Um cartaz com uma lista de sonhos elaborados pelos alunos da turma do Jardim B da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Osmar dos Santos Freitas, na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre, já tem quase todas as metas cumpridas pelos pequenos, com faixa etária de cinco a seis anos. Entre os desejos já alcançados estão itens singelos, como comer enroladinho de salsicha e fazer bolinhas de sabão. Mas um dos mais aguardados por eles talvez não se realize neste ano. O dinheiro que a escola juntava ao longo de 2019 para levá-los aos zoológico, em Sapucaia do Sul, foi levado durante arrombamento do prédio, que fica na Rua Dona Otília, na madrugada do dia 20.
Na ação, os ladrões levaram duas televisões, dois rádios, caixas de som e notebook, além do dinheiro. Os aparelhos apareceram no dia seguinte em um terreno nos fundos da creche. No entanto, os R$ 4 mil que seriam usados para pagar a ida ao zoológico, um passeio para a Quinta da Estância, em Viamão, e nas festas de formatura e Natal, não foram devolvidos.
— Foi horrível. Parece que nosso chão caiu. A gente tem uma relação muito boa com a comunidade. Quando isso aconteceu, parece que isso se quebrou. Mas estamos nos reerguendo — afirma a vice-diretora Martina Benitez.
O valor foi recolhido ao longo do ano a partir de doações de pais e professores, além de quantias arrecadados na festa junina, rifas, brechós e venda de doces.
— Este ano íamos fazer uma toguinha para cada um dos alunos do Jardim B, para ser como uma formatura mesmo. Os pais pagavam R$ 16 por mês para a festa e para a roupa — explica Martina.
Na quinta-feira da semana passada, um dia depois de a escola ser invadida, alunos, pais, professores e funcionários saíram em caminhada pelo bairro vestidos de preto com faixas e cartazes pedindo mais segurança. O arrombamento é investigado pela 20º Delegacia de Polícia, que ainda não tem suspeitos do furto.
Desde que o crime aconteceu, uma rede de solidariedade tem fortalecido a escola de 126 alunos. Um dos primeiros gestos foi da própria Quinta da Estância. Os responsáveis pelo local ofereceram o passeio de graça para as crianças, que foi realizado na segunda-feira.
— Houve revolta, mas nos unimos com isso. Pais de alunos, pais de ex-alunos e até um grupo de pagode apareceu nos oferecendo ajuda. Muita gente que nem nos conhece. Uma padaria da Zona Norte ofereceu bolos para nossa festa de Natal — conta a vice-diretora.
Martina acredita que o desafio dos educadores é tentar blindar as crianças do que ocorreu, ainda que as consequências do crime afetem sua rotina. Alguns dos alunos, mesmo tendo no máximo seis anos, questionam os professores sobre como farão para colocar em prática o que tinha sido planejado para as comemorações de fim de ano da escola:
— É muito duro quando as crianças têm de passar por isso. A gente tenta protegê-los disso, mas não tem como evitar porque foi algo que aconteceu na escola deles. Dói muito ouvir eles falarem sobre isso. Ao mesmo tempo, é gratificante ver as pessoas nos ajudando. Eles tiveram de passar por isso, mas com um final feliz. Isso é o mais importante.
Pelo menos R$ 1 mil já foram conseguidos em doações — R$ 3 mil a menos do que o valor levado pelos ladrões. E a instituição segue aceitando ajuda. O dinheiro não é mais guardado na escola. Alarme e câmeras de segurança, que haviam sido quebrados pelos criminosos, foram reinstalados. A instituição também tenta conseguir verba para aumentar a altura dos muros da escola.
Como ajudar
Para contribuir, deve-se procurar a direção da escola, na Rua Dona Otília, 497, no bairro Cruzeiro. Contato pode ser feito por meio do telefone (51) 3266-6766.