Um dos sobreviventes do ataque que deixou quatro mortos em um salão no município de Sério, no Vale do Taquari, lembra dos momentos de tensão que passou na tarde de domingo (3). Erno Nelsen Berghahn, 58 anos, diz que se fingiu de morto para não ser baleado por Vanderlei Matthes, 32 anos, que abriu fogo contra as seis pessoas que jogavam cartas no local.
Três delas morreram e duas ficaram feridas — incluindo o pai do atirador. Matthes foi morto em confronto com a polícia.
Berghahn diz que, após ter sido poupado pelo criminoso, acionou a Brigada Militar. Segundo ele, o atirador chegou em uma moto, entrou no salão com uma pistola em punho e, sem falar nada, começou a atirar.
— Foi horrível. Ele chegou atirando e matando quem estava na frente dele. Eu estava junto com os outros. Ele não chegou a mirar em mim porque, quando um caiu no chão, eu me deixei cair também. Me joguei no chão e me fingi de morto — conta (ouça entrevista abaixo).
O homem diz que ficou ao lado dos corpos das vítimas e acredita que isso possa ter sido crucial para que tenha sobrevivido. Berghahn lembra ainda que é muito amigo do pai do atirador, Valdemiro Matthes, 58 anos, que foi baleado no momento em que teria pedido para que o filho parasse de atirar.
O outro ferido foi Alécio José Ferri, 60 anos, baleado em uma das pernas. Os mortos no ataque foram identificados como Imerio Ferri, 66 anos, o filho dele, Odair José Ferri, 38 anos, e Cesar Mario Verruck, 46 anos.
"Não tem explicação"
Após ter dado mais de 40 tiros contra as vítimas, Matthes descobriu que Berghahn estava vivo. Segundo a ocorrência policial e o próprio depoimento do sobrevivente à polícia, na manhã desta segunda-feira, o atirador resolveu poupar o homem para que a Brigada fosse acionada.
— Ele falou que não iria me matar para que eu chamasse a polícia. Saí correndo e fui pra casa ligar para a Brigada Militar. No momento dos tiros, ele não falou nada. Eu conhecia ele, era muito amigo do pai dele, e não tinha problemas com ninguém, que eu saiba. Só Deus sabe o que deu. Tu está falando agora com um morto-vivo. Não tem explicação e nem dá pra falar muito sobre isso — contou Berghahn.
Assim como o sobrevivente, a Polícia Civil ainda não sabe o que motivou o crime. Os agentes estão ouvindo vítimas, testemunhas e familiares e amigos dos envolvidos. Também foi solicitado exame toxicológico de Matthes.
O delegado Augusto Cavalheiro Neto, titular da Delegacia de Encantado e responsável pelo caso, disse que o atirador pediu para que Berghahn acionasse a Brigada Militar porque também queria atacar os PMs. Antes da chegada dos brigadianos, o atirador teria tomado duas cervejas no salão, conforme a polícia.
Os sepultamentos das quatro pessoas mortas irão ocorrer na tarde desta segunda-feira no cemitério de Arroio Abelha, em Sério.