Foi identificada como Gustavo dos Santos Amaral, 28 anos, a vítima morta em um tiroteio entre policiais e criminosos na RS-324, em Marau, no norte do Estado, na manhã deste domingo (19). Engenheiro eletricista, o rapaz estava em deslocamento para instalar transformadores com funcionários quando deparou com o fogo cruzado na rodovia. Mesmo agachado para se proteger, um tiro foi fatal ao atingi-lo no ombro esquerdo.
— Perdi minha metade. Desde que nasci ele foi meu companheiro, meu melhor amigo. Estudamos do pré até a faculdade juntos. Era meu confidente e conselheiro, sabia o que eu estava pensando só no meu olhar — desabafou o irmão gêmeo de Gustavo, Guilherme, também engenheiro eletricista.
Gustavo fazia a primeira viagem como chefe de equipe para a empresa de engenharia do pai, após anos acompanhando os familiares pelo interior do Estado.
— Ele tinha ganhado a confiança do pai para chefiar sozinho. Estava muito feliz. Estava dando tudo certo, até acontecer isso no meio da estrada. Não foi uma fatalidade — lamentou o irmão.
O rapaz foi velado nesta segunda-feira em Santa Maria, na Região Central, onde ele nasceu, estudou na universidade federal com seu irmão e seus parentes moravam. Além do pai e da mãe, o rapaz deixa cinco irmãos.
Meu mundo acabou, minha vida esta sem chão. Eu não quero deixar isso impune, preciso da ajuda de vocês para que casos assim não destruam mais uma família, que nem o que ocorreu com a minha hoje. Esse gremista la do céu sempre cantará comigo.
GUILHERME DOS SANTOS AMARAL, IRMÃO DA VÍTIMA
Desabafo de familiar, que acusa Brigada Militar de ter matado, por engano, o engenheiro
O crime
O engenheiro estava no carro com três funcionários e encontrou em meio a estrada uma barreira da Brigada Militar (BM). Ele teria parado um Doblô e ficado dentro do veículo com os companheiros, mas logo em seguida o carro foi atingido por uma Amarok. A caminhonete era roubada e estava sendo procurada pelos policiais. Instantes depois, houve troca de tiros e Gustavo e os funcionários desceram do carro para se abrigar. Foi naquele momento em que a vítima foi atingida.
Funcionário que estava no carro com Gustavo, o montador eletricista Evandro Motta, 31, garante que viu a cena e aponta um dos agentes da Brigada Militar como autor do disparo contra a vítima desarmada, ao supostamente confundi-la com um bandido.
— Gustavo entrou em choque, estava apavorado, e quis correr para se proteger dos tiros. Nisso, avistei um policial passando e comecei a gritar "não atira, não atira, é o dono da empresa". O policial passou em nossa frente e efetuou os disparos, sendo que um atingiu o ombro do nosso chefe. Em momento algum, ele deu voz de prisão, ou pediu para que o Gustavo levantasse o braço — declarou Motta.
Ainda segundo o funcionário, após supostamente atirar, o policial teria dito que acreditava que Gustavo estava fugindo. O engenheiro ainda teria recebido massagem cardíaca do próprio policial que teria o atingido com tiro, mas já não respondia. Ele morreu ainda antes de chegar ao hospital de Passo Fundo.
— Mesmo que fosse um bandido e que ele (policial) tivesse se confundido, ele teria de dar voz de prisão. O Gustavo estava com roupa reflexiva. Como um profissional chega atirando contra uma pessoa sem sequer dar voz de prisão ou pedir para levantar as mãos?— questionou Motta.
Procurada por GaúchaZH, a BM diz que não sabe de onde partiu o tiro que atingiu o engenheiro, se foi da arma de um dos policiais ou de um bandido. O comandante do 3º Regimento de Polícia Montada de Passo Fundo, tenente-coronel Volnei Ceolin, diz que foi aberto um inquérito para apurar a conduta dos policiais. As armas dos agentes foram recolhidas.
O policial reforça que os agentes estavam atrás "de vagabundos que roubaram um carro à mão armada" e que os bandidos "jogaram o carro contra o dos trabalhadores".
— Nomeamos um oficial que vai proceder inquérito policial militar para colher toda a documentação necessária para a gente poder, de forma serena e tranquila, dizer como se deu o fato — comentou o oficial.
O inquérito tem duração de 40 dias, podendo ser prorrogado. A Polícia Civil também está investigando o caso. O delegado Norberto Rodrigues, da delegacia de Marau, diz que por enquanto não há detalhes sobre o fato.
Roubo de caminhonete
Segundo a Brigada Militar (BM), tudo começou ainda no sábado, no município de Casca, também na Região Norte. Uma caminhonete Amarok foi roubada na cidade. Na manhã de domingo, um policial de folga viu o veículo na rodovia e avisou seus colegas. Uma barreira foi montada na estrada, onde aconteceu o tiroteio que resultou na morte de um homem.
Ainda no domingo, a BM confirmou que se tratava de um "civil" que não estava relacionado com a ocorrência, mas não informou seu nome.