O nome de um escritório de advocacia de Porto Alegre tem sido usado para prática de golpes no Rio Grande do Sul. Autores de ações judiciais, principalmente contra o Estado, estão recebendo mensagens via WhattsApp sobre valores que teriam a receber na Justiça.
Em um dos casos ao qual GZH teve acesso, os golpistas mandaram um arquivo com o timbre do Banrisul, simulando um comprovante de depósito do valor que o credor teria a receber previsto para o dia seguinte ao contato. Mas para que isso ocorresse, pediram depósito em conta corrente para pagar uma suposta certidão de isenção de impostos, arquivo esse que vem com o timbre do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
Além disso, os golpistas estão enviando por mensagem um card com o logotipo igual ao do escritório de advocacia e números de telefones para que clientes entrem em contato. Os nomes dos advogados do escritório estão sendo usados durante as ligações para tentar passar uma sensação de que a pessoa não está sendo enganada.
Uma das sócias desse escritório, a advogada Carolina Pinheiro Machado Buchabqui, conversou com GZH. Ela disse que há relatos de clientes que fizeram depósitos aos golpistas que chegam R$ 12 mil. A autora de uma ação, com a promessa de que receberia o valor de seu suposto crédito, chegou a fazer empréstimo de R$ 4 mil para transferir aos criminosos.
— Isso começou a ocorrer há um mês, e está aumentando cada vez mais. Alguns clientes acham estranho, entram no nosso site e nos ligam para saber se é verdade. Aí a gente informa que trata-se de um golpe – relata a advogada.
Os números usados pelos golpistas têm DDD 51, que inclui Porto Alegre.
— Em alguns casos, eles dão o número certo do processo e os dados do cliente. E aí pedem para fazer um depósito em conta corrente ou um pix. Vimos uma conta que era do Ceará — diz Carolina, que estima que mais de uma centena de clientes do escritório tenham caído no golpe.
GZH conversou com uma professora que recebeu o contato e não chegou a cair no golpe. Ela disse que achou estranho o fato de ter de fazer um depósito antes de receber o suposto crédito.
— Eles disseram que eu tinha um valor de mais de R$ 70 mil para receber. Mas para que não precisasse pagar um valor alto de impostos, precisaria depositar R$ 2.998,75. Foi então que eu disse que ligaria mais tarde. Aí falei com a minha advogada e ela me disse que era golpe — relata a professora, que teve a identidade preservada.
O escritório Buchabqui e Pinheiro Machado Advogados Associados postou em seu site a informação do golpe, alertando os clientes. Outra medida foi retirar as fotos dos advogados da equipe que estavam publicadas na página. Como prestam assessoria jurídica ao Cpers, muitas das vítimas são professores. O sindicato também postou um alerta de golpe em seu site.
Também foi feito registro de ocorrência na 20a Delegacia da Polícia Civil. O caso, no entanto, foi enviado para a 17a DP. O titular da delegacia, Daniel Ordahi, orienta as pessoas a não fazerem depósito com a promessa de receber dinheiro em hipótese alguma.
— Normalmente, bancos e escritórios de advocacia não fazem esse tipo de pedido de dinheiro. Não fazem contato por telefone, não mandam motoboy para buscar dinheiro, não pedem crédito. Desconfiem. Os golpes estão cada vez mais elaborados. Cada vez mais os golpistas estão de posse de dados das pessoas. Então, se está com alguma dúvida, se for o caso, vai pessoalmente no escritório para ter a certeza — ressalta o delegado.
GZH ligou para o número divulgado pelos golpistas por volta de 15h desta quarta-feira (9) se passando por um cliente. Quem atende é uma pessoa com voz feminina e um pouco rouca. Ela se identifica como secretária do escritório de advocacia e diz que vai passar a ligação para o setor jurídico.
Segundos depois, quem atende é uma pessoa com voz masculina, se identificando como um dos sócios do escritório, inclusive dando o nome certo. Ele diz que a ligação está ruim e que vai entrar em contato mais tarde, mas acaba não retornando. A reportagem, então, volta a ligar por volta das 18h e as ligações não completaram.
O Banrisul disse que não vai se manifestar. O presidente do Conselho de Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, disse que "o uso do timbre do Poder Judiciário é uma prática por si só criminosa, já que seu uso deve ser restrito a documentos oficiais, não havendo o que se fazer para evitar a grosseira falsificação. Infelizmente, os falsários se valem da ingenuidade e boa fé das pessoas, que devem ser mais cuidadosas em ações desta natureza, sempre consultando diretamente seu advogado, principalmente porque o Judiciário jamais utiliza meios similares ao adotado para efetuar qualquer tipo de cobrança".