Um esquema de distribuição de vacinas contra a gripe falsificadas está sendo investigado pela Polícia Civil em municípios da região do Planalto.
A suspeita surgiu a partir de 300 doses da vacina tetravalente contra a influenza adquiridas pela prefeitura de Coxilha.
Depois de fazer a primeira aplicação, uma enfermeira desconfiou da apresentação do frasco e da falta de bula do medicamento. Ao contatar a empresa que constava como fabricante, a Secretaria da Saúde descobriu que o lote identificado nos frascos nunca foi produzido.
A empresa responsável pela comercialização das vacinas sob investigação, com sede em Passo Fundo, tem como atividade principal a "promoção de vendas". A polícia desencadeou na manhã desta terça-feira (5) a Operação Anticorpo em Passo Fundo.
Dois suspeitos ligados à empresa foram presos preventivamente e medicamentos, apreendidos. Um deles também foi autuado em flagrante por tráfico de drogas porque mantinha em casa dezenas de remédios de uso controlado sem receita e sem comprovação de procedência. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos também. A polícia não revelou os nomes da empresa e dos investigados para não atrapalhar os próximos passos da apuração.
Além de crimes contra a administração pública, a prática se enquadra como crime hediondo previsto no código penal: falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Com a pandemia do coronavírus, a campanha de vacinação contra a gripe foi antecipada no país e muitos municípios até flexibilizaram as regras para a compra da imunização, para que o processo fosse mais rápido. A polícia não descarta o envolvimento de agentes públicos no esquema criminoso.
A investigação, que começou há pouco mais de uma semana, já tem indícios de que as vacinas falsas podem ter sido usadas em mais três municípios da região, cujos nomes não são revelados para não atrapalhar a investigação.
Um dos objetivos da operação, realizada por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), é o de apreender frascos da vacina falsificada para que possa ser feita a identificação da substância que está sendo aplicada nas pessoas.
— Não há como ignorar a conduta dos agentes criminosos neste cenário de pandemia mundial. Colocam em risco a saúde alheia para obter vantagens indevidas em proveito próprio — destacou o delegado Max Otto Ritter, da 1ª Delegacia de Combate à Corrupção, responsável pela investigação.
Os 30 frascos com 300 doses da vacina tetravalente custaram R$ 19,5 mil e chegaram à Coxilha em 14 de abril. Na manhã do dia 15, uma funcionária de unidade de saúde, depois de fazer a primeira aplicação, desconfiou da apresentação do produto. Ao verificar o site da empresa fabricante, constatou que a comercialização era feita em frascos de dose única e não com 10 doses.
A suspeita foi comunicada à Secretaria Municipal da Saúde. A titular da pasta, que havia fechado o negócio, Rosane Fátima da Silva, chamou o representante que vendera os medicamentos e reclamou de a caixa de vacinas ter sido entregue aberta e sem bula.
O vendedor recolheu as vacinas – inclusive, o frasco que já havia sido aberto. Disse que outros municípios estavam interessados no produto. Prometeu que remeteria novo lote em caixa fechada e com bula, mas a administração de Coxilha suspendeu o negócio. Dias depois, em 20 de abril, a secretária recebeu o e-mail em que a empresa fabricante confirmava que aquele lote era inexistente e, portanto, falsificado.
Foi a própria fabricante, a GlaxoSmithKline Brasil (GSK), que levou o caso à Divisão de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro do Deic pedindo apuração da suposta falsificação.
Durante a investigação, surgiram relatos de aplicação de vacinas semelhantes às entregues em Coxilha em mais três municípios. A polícia ainda está rastreando a distribuição do produto. Dois homens envolvidos na negociação com Coxilha já foram identificados.