Os indicadores de criminalidade divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostraram que, em abril, os crimes de estelionato no Estado aumentaram 51,79% em comparação ao mesmo período de 2020. Ao todo, 6.354 pessoas afirmam terem sido vítimas, enquanto que no mesmo mês do ano passado esse número era de 4.186. Em Porto Alegre, os dados demonstram que, no mês de abril, 1.322 pessoas foram vítimas de algum tipo de golpe, acréscimo de 41,08% em relação ao registrado no mesmo período de 2020.
O golpe da conta de WhatsApp duplicada
Uma abordagem que tem sido cada vez mais aplicada pelos golpistas é a utilização de fotos de redes sociais para a criação de contas falsas no WhatsApp. No dia 27 de abril, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, o assessor parlamentar William Natan Machado Alves, 21 anos, se surpreendeu quando recebeu a ligação da mãe perguntando porque ele estava pedindo R$ 1,3 mil pelo WhatsApp, durante uma tarde de trabalho:
— Eu estranhei porque eu não tinha falado com ela ainda naquele dia. Foi quando ela me disse que eu tinha mandado mensagem pelo WhatsApp. Me encaminhou o print e vimos que era golpe. O golpista pegou uma foto minha do Instagram, pegou meu nome e fez um outro WhatsApp, utilizando meus dados. Ele clonou minha agenda de contatos e mandou mensagem para a minha mãe — conta o jovem.
William acredita que a ligação da mãe para confirmar o pedido foi primordial para que a transação não fosse realizada:
— Minha mãe estava quase fazendo o Pix, sorte que me ligou antes.
Assim que identificou a estratégia dos golpistas, o jovem fez um boletim de ocorrência. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
— A pessoa mandou alguns dados para a minha mãe dizendo que o aplicativo do banco, no telefone, estava estragado. Ela teria de transferir para um suposto amigo meu. A polícia tentou localizar o titular da conta e apareceu uma pessoa do Paraná. Mas o número utilizado tem o DDD 51, o que mostra que é do Rio Grande do Sul. Fiz a denúncia, avisei nas redes sociais que meu WhatsApp havia sido clonado e que eles pediriam dinheiro. Eu salvei no meu telefone o número do golpista e quando eu vi já estava outra foto e outro nome. Até hoje eu monitoro e constantemente muda o nome e a foto do perfil.
O assessor parlamentar seguiu justamente uma das recomendações dos profissionais em segurança virtual. De acordo Augusto Pannebecker Fernandes, especialista em Segurança da Informação e professor da Faculdade Senac, em Porto Alegre, a desconfiança e o cuidado ao compartilhar informações na internet são os maiores aliados para não se tornar vítima desse tipo de golpe.
— Mesmo que algum contato seu lhe peça transferência de valores, só faça depois de se assegurar que foi mesmo seu contato que pediu esse valor, ligue para a pessoa confirmando — destaca o professor.
O golpe do Sorteio no Instagram
Em alguns casos, no entanto, nem sempre as vítimas conseguem passar por essa experiência sem nenhum prejuízo. Uma estudante de teatro, de 21 anos, moradora de Porto Alegre, que preferiu não se identificar, precisou trocar de número após ter sua conta no WhatsApp clonada, no final de abril:
— Vi que uma clínica de estética me seguiu no Instagram e segui de volta, recebi uma mensagem deles dizendo que faziam sorteios mensalmente dos serviços da clínica. Se eu tivesse interesse em participar, deveria enviar meu nome e número de telefone e, em seguida, confirmar um código que eu tinha recebido por mensagem de texto. Eu sempre sou muito cuidadosa com isso, sempre desconfio e procuro investigar. Mas, neste dia, em específico, recebi a mensagem logo de manhã, estava sonolenta ainda e não me atentei a desconfiar — conta a estudante.
A jovem percebeu que tinha sido vítima de um golpe quando foi entrar no WhatsApp e recebeu o aviso do aplicativo de que seu número estava registrado em outro celular. Ela desinstalou o aplicativo, tentou recuperar sua conta, mas como a mensagem do código demorou para entrar, o que fez com que ela só conseguisse tentar novamente após 12 horas, sem sucesso. A vítima registrou ocorrência na delegacia online.
— Ainda hoje não recuperei meu WhatsApp, comprei outro chip e agora uso outro número. Não tenho interesse em recuperar o número antigo, já pedi para todos os amigos bloquearem o Whatsapp deste número. Me senti muito boba por não ter desconfiado justamente quando ocorreu — conta.
Segundo o especialista em Segurança da Informação, quanto menos informações os usuários compartilharem nas redes sociais, mais difícil será a ação dos criminosos:
— Muitos usuários utilizam redes sociais de forma equivocada, passando muitas informações que podem ser úteis para os criminosos, como postagem de foto com a placa do carro aparecendo, postagem de foto em viagem, rotina da casa, hábitos de consumo, entre tantas outras informações. A princípio isso não parece ser um problema, mas para criminosos são informações que podem ser usadas para criar golpes mais elaborados e difíceis de serem detectados pelos usuários.
Em resposta ao aumento dos casos de estelionato ocorridos de forma virtual, a Polícia Civil vem desenvolvendo materiais informativos como cartilhas sobre o tema. De acordo com o delegado André Lobo Anicet, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI), do Departamento Estadual de Investigação Criminal (Deic), a conscientização se tornou uma das maiores aliadas nesses casos.
— Sabemos que os crimes por estelionato são os que mais têm crescido atualmente no Estado, em decorrência do aumento da utilização da internet para compras, para falar com amigos, entre outras coisas. Então, temos apostado na prevenção e na conscientização. Por isso, incentivamos a utilização das cartilhas desenvolvidas sobre o tema e do aplicativo PC Alerta (lançado em novembro de 2020) em que divulgamos diversos tipos de golpes e as melhores formas de se proteger — afirma o delegado.
Dicas para não cair em golpes
- Habilite o segundo fator de autenticação em todos os aplicativos que permitem esta função. Desta forma, uma segunda senha será adicionada ao serviço, dificultando clonagens e permitindo recuperação das contas em caso de golpes bem sucedidos
- Não clique em links de promoções e jamais repasse códigos recebidos no smartphone
- Evite conectar em redes Wi-Fi abertas (sem senha). Se precisar conectar mesmo assim, não utilize aplicativos de bancos ou qualquer outro que precise digitar senhas, pois estas podem ser capturadas em redes abertas
- Muita atenção para transferências via Pix. Esta tem sido a preferência para golpes. Criminosos estão se passando por pessoas conhecidas e pedindo transferências para chaves aleatórias, dificultando o rastreio da transação. Desconfie sempre!
- Baixe a cartilha sobre golpes no site da Polícia Civil e o aplicativo PC Alerta que, inicialmente, está disponível para download apenas para usuários do sistema Android. Há também uma versão web, que pode ser acessada no site (clique aqui)
Fonte: Augusto Pannebecker Fernandes e Polícia Civil