O olhar congelado do homem para o túmulo da filha, com os olhos vermelhos de cansaço e choro, mãos na cintura e postura de quem tentava não desabar apesar de estar no pior momento de sua vida era perturbador durante o velório das cinco vítimas da chacina de Saudades, oeste de Santa Catarina. Pai de Sarah Luiza Mahle Sehn, assassinada com apenas um ano e oito meses, Evandro Sehn, 35 anos, tentava assimilar o que ocorreu na manhã de 4 de maio.
— Caiu o mundo — repetia incrédulo o homem, na manhã desta quarta-feira (5).
O pai, que é motorista de van escolar, contou à reportagem de GZH que soube do ataque por amigos, mas nenhum deles havia informado o estado da filha. Foi quando decidiu ir pessoalmente até o local, ainda na manhã de terça. Evandro acabou confirmando que a filha estava morta após ele mesmo entrar na escolinha Aquarela, que já conhecia.
— Eu corri atrás dela, ninguém me deu resposta. Fui até o hospital, voltei e na verdade invadi a Aquarela. Fui lá ver, tinha que tirar essa dúvida. Vim a mil por hora. Infelizmente, não deu tempo, ela estava morta — lamentou.
A cena mais marcante ao ver a filha, reconhece ele, foi quando identificou o penteado que havia sido feito antes de ela ir para escola:
— Vi o cabelinho dela, as duas chuquinhas que foram feitas de manhã no cabelinho.
Sarah Luiza era a única filha dele e da esposa. Eles planejavam ter filhos há muito tempo, e acompanhavam o crescimento dela com orgulho.
Ela havia começado na creche há cerca de um mês. Os pais precisavam trabalhar e, por isso, deixavam a menina na escolinha pela manhã. Ao meio-dia, o pai a buscava para que ela ficasse na casa de uma das avós.
Extremamente abalado, Evandro decidiu não prolongar a conversa com a reportagem, que durou menos de três minutos. Os outros familiares próximos também preferiram não falar.
– A memória que fica é de uma menina esperta, feliz, educada. Vai ficar os vídeos, as fotos que tiramos com ela. Levou uma parte de nós junto. Podemos aproveitar só um pouco dela – finaliza.