A fria noite deste sábado (27) repetiu o que já havia ocorrido em finais de semanas anteriores em uma casa da Rua Arnaldo da Silva Ferreira, no bairro Jardim Isabel, na zona sul de Porto Alegre: festa e reunião de dezenas de pessoas, mesmo em período de crescimento de casos de coronavírus.
A situação vem causando crescente incômodo entre vizinhos, que, nos últimos dias, registraram 12 boletins de ocorrência na Polícia Civil, fizeram abaixo assinado e ingressaram com ação cível na Justiça por perturbação do sossego contra o proprietário da residência, o jogador de futebol Vitor Junior. O atleta é de Porto Alegre, já atuou pelo Inter, e seu último contrato foi com o Villa Nova, de Minas Gerais, até o mês de abril.
No período de pandemia, com a paralisação de campeonatos, vizinhos perceberam a crescente realização de festas e aglomerações no casarão, localizado em bairro de classe média-alta da Capital gaúcha.
Nos últimos dois finais de semana, mesmo com Porto Alegre sob bandeira vermelha no sistema de distanciamento controlado, o que paralisa significativa parcela da economia, com fechamento do comércio, a residência de propriedade do jogador manteve a programação.
Neste sábado (27), pelo menos seis veículos estacionados no entorno da residência eram de pessoas que estavam na confraternização. Sob condição de anonimato, vizinhos contaram que parte dos convidados chegou em pelo menos três veículos de transporte por aplicativo. Do lada da rua oposto ao imóvel, era possível ouvir o ressoar da música próximo da meia-noite. Mas, nesta ocasião, não havia algazarra na calçada e na rua.
A reportagem flagrou o vaivém de pessoas na residência, a maioria sem máscara de proteção:
23h - Quatro homens deixam o local portando instrumentos musicais, todos sem máscara. Uma mulher e uma criança que os acompanharam até o portão regressaram ao imóvel após a despedida.
23h20min - Dois homens, ambos sem proteção facial, chegam portando sacolas.
23h30min - Saem da casa um homem, uma mulher e uma criança.
23h33min - Duas mulheres deixam a casa. Uma delas, a única de máscara de todas as pessoas que circularam próximas dos portão no período observado, entra em um veículo recém-chegado para buscá-la. A outra mulher que a acompanhou retorna ao imóvel.
Vitor Junior afirmou ter alugado a casa para um compadre que estava de aniversário neste sábado (27).
- Não teve bagunça ontem (sábado). Com todo o respeito, entra e sai vai ter em qualquer casa e negócio. Eu pedi para eles tomarem todos os cuidados. E acredito que eles tomaram - diz o atleta.
No final de semana anterior, dias 20 e 21 de junho, quando a temperatura estava elevada em padrões atípicos para o início do inverno, vizinhos relatam que houve o ápice do barulho e da aglomeração. Pedindo para não serem identificados, moradores das redondezas afirmaram terem sofrido dificuldade para dormir. A zona é silenciosa e o volume da música percorria os arrabaldes.
Na ação judicial, protocolada em 24 de junho na 2ª Vara Cível da Tristeza, moradores juntaram diversos vídeos e fotos que fizeram da fachada do imóvel durante as festas, sobretudo dos momentos de chegada e de saída de convidados. É possível ver pessoas circulando às dezenas no portão da residência e, próximo do amanhecer, vídeos os flagraram aos gritos e buzinaços na silenciosa rua. Também ocorrem discussões e lixo foi espalhado pela via. Moradores dizem já ter tentado acionar autoridades de segurança durante as festas, sem sucesso.
Vitor Junior afirma que não reside mais no local há cerca de seis anos. Como proprietário, faz aluguéis da residência. Ele mostrou um contrato indicando que a casa permaneceu locada pelo período de 15 dias, entre 12 e 26 de junho, para Diego Superti, também jogador de futebol profissional.
O acordo foi direto entre as partes, sem intermediação de imobiliária. Foi neste período que ocorreram as festas mais incômodas à vizinhança, com frequência quase diária, com música alta madrugada adentro e confusão na hora de ir embora.
Vitor Junior alega que não pode ser responsabilizado porque não estava no local.
- A minha casa estava alugada e acho que os moleques que estavam lá fizeram festa. A casa está para vender e eu alugo ela. Eu sei que tem vídeo, isso foi passado para mim, só que eu não estava lá. Não posso ficar pagando por coisas que não tenho nada a ver. É muita gente frustrada que mora naquele bairro. Às vezes acho até que é um certo preconceito, racismo. Estou tomando as medidas com meu advogado para entrar contra esses vizinhos - defendeu-se o jogador.