A família de Gustavo dos Santos Amaral, 28 anos, não se conforma com a morte do rapaz, ocorrida no último domingo (19), na RS-324, em Marau, no norte do Estado. Parentes e amigos querem uma explicação da Brigada Militar (BM) sobre a ação que tirou a vida do engenheiro eletricista. Ele estava indo trabalhar no momento em que foi atingido por um disparo em uma barreira montada pela polícia em busca de ladrões de carro.
Colegas do jovem, que estavam com ele no Fiat Doblô da empresa, dizem que o tiro foi disparado por um policial, que teria confundido Amaral com um dos assaltantes que era procurado. Evandro Motta, 31 anos, disse que alertou o agente policial de que ele estava confundindo o alvo:
— Eu avistei o policial e comecei a gritar: "Não atira, não atira, ele é o dono da empresa, é trabalhador". Tenho certeza que falei bem alto. O policial passou atrás da caminhonete e efetuou os disparos, sem falar nada, sem dar voz de prisão. Como alguém atira sem perguntar?
Testemunha, Evandro ainda não foi chamado a depor. Ele contou a GaúchaZH que Gustavo usava uma roupa reflexiva, uniforme comum para trabalhadores da área. Segundo ele, o engenheiro ainda recebeu massagem cardíaca do policial, mas morreu instantes depois.
A versão oficial da Brigada Militar, contada à imprensa ainda no domingo, foi de que o rapaz foi morto em meio ao tiroteio e não se sabe de onde o tiro partiu.
"A polícia tirou metade de mim"
O irmão gêmeo de Gustavo, Guilherme dos Santos Amaral, diz que procurou a BM para fazer perguntas e apresentar as testemunhas, mas só recebeu como resposta que uma sindicância interna será feita.
— A gente quer Justiça. Ele era minha metade, meu melhor amigo, e eu preciso lutar para que outras pessoas não percam seus familiares e amigos de uma forma tão absurda. A polícia tirou metade de mim — lamentou Guilherme.
Os gêmeos foram colegas de estudo desde o pré até a faculdade. Gustavo formou-se um semestre antes na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e entregou o canudo ao irmão na formatura. Depois, os dois ainda moraram juntos em São Leopoldo no Vale do Sinos.
— Metade da minha vida foi embora, mas o Gustavo ainda vai continuar em mim — desabafou o irmão, emocionado.
A família deve contratar um advogado nos próximos dias para acompanhar as investigações e tentar estabelecer um contato mais rápido com as autoridades.
A Brigada Militar reforçou que dois assaltantes de alta periculosidade foram presos na ação. Um inquérito policial militar foi instaurado. Um oficial da própria corporação será responsável por apurar as circunstâncias do fato, durante 40 dias — podendo o prazo ser prorrogado. A corporação voltou a dizer que não sabe de qual arma partiu o tiro.
— Entendemos e nos solidarizamos com a família. Em hipótese alguma, queremos resultados assim. Mas por enquanto não podemos afirmar nada — afirmou o tenente-coronel Volnei Ceolin, comandante do batalhão responsável pela operação.
O irmão, no entanto, questiona:
— O comando disse que a caminhonete roubada foi recuperada e dois bandidos presos. Quanto vale uma caminhonete? Esses bandidos vão ficar presos por quanto tempo? E a vida do meu irmão vai voltar?
A Polícia Civil diz que ainda não tem novidade e o inquérito deve demorar, tendo em vista a necessidade de perícias e a oitiva de testemunhas.
A ação policial
Segundo a Brigada Militar, a caminhonete foi roubada no sábado (18), no município de Casca, também na Região Norte. A caminhonete foi roubada na cidade. Na manhã de domingo, um policial de folga viu o veículo na rodovia e avisou seus colegas. Uma barreira foi montada na estrada.
O engenheiro estava no carro com três funcionários, quando se deparou com a blitz policial na RS-324. Ele teria parado o Doblô e ficado dentro do veículo com os companheiros, mas logo em seguida o carro foi atingido por uma Amarok com pneus furados. A caminhonete era roubada e estava sendo procurada pelos policiais. Instantes depois, houve troca de tiros e Gustavo e os funcionários desceram para se proteger. Foi nesse momento em que ele foi atingido.
Ainda no domingo, a BM confirmou que o homem morto se tratava de um "civil" que não estava relacionado com a ocorrência, mas não informou seu nome. Gustavo foi enterrado na segunda (20), em Santa Maria, onde nasceu e estudou. Ele deixou cinco irmãos, pai e mãe.