Os níveis históricos alcançados pelo Rio Taquari deixaram um rastro de destruição nas vias do município de Lajeado. Em elevação devido à chuva do final de semana, o rio alcançou 22m11cm na manhã desta segunda-feira (13), segundo a Defesa Civil local. Ao meio-dia de domingo (12), a medição era de 15m02cm.
Com o transbordo, móveis foram avariados, e centenas de casas destruídas total ou parcialmente com a força da correnteza. Nas esquinas, colchões, sofás e muitas tábuas de madeira quebradas, reflexos dos estragos causados mesmo a quem vive há duas quadras do Taquari. Nem o muro da casa da aposentada Iloni Simsen, 57 anos, aguentou. Acabou cedendo. Ao lado do filho, ela buscou abrigo no andar superior, mas a água percorreu o mesmo caminho, cobrindo sala, cozinha, quarto e banheiro.
— Quando arrebentou o muro foi um barulhão. Achei que a casa inteira viria a baixo — relembra Iloni, apontando para os tijolos no chão.
A vizinha Nelsi Faustino, 61 anos, conseguiu salvar a geladeira e algumas peças de roupa. Aposentada, vivendo de um salário mínimo, a moradora do bairro Carneiros não sabe como vai mobiliar a casa novamente.
— Não tenho dinheiro. Só Deus sabe como vou fazer — diz.
De acordo com a Defesa Civil de Lajeado, cinco famílias foram socorridas nesta segunda, encaminhadas a locais livres dos alagamentos. Aos cuidados do município, 104 famílias estão abrigadas no Parque do Imigrante. Segundo a prefeitura, elas ganharam máscaras de proteção e há distanciamento entre os diferentes núcleos. A projeção do executivo indica que há ainda outras 300 famílias alojadas em amigos ou parentes.
O prefeito Marcelo Caumo diz já haver planos para reconstrução das casas, que deixarão desabrigados por um período indeterminado.
— É a maior enchente da nossa geração — define.
Com tamanha destruição, o prefeito pede por doações de móveis de todo tipo. Os itens serão buscados pelo poder municipal após agendamento pelo telefone (51) 3982-1150. Também podem ser levados diretamente aos residentes dos bairros Carneiros, Centro, Hidráulica, Conservas, Delfino Costa e Praia.
Na Rua Bento Rosa, parte do asfalto desmoronou, abrindo uma cratera que ocupa meia faixa. O barranco levou junto a terra sob a via, com árvores arrastadas na correnteza. No lado contrário, cerca e telas ainda tem barro, mas já sem interdições devido ao alagamento.
O Centro está entre os bairros mais afetados da cidade, com mais de uma dezena de ruas intransitáveis. Na escola Projeto Vida, que oferece atividades no contraturno a 93 alunos das instituições públicas do município, a água atingiu as salas de aula localizadas no segundo andar. As marcas na porta chegam quase ao telhado. Diretora há 22 anos, Eloir Terezinha Deboben, 54 anos, disse que os materiais foram colocados no piso superior, descrente que a força do rio alcançaria tamanho volume.
— Brinquedos, materiais da recreação, está tudo sujo. Olha que horror aqui — diz, apontando para o barro que se mistura aos documentos na sala da coordenação.
O Parque dos Dick, ponto tradicional de encontro dos lajeadenses, praticamente desapareceu. Quem não conhece a região facilmente confunde a área arborizada com um grande riacho. Nas ruas do bairro Praia, limítrofe com o Centro, casas tem água até o teto. Uma linha de telhados é a única visão após um ponto interditado na rua.
Município vizinho a Lajeado, Estrela também contabiliza estragos. Com muito barro na frente de estabelecimentos comerciais, o trabalho no início desta semana é com enxadas e mangueiras. Dentre os bairros mais afetados, o prefeito Rafael Mallmann cita Marmitt, Imigrante, Indústrias e Moinhos — este último com a principal via de acesso bloqueada por um grande alagamento, sinalizado com faixas zebradas. São 40 famílias fora de casa: 30 no abrigo municipal e 10 resguardadas por vizinhos.