Mesmo temerosa por causa de ameaças feitas pelo ex-marido, a cozinheira Jocemara Ramão, 37 anos, não mudava o jeito brincalhão e bom astral que eram suas marcas para familiares e amigos. Na noite do sábado (14), ela estava trabalhando e conversava amenidades com uma sobrinha por WhatsApp pouco antes de ser baleada e morta por Marcelo Fraga Pacheco, com quem foi casada por cerca de 15 anos.
Depois de já ter saído de casa e de ter registrado ocorrência por sequestro e cárcere privado contra Pacheco, em 19 de fevereiro, Jocemara havia pedido medidas protetivas, que foram deferidas pela Justiça.
O crime ocorreu no restaurante Capitão X, na parada 79 de Gravataí, onde Jocemara trabalhava havia cerca de dois anos. Depois de dar dois tiros na cabeça e um em uma das mãos da ex-mulher, Pacheco, 36 anos, cometeu suicídio. O caso é tratado como feminicídio.
O casal tinha dois filhos, uma menina de 13 anos e um menino de nove. Jocemara tinha também um filho de 19 anos, de outro relacionamento. Conforme familiares, ela havia saído de casa com os dois filhos mais novos no começo de fevereiro, mas Pacheco não se conformaria com o fim do relacionamento.
O casal já havia tido outras crises no relacionamento, marcadas por separação e retomada da relação. Em 2010, Jocemara registrara ocorrência de ameaça e vias de fato contra o companheiro. Em 2013, ela registrou ocorrência de lesão corporal. Mas foi recentemente que teria decidido não mais levar adiante o relacionamento.
A relação conturbada decorrente da separação já estava sendo acompanhada pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Gravataí. Em 19 de fevereiro, Jocemara registrou ocorrência contando que Pacheco havia trancado ela e os dois filhos dentro de casa e dito que ela não sairia mais dali. Ela teria ido até o local para conversar com o ex-companheiro.
Ele teria pego uma faca para ameaçá-la. Segundo o registro, os filhos se colocaram na frente da mãe para defendê-la e a filha gritou por socorro. Uma irmã de Pacheco, que mora nas proximidades, teria aparecido para apartar a briga. Jocemara fez representação contra o ex-marido e solicitou medidas protetivas de urgência, que foram deferidas pela Justiça.
Em 6 de março, Pacheco procurou a polícia para fazer um registro no qual alegava que Jocemara havia conseguido medidas protetivas contra ele com "fatos caluniosos". Ele afirmou que a ex-companheira ficava tentando se aproximar dele e que iria em locais onde ele estava. Pacheco disse que começara uma nova relação e havia divulgado em rede social e que, depois disso, Jocemara teria enviado mensagens pedindo para se encontrar com ele e também pedia que ele a buscasse no trabalho. Ele afirmou que desconfiava que estivesse querendo "armar uma cilada para ele ser preso", já que as medidas de proteção proibiam ele de se aproximar dela.
As alegações de ambos estavam sendo investigadas pela polícia. Conforme o delegado Eduardo Limberger do Amaral, que responde pela Deam, eles estavam em processo de separação e reaproximação, mas desde o registro de 19 de fevereiro, estavam separados. Chamado para depor na Deam, Pacheco havia negado todas as acusações da ex-mulher.
"Não faz isso, Marcelo", pediu mulher antes de ser morta por ex-companheiro
No sábado (14), antes de ir para o trabalho, Jocemara convidou amigas para acompanhá-la na colocação de um piercing na língua.
— Ela estava feliz, como sempre. Quando estávamos indo a pé para o trabalho, perto das 18h, ele (o ex-companheiro) passou por nós de moto com um amigo. Eu ainda disse: "Jocemara, esse homem vai te matar". Ela respondeu que não, que ele havia escrito para uma sobrinha dela dizendo que ia deixá-la em paz — conta uma amiga e colega de trabalho da vítima que pediu para não ser identificada.
Pouco antes do crime, Jocemara conversava com uma sobrinha por WhatsApp. A última mensagem que enviou foi às 20h33min.
O crime ocorreu por volta das 20h45min, conforme registro da Brigada Militar. Uma colega viu Pacheco passar pelo salão do restaurante em direção à cozinha, onde estava Jocemara.
— Fui até lá para avisá-la, mas ele chegou antes. Quando me viu, já sacou a arma e só ouvi a Jocemara dizer "Não faz isso, Marcelo". Não deu tempo de nada. Ele deu muitos tiros — relembrou a colega.
