Amigos e parentes fizeram um protesto na noite desta quarta-feira (25) em Torres, no Litoral Norte, pedindo justiça após a morte do policial rodoviário federal aposentado Fábio Zortea, 59 anos, durante uma ação da Brigada Militar (BM). Cerca de 30 pessoas participaram do ato, que teve início por volta das 19h30min na Rua Borges de Medeiros, no centro da cidade, onde a família Zortea mora há 34 anos.
Os manifestantes seguraram flores e cartazes com pedidos de justiça. O grupo permaneceu em silêncio na maior parte do ato, como forma de demonstrar respeito ao policial. Eles também acenderam velas, bateram palmas e soltaram balões brancos em homenagem a Zortea. Para se proteger da chuva, algumas pessoas ficaram embaixo de marquises.
A comerciante Lígia Soares, 50, foi ao ato com a irmã e o cunhado. Amiga do policial aposentado há décadas, ela conta que a comunidade se reuniu após a morte dele. Em um grupo de WhatsApp, mais de 300 pessoas participam da organização de atos em repúdio à conduta dos policiais militares que atiraram contra Zortea e seu filho Fábio Augusto.
— Isso que aconteceu é inadmissível com qualquer ser humano, mais ainda com ele. É inacreditável. Ele era uma pessoa querida por todos, foi colega dos meus irmãos na escola. Era atuante na comunidade, pelo meio ambiente. Na semana passada a gente conversou, ele estava passeando com os cachorrinhos em frente à minha loja. Não dá para acreditar — lamenta.
O funcionário público aposentado José Nilton Teixeira, 60, é vizinho da família Zortea e também foi ao ato nesta noite. Ele conta que chegou a ouvir os disparos de arma de fogo na madrugada da última segunda-feira (23).
— Só não imaginava que era contra alguém tão próximo da gente. A cidade está chocada. Ele era uma pessoa do bem, muito conhecida, é inadmissível tamanha brutalidade — afirma Teixeira, que foi à manifestação com a filha.
Investigação
A ação policial que culminou na morte do policial rodoviário federal aposentado segue sob investigação da Polícia Civil. Nesta quarta-feira, o delegado Juliano Aguiar, responsável pelo caso, afirmou em nota que testemunhas dos fatos estão sendo inquiridas. Segundo ele, foram ouvidas a filha da vítima, a mulher que filmou a ação e uma funcionária do hospital local. Mais pessoas iriam prestar depoimento ainda nesta quarta-feira.
"Ainda, foram requisitados os assentos funcionais dos policiais envolvidos na ocorrência, a gravação do chamado que originou a abordagem policial, as informações da SAMU sobre o atendimento da ocorrência, as demais filmagens do local e proximidades, da chegada dos envolvidos no Hospital, e o Laudo do DML em caráter de urgência", diz o comunicado.
O caso ocorreu na madrugada de segunda-feira, em Torres, durante desentendimento ocorrido na abordagem realizada por dois policiais militares aos filhos de Zortea. O policial rodoviário morreu ao tentar intervir no confronto.
Na versão da BM, quando a equipe chegou ao local, Fábio Augusto e Luca, filhos de Zortea, teriam se negado a cumprir a ordem de parada e revista, passando a agredir um dos policiais. Os irmãos também teriam imobilizado e tentado tirar a arma de um dos PMs. Ao perceber a briga, Zortea foi até o local, onde acabou sendo baleado e morto.
A defesa dos irmãos alega, no entanto, que eles não estavam causando confusão na rua. Além disso, o proprietário do estabelecimento afirmou, na terça-feira (24), que os responsáveis pela perturbação não eram os filhos do policial morto.
Detidos desde a madrugada de segunda, os filhos de Zortea foram soltos na terça-feira, após conseguirem liberdade provisória concedida pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Torres. O pedido havia sido ajuizado pela defesa da família na noite anterior.
Com a medida, Luca, que estava detido na delegacia de Torres, conseguiu acompanhar o velório do pai. O irmão dele foi baleado em uma das pernas e segue internado no hospital Nossa Senhora dos Navegantes.
Os dois policiais que atenderam à ocorrência inicialmente integram a equipe do 2º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (2º BPAT). Eles foram afastados de suas atividades ainda na segunda e "serão atendidos pelo serviço psicossocial prestado pelo Comando Regional, em Osório", informou a corporação. O afastamento é procedimento padrão, segundo a BM, e ocorre para que a atuação dos brigadianos seja apurada.
Há ainda outros três PMs que chegaram depois ao local para dar apoio à guarnição. Eles também foram afastados e são investigados no inquérito. São dois soldados e um sargento. A BM não divulgou a identidade dos PMs envolvidos no caso.
Leia a íntegra da nota enviada pela Polícia Civil:
"A Polícia Civil de Torres segue no intenso trabalho de apuração das circunstâncias da morte do Policial Rodoviário Federal Fábio Cesar Zortéa. Estão sendo inquiridas testemunhas dos fatos, notadamente já tendo prestado a filha da vítima, a mulher que filmou a ação, e uma funcionária do hospital local. Estas testemunhas referiram outras presenciais que serão inquiridas nas próximas horas. Ainda, foram requisitados os assentos funcionais dos policiais envolvidos na ocorrência, a gravação do chamado que originou a abordagem policial, as informações da SAMU sobre o atendimento da ocorrência, as demais filmagens do local e proximidades, da chegada dos envolvidos no Hospital, e o Laudo do DML em caráter de urgência.