O assassinato do ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) Marco Antônio Becker, 60 anos, na saída de um bar no bairro Floresta, em Porto Alegre, na noite em 4 de dezembro de 2008, mobilizou uma força-tarefa da Polícia Civil e ocupou as páginas dos jornais gaúchos em reportagens que traziam cada novo detalhe da investigação que levantou a vida profissional e pessoal do oftalmologista.
Doze anos depois do crime, surge nova versão para a morte do médico, publicada por GZH nesta quinta-feira (8). A Polícia Civil concluiu que Becker foi morto em uma retaliação de um colega de profissão, que estaria com diploma sob risco de cassação por recomendação do oftalmologista. Por isso, teria encomendado o crime. Uma nova hipótese para o assassinato, apresentada à Justiça Federal pelo advogado de um dos réus, reúne sete testemunhos que apontam dois ex-PMs como autores da morte de Becker. O médico teria se rebelado contra chantagens feitas por policiais militares.
Em 2008, o crime foi a principal chamada de capa de Zero Hora da edição de 5 de dezembro. A execução motivou reuniões de cúpula da Polícia Civil horas após o assassinato com o objetivo de definir estratégias de um caso que nasceu sem suspeitos. A força-tarefa envolvia o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e o Departamento de Polícia Metropolitana (DPM).
Nas primeiras 24 horas após a morte, nove equipes comandadas por dois delegados tinham o desafio de elucidar a execução. As primeiras pistas eram duas câmera de segurança e o relato de uma testemunha que dizia ter falado com o atirador.
Quando foi morto, Becker era dos mais conhecidos médicos do Estado, vice-presidente Cremers, entidade que havia presidido por quase uma década de forma quase ininterrupta. Jornalistas acompanharam o velório – que teve ameaça de bomba, buscas policiais e presença de autoridades –, foram até o prédio onde o profissional morava com a esposa em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, e registraram a missa de sétimo dia celebrada na Catedral Metropolitana de Porto Alegre. Naquela data, 11 de dezembro de 2008, o inquérito já reunia 200 páginas e havia ouvido 30 pessoas em municípios da Região Metropolitana e do Litoral Norte.
Nove dias depois do assassinato, o delegado que coordenava a força-tarefa de 27 policiais, o então diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil Ranolfo Vieira Junior – hoje vice-governador e secretario da Segurança –, admitiu a Zero Hora que aquele era "um dos casos mais complexos" da sua carreira.
— Continuamos com duas grandes linhas, a das inimizades profissionais e desavenças no campo pessoal — disse em reportagem publicada em 15 de dezembro.
Quando o crime completou dois meses, em 4 de fevereiro de 2009, a investigação já reunia 850 páginas, diversas pistas, mas não tinha o nome de nenhum suspeito apontado.
Também foram inevitáveis as comparações com o Caso Daudt, considerado um dos mais rumorosos da história policial gaúcha, que ocorrera 20 anos antes. Em 1988, o deputado estadual e radialista José Antônio Daudt também foi morto a tiros, a apenas dois quilômetros de onde Becker fora executado. As principais semelhanças dos dois crimes é que tanto Daudt quanto Becker foram surpreendidos por pistoleiros. Eram acostumados a fazer denúncias e não temiam contrariar interesses. O matador de Daudt até hoje não foi descoberto e o caso de Becker ainda não foi julgado pela Justiça.