Cenário de confronto entre policiais e criminosos, que terminou em três mortes na madrugada desta terça-feira (4), a localidade de Linha São Jacó, no interior de Estrela, é ocupada por propriedades rurais e plantações das mais variadas culturas. Na Estrada Santa Rita, uma casa de alvenaria com acesso pelo portão da garagem destoa das demais: com três cães fazendo guarda no pátio e cercas instaladas nos quatro pontos do terreno, o local é, visivelmente ponto de passagem, com colchões espalhadas pela sala e peças com pouca mobília. A movimentação intensificada nos últimos dois meses interrompeu a tranquilidade da vizinhança, com chegada e saída frequente de veículos e de visitantes, segundo uma moradora das proximidades.
— Tinha gente direto, de carro, de moto, com música. De longe, a gente só olhava. Eles na dele e nós, na nossa — relatou a senhora, que tem seu nome mantido em sigilo por segurança.
Outro morador relata situações de violência nunca vividas nas quase seis décadas que vive no bairro rural do município.
— Entraram, levaram o carro e até um porco foi morto dentro do chiqueiro. Me criei aqui, não era assim — reforça o faxineiro, de 59 anos.
Por meio da troca de informações com moradores de pequenos municípios — pessoas que denunciavam de forma anônima à polícia ou em grupos de WhatsApp com participação da BM —, a polícia chegou à informação de que um assalto estava sendo planejado a um banco de Serafina Corrêa, na Serra. O alerta da presença de criminosos na área rural de Estrela chegou ao comandante da BM no Vale do Taquari, major Ivan Silveira Urquia, na noite de segunda-feira (3).
Após rondas, a equipe tática da polícia deparou com um Logan, acompanhado até o endereço onde os disparos aconteceram, já na madrugada desta terça-feira (4). Três criminosos morreram, e nenhum dos quatro PMs ficou ferido. Dois homens conseguiram fugir para a mata.
O cerco foi montado com viaturas espalhadas em pontos estratégicos, e uma Meriva foi avistada. O motorista reduziu a velocidade após entrar na rota dos PMs e, em seguida, apagou os faróis. O veículo foi abordado e a atitude do condutor levou os policiais a começar um interrogatório.
— Nesse momento, o homem que estava no carro começou a chorar de nervoso. E admitiu ter recebido uma ligação pedindo por resgate — relembra o major Urquia.
Armas e munições
Além do homem, duas mulheres foram presas. Antes de serem conduzidas a delegacia, uma delas admitiu ser companheira de um dos assaltantes que estava escondido na mata.
— "Nos envolvemos em uma confusão, venham nos buscar", foi o que o criminoso teria dito a essa mulher — conta o comandante.
Após indicar o local onde a dupla estava, também acabaram detidos e, na DP, foram liberados. Os dois homens seguem presos e serão interrogados.
Titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas (Draco), Dinarte Marshal Jr, afirma ser cedo para dizer se o local pertencia a algum familiar dos criminosos ou se foi invadido. Ainda de acordo com o delegado, foram apreendidos três revólveres 38 na casa — um com a numeração raspada —, além de 13 cartuchos de armas do mesmo calibre.