Pacheco portava um revólver calibre 38. Os dois morreram no local. Desde a separação, a cozinheira estava morando com os filhos na casa de duas irmãs, também em Gravataí. Ela era natural de Caibi, em Santa Catarina, e tinha mais sete irmãos. Jocemara tiraria férias a partir da segunda-feira (16) e pretendia organizar sua mudança com os filhos para uma casa de sua propriedade que estava alugada.
Como pedir ajuda sobre violência doméstica
Para denunciar casos de violência contra a mulher use o Disque 100 ou contate o Disque-Denúncia pelo telefone 181. Além disso, há os Centros de Referência da Mulher, delegacias especializadas e a Defensoria Pública.
Brigada Militar
- Telefone - 190
- Horário - 24 horas
Polícia Civil
- Endereço - Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há 23 DPs especializadas no Estado.
- Telefone - (51) 3288-2173 - 3288-2327 - 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário - 24 horas
Defensoria Pública
- Endereço - Unidade Central de Atendimento e Ajuizamento (Rua Sete de Setembro, 666), ou Centro de Referência em Direitos Humanos (Rua Siqueira Campos, 731), ambos no Centro Histórico.
- Telefone - (51) 3225-0777 ou pelo Disque Acolhimento 0800 644 5556
- Horário - Segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h (nos meses de janeiro e fevereiro, o atendimento nas segundas-feiras é das 12h às 19h e, nas sextas-feiras, das 8h às 15h)
Ministério Público
- Endereço - Promotoria Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar - no Instituto de Previdência do Estado (IPE) do RS, na Avenida Borges de Medeiros, 1.945
- Telefone - 51-3295-9782 ou 3295-9700.
- Horário - 12h às 19h de segunda à quinta-feira e sexta-feira das 8h às 15h. Após o Carnaval, atendimento é das 8h30min ao meio-dia e das 13h30min às 18h
Judiciário
- Juizado Especial da Violência Doméstica e Familiar (Rua Márcio Luiz Veras Vidor, 10), Sala 511 ou 512
- Telefone - (51) 3210-6500
- Horário - De segunda-feira à sexta-feira das 9h às 18h
Centro de Referência Vânia Araújo Machado
- Endereço - Travessa Tuyuty, 10 - Loja 4 - Centro Histórico, Porto Alegre - RS
- Horário - De segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h
- Telefone - (51) 3252-8800 ou 3286-7375
Escuta Lilás
- Telefone - 0800-541-0803
- Horário - De segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h.
Disque-Denúncia
- Telefone - 180 ou 181
- Horário - 24 horas
Disque-100
- Telefone - 100
- Horário - 24 horas
Centro de Referência Márcia Calixto
- Endereço: -Rua dos Andradas, 1643, sala 301
- Telefone - (51) 3289-5110
- Horário - De segunda a sexta-feira, das 8h30min às 12h, e das 13h30min às 18h.
Procuradoria Especial da Mulher da Câmara de Vereadores
- Endereço - Avenida Loureiro da Silva, 255 - Centro Histórico/ 3º andar, Sala 328
- Telefone - (51) 3220-4358 - 3220 4302
- Horário - De segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30min às 18h
Casa de Referência da Mulher - Mulheres Mirabal
- Endereço - Rua Souza Reis, 132, bairro São João.
- Telefone - (51) 3407-6032 (para doações como roupas, alimentos, até móveis para casa) e para acolhimentos e abrigamento entrar em contato pelo 51 9108-0562 ou pelo e-mail mulheresmirabal@gmail.com.
ONG Themis
Mantém unidades de Serviço de Informação à Mulher (SIM) em quatro bairros de Porto Alegre:
Eixo Baltazar
Endereço - Rua Baltazar de Oliveira Garcia, 2.132, sala 657 e 658
Horário - Terça e sexta-feira, das 9h até as 17h
Lomba do Pinheiro
Endereço -Estrada João de Oliveira Remião, 4.444 (Paróquia Santa Clara)
Horário - Segunda-feira (quinzenal) das 13h30 até as 17h30
Restinga
Endereço - Rua Engenheiro Oscar Oliveira Ramos, 1411
Horário - Segunda-feira, das 9h até as 17h
Cruzeiro
Ainda não tem sede, mas realiza ações itinerantes