O Comando-Geral da Brigada Militar decidiu centralizar em Porto Alegre as investigações sobre a ocorrência policial que resultou na morte do engenheiro Gustavo dos Santos Amaral, 28 anos, em Marau, no último domingo (19). A família acusa um policial da corporação de ter atirado contra o rapaz por engano, mesmo com a advertência de que ele era um trabalhador e não um dos assaltantes que era procurado.
A apuração, agora, deixará de ser feita por um oficial do batalhão ao qual o policial é lotado (Passo Fundo) e passará para a Corregedoria-Geral, em Porto Alegre. A iniciativa foi tomada pelo comandante-geral da corporação, coronel Rodrigo Mohr.
— O motivo principal é apurar os fatos de forma mais isenta possível — declarou o comandante-geral da BM.
O prazo do inquérito policial militar segue inalterado: 40 dias, podendo ser prorrogado. A investigação tem como objetivo a apuração de eventual crime militar por um ou mais agentes. Além disso, corre em paralelo o inquérito da Polícia Civil.
Colega da vítima e testemunha do ocorrido, Evandro Motta, 31 anos, disse à GaúchaZH que advertiu o policial sobre quem era Gustavo, mas foi ignorado:
— Avistei o policial e comecei a gritar: "Não atira, não atira, ele é o dono da empresa, é trabalhador". Tenho certeza que falei bem alto. O policial passou atrás da caminhonete e efetuou os disparos, sem falar nada, sem dar voz de prisão. Como alguém atira sem perguntar?
O irmão gêmeo de Gustavo, Guilherme dos Santos Amaral, afirmou que procurou a BM para fazer perguntas e apresentar as testemunhas, mas só recebeu como resposta que uma sindicância interna será feita.
— A gente quer Justiça. Ele era minha metade, meu melhor amigo, e preciso lutar para que outras pessoas não percam seus familiares e amigos de uma forma tão absurda. A polícia tirou metade de mim — lamentou Guilherme.
A versão oficial da Brigada Militar, contada à imprensa ainda no domingo, foi de que o rapaz foi morto em meio ao tiroteio e não se sabe de onde o tiro partiu. Naquele dia, a corporação não informou o nome da vítima.
A ação policial
Segundo a Brigada Militar, a caminhonete foi roubada no sábado (18), no município de Casca, também no Norte. Na manhã de domingo, um policial de folga viu o veículo na rodovia e avisou seus colegas. Uma barreira foi montada na estrada.
O engenheiro estava no carro com três funcionários, quando deparou com a blitz policial na RS-324. Ele teria parado o Doblô e ficado dentro do veículo com os companheiros, mas logo em seguida o carro foi atingido por uma Amarok com pneus furados. A caminhonete era roubada e estava sendo procurada pelos policiais. Instantes depois, houve troca de tiros e Gustavo e os funcionários desceram para se proteger. Foi nesse momento que ele foi atingido.
Gustavo foi enterrado na segunda-feira (20), em Santa Maria, onde nasceu e estudou na universidade federal. Ele deixou cinco irmãos, pai e mãe.