção.
Ordens judiciais
Segundo a Decrab de Bagé, as prisões desta quinta-feira ocorreram em Pelotas e em Capão do Leão. Os mandados de busca foram em Pelotas, Capão do Leão, Rio Grande, Santana da Boa Vista, Morro Redondo e Piratini.