A polícia tenta desvendar o que está por trás das mortes de três pessoas em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari. Um casal e outro homem foram encontrados sem vida após um incêndio atingir um galpão em uma propriedade no interior do município. Desde o início, a Polícia Civil já suspeitava que poderia não ser um acidente. A hipótese se confirmou nesta segunda-feira (13) com a constatação de que a mulher foi atingida por um tiro na nuca. Para os investigadores, esse é um indicativo de que eles foram assassinados e que o sinistro foi provocado para tentar ocultar o triplo homicídio.
A situação em que estavam os corpos, carbonizados, não permitiu inicialmente apontar a causa da morte. Mas, segundo o delegado Dinarte Marshall Júnior, que investiga o caso, a equipe do Instituto-Geral de Perícias (IGP) encontrou durante a necropsia um projétil de pistola calibre 380 na cervical da mulher. Na sexta-feira (10), o IGP já havia apurado que havia marcas de perfuração nas vítimas.
— Isso indica um tiro na nuca. Nos outros dois, não foi encontrado projétil. Os corpos estavam bastante carbonizados. Mas devido ao contexto em que foram encontrados, acreditamos que também foram mortos no local — explica o delegado.
Segundo o delegado, embora a identificação oficial dependa da realização de exame de DNA, para comparativo genético, familiares apontaram que as vítimas seriam um casal, Leandro Arruda e Mirela da Silva, que estava morando de favor no galpão há cerca de uma semana, e o caseiro da propriedade, Sinesio Ghilard. Os três desapareceram após o incêndio e as famílias reconheceram alguns pertences, como joias, que não queimaram. O casal tinha um filho de quatro anos, mas a criança não ficou ferida porque estaria dormindo na casa em frente.
Além da confirmação de que a mulher foi atingida por um tiro, a investigação também leva em conta o fato de que foram encontrados pelos peritos indícios de que o incêndio foi provocado de forma intencional. Para o delegado, alguém ateou fogo ao galpão com o intuito de esconder os três cadáveres. A perícia conseguiu constatar que o incêndio teve início no local onde estavam os corpos.
— Pelas características físicas da construção do imóvel, se fosse um incêndio ocasional, eles teriam como deixar o local. Era um galpão novo. Não tinha nada que indicasse o uso de circuitos elétricos antigos. Esse achado agora (projétil) refuta qualquer hipótese de incêndio acidental. Temos convicção de que eles foram mortos ali e incendiaram o local para ocultar vestígios — diz o policial.
Depoimentos
O local onde aconteceu o crime, em Linha São Miguel, é uma área no interior de Cruzeiro do Sul. As casas mais próximas da propriedade ficam a cerca de 100 metros de distância. O incêndio teve início na noite de quinta-feira, mas por conta da cheia só foi possível acessar o local no dia seguinte, após o nível da água que cobria a estrada de acesso à propriedade baixar. Um veículo, que estava dentro do galpão, também foi incendiado.
O caseiro residia em uma moradia em frente ao galpão com a mulher. Segundo o delegado, ela já foi ouvida e relatou que não estava em casa quando o incêndio teve início. Ela contou que havia ido até a propriedade do pai, na mesma localidade, auxiliá-lo a retirar alguns animais em razão da enchente que atingiu a região. A dona da propriedade onde aconteceu o caso também prestou depoimento.
— Estamos ouvindo vizinhos, parentes, vamos aguardar agora a confirmação das identidades, por meio do exame de DNA. Sabemos que o caseiro e esse casal eram conhecidos, amigos. Eles estariam ali de favor há poucos dias — relata o delegado.
Sobre a suspeita em relação à motivação do crime, o delegado afirmou que não pretende divulgar detalhes no momento para não atrapalhar a investigação. Conforme o IGP, apenas uma família forneceu o material genético para comparação até o momento. Só após a identificação, os corpos poderão ser liberados para sepultamento.