A Polícia Civil apresentou nesta quinta-feira (7) o balanço da Operação Anticorpo, que investiga a distribuição de vacinas contra a gripe falsificadas, especialmente nas regiões Norte e Planalto. A partir do material apreendido, os investigadores estimam que pelo menos 1,2 mil doses do medicamento falso estavam para ser produzidas, já que rótulos para 126 frascos (cada um tem 10 doses) foram localizados em uma gráfica em Paraí, na Serra.
Além do material que seria produzido, há as 300 vacinas que foram vendidas pelos criminosos para a prefeitura de Coxilha, e, depois devolvidas. Parte destas doses (cujo lote é identificado pela numeração 200075) a polícia localizou em uma farmácia de Água Santa, que chegou a fazer aplicações. Também havia em farmácias da região vacinas com outro lote inexistente, que nunca foi produzido pela fabricante, identificado por uma sequência alfanumérica: AFLCC453LA.
A polícia emitiu alerta para a 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, sediada em Passo Fundo, para que tome cuidado com medicamentos que possam estar identificados com esses lotes inexistentes.
Na casa de um empresário preso na quarta-feira (6), em São Domingos do Sul, foram achados 13 frascos de vacinas fora da validade desde 2017. A polícia vai verificar se os rótulos com a data vencida seriam substituídos pelos feitos na gráfica e se o conteúdo é verdadeiro ou também falsificado. Na terça-feira (5), dois suspeitos já haviam sido detidos em Passo Fundo. Eles foram identificados como responsáveis pela venda das vacinas para Coxilha. Os três estão com prisão preventiva decretada e optaram por ficar em silêncio durante o depoimento.
Houve apreensão de vacinas que seriam falsas em Água Santa, Davi Canabarro e São Domingos do Sul. Os 44 frascos estão sendo enviados ao Laboratório Central do Estado (Lacen) para análise. A investigação envolve, por enquanto, seis municípios: Coxilha, Passo Fundo, Água Santa, Davi Canabarro, Casca e Mato Castelhano.
Os suspeitos são investigados por estelionato contra a administração pública e crime hediondo previsto no Código Penal: falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
O delegado Max Otto Ritter, que coordena a investigação pela 1ª Delegacia de Combate à Corrupção, disse que as investigações prosseguem e destacou:
— É importante enaltecer a participação da comunidade nesta hora, que pode remeter toda e qualquer denúncia para a Polícia Civil ou para unidades de saúde.
As suspeitas
Foi a partir de um lote de 300 doses da vacina tetravalente, vendido à Secretaria Municipal da Saúde de Coxilha, no Planalto, que surgiram as primeiras suspeitas, em 15 de abril. A funcionária de uma unidade de saúde, depois de fazer a primeira aplicação, desconfiou da apresentação do produto. Ao verificar o site da empresa fabricante, constatou que a comercialização era feita em frascos de dose única e não com 10 doses, e também detectou a falta de bula.
A própria fabricante da vacina, a GlaxoSmithKline Brasil (GSK), depois de ter confirmado para Coxilha que o lote daqueles frascos nunca fora fabricado, levou o caso à Divisão de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro do Deic pedindo apuração da suposta falsificação.