A avó de Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, entrou com pedido para assumir a guarda dele um mês e 20 dias antes de sua filha, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, mãe do garoto, relatar à Polícia Civil que espancou, dopou e atirou a criança no Rio Tramandaí, em Imbé, no Litoral Norte. As informações são da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, que recebeu o pedido da avó no dia 8 de junho de 2021 — o crime, segundo o depoimento da autora confessa, teria ocorrido na noite de 28 de julho.
A avó, Valquíria Santos, procurou a unidade de Casca da Defensoria para saber como proceder com o pedido de guarda consensual da criança. A família é de Paraí, na Serra, município vizinho. De acordo com o órgão, no primeiro atendimento foram repassadas as informações e a lista de documentos necessários para comprovar que ela não havia condições de pagar um advogado e receber a assistência gratuita.
Um mês depois, em 8 de julho, a mãe do garoto encaminhou, por e-mail, na Defensoria Pública de Tramandaí, parte da documentação que havia sido solicitada. Na ocasião, foi informada de que eram necessários outros documentos para dar andamento ao processo, como comprovante de residência e de renda.
No dia 13 de julho, ela encaminhou o documento de comprovante de residência e recebeu a informação que ainda faltavam documentos para comprovar renda, bem como carteira de trabalho. Depois, em 21 de julho, a mulher enviou o comprovante de renda.
Por fim, segundo a defensoria, em 28 de julho, a mãe encaminhou a carteira de trabalho. A data do envio do último documento coincide com a data que, segundo a confissão, Yasmin dopou Miguel e o jogou no rio.
A Defensoria Pública ajuizou a ação na Justiça em 29 de julho — dia que, de acordo com a polícia, Miguel já estaria morto. Em nota, o órgão argumenta que era necessária a documentação para dar andamento no processo: "A instituição ressalta que a documentação completa é obrigatória para garantir acesso à justiça gratuita aos assistidos".
Depoimento da avó
No sábado (31), GZH revelou que o menino pediu pressa a avó quando soube do processo de troca de sua guarda.
"Não demora muito", consta do depoimento como frase atribuída a Miguel pela própria avó. Para a investigação, a frase soava como um pedido de socorro do garoto, que já vinha sendo torturado e agredido.
Na conversa com a polícia, a avó também se mostra incrédula com o desfecho da relação da filha com o neto. "Sempre se mostrou uma mãe zelosa e afetiva, e ficou surpresa quando recebeu a informação", consta no documento.
Por outro lado, confirma que a situação já era complicada: "Yasmin pediu para ela buscar o neto porque estava impossível e não obedecia, sendo que a depoente (avó) disse para ter paciência".
A avó foi ouvida na condição de testemunha. O delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, lamenta o fato de o restante da família não notar que o garoto sofria maus-tratos:
— Como ninguém percebeu?
O delegado prossegue:
— A mãe tinha formalizado na Defensoria Pública de Tramandaí a entrega da guarda para a mãe dela (avó). Eu conversei com a avó, que disse estar aguardando entraves burocráticos, o que nos causou espanto. Se tivesse preocupada com neto, poderia ter buscado. Acredito que teve omissão da família — diz.
A reportagem tentou, nesta segunda-feira (2), contato com a avó, mas o celular estava desligado. Também a procurou em redes sociais e não obteve resposta.
O crime
A Polícia Civil prendeu em flagrante, por homicídio, a mulher de 26 anos que confessou ter espancado e jogado na água do Rio Tramandaí o filho de sete anos em Imbé. Ela procurou a delegacia para registrar o desaparecimento do menino, mas acabou confessando o crime.
Conforme o delegado, a mulher detalhou como teria acontecido. Ela contou ter dopado a criança com um antidepressivo e, depois, o colocado em uma mala, na madrugada de quinta-feira. Em seguida, teria saído com a companheira da casa onde moravam, na área central de Imbé.
— Era uma mala de rodinhas. Ela saiu puxando e foi até o Rio Tramandaí, onde diz que retirou o corpo do menino e jogou na água. Ela não sabe se ele estava morto quando jogou. Nesse tempo todo de polícia, é uma das coisas mais horrendas que já vi — afirmou o delegado.
Bruna Nathiele Porto da Rosa, companheira de Yasmin, foi presa no último domingo (1º). Ela alega que a mulher fez tudo sozinha e não teve participação, mas para a polícia ela sabia e auxiliou no resultado.
O advogado de Yasmin, Bruno Vasconcellos, informou que só vai se manifestar nos autos do processo.