Alexandra Dougokenski, 33 anos, responderá por homicídio doloso, quando há intenção de matar, pelo assassinato do filho Rafael Mateus Winques, 11 anos, em 15 de maio, em Planalto, no norte do RS. O Ministério Público (MP) apresentou a denúncia, enviada nesta sexta-feira (10) ao Poder judiciário, em coletiva de imprensa por videoconferência. A promotora de Planalto Michele Kufner também denunciou a mãe por ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
O MP indicou quatro qualificadoras para o homicídio doloso: motivo torpe, motivo fútil, asfixia, e dissimulação e recurso que impossibilitou defesa da vítima. Responsável pela denúncia, Michele entendeu que Rafael foi morto enquanto estava dormindo. O inquérito policial, remetido ao Judiciário em 2 de junho, apontava que o menino fora asfixiado enquanto estava acordado.
— Nossa conclusão é que ele estava dormindo no momento em que foi morto pela mãe. Se o Rafael tivesse acordado, teria tentado esboçar alguma reação. O que é o normal, um movimento para tentar sair dali. A perícia que foi feita no corpo não encontrou nenhum tipo de defesa dele. Não há nenhum indicativo de que ele tenha se defendido. E não nos parece crível que, vendo a mãe chegar com uma corda, não fosse gritar, chamar por socorro. Com base nisso, concluímos que ele estava desacordado ou dormindo — afirmou Michele.
Durante a coletiva, a promotora disse ter certeza que o crime não contou com a participação de terceiros. Também ressaltou que, ao longo da investigação, Alexandra tentou imputar a culpa em um dos irmãos – tio do garoto – e no pai, Rodrigo Winques.
— Temos convicção de que Alexandra agiu sozinha. Mesmo diante de crime bárbaro e impactante, ela pensava nela em primeiro lugar. Ela queria encontrar uma forma de que a responsabilidade saísse dela e fosse pra outra pessoa. O importante era ela não ser responsabilizada. Isso demonstra a personalidade dela. Frieza e dissimulação — relatou a promotora.
A denúncia por fraude processual ocorre porque em 23 de maio, quando ainda não havia admitido, em primeira versão, a morte do filho, Alexandra chamou um policial até sua casa para mostrar que um calendário estava com a data de 14 de maio circulada. A data coincide com a noite em que o menino desapareceu.
— Ela chamou um inspetor da polícia na casa dela, dando indicativo de que Rafael poderia ter assinalado aquela data sugestionando uma fuga. Isso aconteceu no sábado anterior à localização do corpo e demonstra como ela tentou inovar durante a investigação, trazendo elementos que ela sabia que não eram verídicos, com intuito de atrapalhar o trabalho da polícia — argumenta Michele.
Mesmo diante de crime bárbaro e impactante, ela pensava nela em primeiro lugar. Ela queria encontrar uma forma de que a responsabilidade saísse dela e fosse pra outra pessoa. O importante era ela não ser responsabilizada. Isso demonstra a personalidade dela. Frieza e dissimulação
MICHELE KUFNER
Promotora de Planalto
Rafael usava o celular para redes sociais e jogos online, que às vezes exigiam conversas entre os participantes. De acordo com a promotora, a mãe havia determinado que o menino não falasse ao telefone e que não usasse o aparelho além do horário por ela estabelecido:
— Rafael começou a subverter essa orientação. Dizia que ia obedecer e não obedecia. Ela temia que esse comportamento pudesse ser repetido no irmão mais velho e, com isso, ela perderia o senso de comando da família. A partir daí ela começa a arquitetar a morte do filho.
"Ela faria qualquer coisa para não ser desobedecida", diz promotora
A promotora relembrou que, enquanto Rafael estava desaparecido – entre 15 e 25 de maio –, foi até a casa do menino conversar com a mãe. Durante a conversa, a promotora diz que Alexandra frisou que os meninos eram muito obedientes e cumpriam suas ordens de forma inquestionável:
— Em determinado momento da conversa, ela disse que se que pedisse para os filhos não verem TV, ela poderia deixar o controle remoto na mesa, acessível a eles, que tinha certeza que eles jamais o pegariam dali. Ela tinha um comportamento frio, obstinado, não admitia confronto, não admitia ser desrespeitada. Ela faria qualquer coisa para não ser desobedecida.
Michele ressaltou ainda que dois compridos de Diazepam, que a mãe deu para a criança dormir, não deixariam a boca de Rafael roxa, como a mãe chegou a dizer em depoimento em uma primeira versão:
— Ela usou uma corda de náilon, com laçada dupla e um nó firme. E a corda não se movimentou após a utilização para o estrangulamento. As marcas (no pescoço) são retilíneas. Após ela ter certeza de que o filho estava morto, ainda colocou uma sacola na cabeça dele, amarrando forte no pescoço.
O MP também endossou o pedido da Polícia Civil de que a prisão temporária de Alexandra seja convertida em prisão preventiva. A mãe está presa desde 25 de maio na Penitenciária Feminina de Guaíba. O somatório da pena mínima dos crimes atribuídos à mãe pode fazer Alexandra pegar pelo menos 14 anos e meio de detenção. A condenação máxima, somando todos os agravantes e qualificadoras, pode chegar a 42 anos de reclusão.
— É uma pessoa indiferente, que se satisfaz com a dor do outro. Pessoa preocupada com a dominação, é altamente sedutora porque conta várias versões a hora que quer. Tem um estilo de vida parasitário — afirmou o coordenador do Núcleo de Inteligência do MP, promotor Marcelo Tubino.
Contraponto
Em nota, a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, por meio do defensor público e dirigente do Núcleo de Defesa Criminal Andrey Régis de Melo, informa que a instituição aguardará o recebimento da denúncia do Ministério Público e a citação. A Defensoria salientou que ainda não foi possível conversar com a investigada sobre detalhes do caso penal, já que ela se encontra, desde 29 de junho, internada em um hospital da Grande Porto Alegre para tratamento de saúde.