O município de Saudades, no oeste catarinense, amanheceu em luto nesta quarta-feira (5). Faixas pretas estendidas em frente a estabelecimentos comerciais deixam claro que a tragédia ocorrida na escola Aquarela vai além das famílias das cinco vítimas - três bebês, uma professora e uma agente de ensino. A dor é coletiva para a cidade de pouco mais de 9 mil habitantes.
Pelo alto impacto na comunidade, um velório coletivo começou no momento em que os corpos chegaram do Instituto Médico Legal, por volta das 3h30min desta quarta, no Ginásio Municipal de Saudades. Uma missa ocorreu às 9h, e as vítimas foram sepultadas por volta de 11h.
Tomado de pessoas, o amplo ginásio abrigou os três pequenos caixões dos bebês e, ao lado, o da professora e o da agente educacional. Moradores passavam para prestar sua homenagem, alguns escreviam mensagens em um cartaz colocado do lado de fora.
Em um dos momentos de maior emoção da cerimônia, celebrada pelo bispo Odelir José Magri, os músicos tocaram "Aquarela", de Vinicius de Moraes. A música tem o mesmo nome da creche onde o crime ocorreu. No palco, professoras cantavam a letra que fala sobre sonhos de infância, enquanto se abraçavam.
A celebração terminou quando, a pé, a multidão deixou o ginásio municipal e seguiu até o cemitério, poucas quadras distante. Um caminhão do Corpo de Bombeiros ia à frente, enquanto atrás familiares levavam coroas de flores. A família da professora Keli Adriane Aniecevski, 30 anos, levava um cartaz com a frase "você não precisou de uma capa para ser uma heroína".
No cemitério, após um pai-nosso entoado em voz alta, os corpos foram enterrados sob aplausos. A maioria das pessoas deixou o local em seguida, enquanto os parentes mais próximos seguiam incrédulos olhando para os túmulos.
Homenagens na escola
Em frente à escola infantil Aquarela, palco da chacina, a todo o momento moradores deixam homenagens às vítimas. Os cartazes são colocados ao lado de um banner instalado antes do crime pela prefeitura, em lembrança ao Dia das Mães.
Uma das mensagens chama as vítimas de “anjos” e a mulheres mortas de “heroínas”, por terem conseguido evitar uma tragédia ainda maior. Fotos dos bebês e da duas adultas foram impressos e colocados no portão.
Uma das pessoas que deixava uma homenagem nesta manhã era Glaucia dos Reis, 37 anos. Ela conhecia as famílias dos três bebês e era colega de trabalho dos pais das funcionárias em uma fábrica de móveis.
- Saudades é uma cidadezinha maravilhosa de se morar. Trouxe duas velas: uma pedindo luz para as famílias, e outra paz para o município - lembrou.
Ela ainda recorda que a escola é o primeiro local de encontro das crianças.
- A emoção toma conta da gente. Eram inocentes, não conseguimos imaginar isso - lamentou.
A maioria dos estabelecimentos comerciais sequer abriu nesta quarta.
O governo de Santa Catarina enviou 20 psicólogos para atender familiares e moradores. Após chegar de helicóptero, a governadora em exercício Daniela Reinehr falou à imprensa que tentará aumentar a segurança nas escolas:
- Diante da grandes dificuldades que encontramos em tragédias é que tiramos aprendizados. Essa questão da segurança das escolas, monitoramento e controle de quem entra e sai é preciso. Vai ter que ter portaria e cuidado como têm em edifícios hoje.
Quem são as vítimas
O ataque com um facão cometido por um jovem de 18 anos matou Sarah Luiza Mahle Sehn, 1 ano e 7 meses, Anna Bela Fernandes de Barros, 1 ano e 8 meses, Murilo Massing, 1 ano e 9 meses, Mirla Amanda Renner Costa, 20 anos, e Keli Adriane Aniecevski, 30.
O autor do crime, Fabiano Kiper Mai, atentou contra a própria vida e está hospitalizado. Ele foi transferido do hospital de Pinhalzinho, cidade vizinha, por risco de invasão.
Um bebê também atacado pelo criminoso passou por cirurgia e se recupera bem, segundo o pai.
Polícia trabalha com várias hipóteses para descobrir a motivação da chacina
No final da tarde de terça-feira (4), autoridades da segurança pública de Santa Catarina e da prefeitura da cidade de Saudades atualizaram informações sobre o ataque de Fabiano Kipper Mai. O delegado Jerônimo Marçal Ferreira, que está investigando o caso, diz que a polícia trabalha com várias hipóteses para a motivação do crime, analisando a vida pregressa do jovem e suas relações afetivas.
O promotor que acompanha o trabalho da polícia, Douglas Dellazari, confirmou que o Ministério Público solicitou a prisão do assassino, bem como a quebra de sigilo de seu computador. A Justiça não havia respondido a solicitação até o fechamento desta reportagem.