Após mais de 15 horas de sessão, a 1ª Vara do Júri de Porto Alegre condenou, na madrugada desta sexta-feira (27), o ex-policial militar Alexandre Camargo Abe a 22 anos de reclusão em regime inicial fechado pelo assassinato do boxeador Tairone Silva, em março de 2011, em Osório, no Litoral Norte. Os jurados condenaram Abe por homicídio qualificado com motivo torpe e recurso que dificultou defesa da vítima. A defesa recorreu, e o réu permanecerá em liberdade.
Ao longo desta quinta-feira (26), o ex-PM confessou o crime alegando que agiu em legítima defesa. De acordo com o réu, expulso da Brigada Militar, houve falhas na investigação e não foi apreendida a camiseta que a vítima usava. O material, ainda segundo Abe, provaria que o tiro foi disparado de uma curta distância, reforçando a tese da briga entre os dois. A promotoria apresentou fotos que constam no processo contrapondo as alegações do réu.
Na sessão, além do depoimento do ex-PM, foram ouvidas seis testemunhas, policiais que trabalharam com Abe e ainda houve uma reconstrução improvisada do crime.
Esta foi a segunda vez que ocorreu a sessão de julgamento do ex-PM — que passou dois anos preso. Na primeira, em Osório, em abril deste ano, o conselho de sentença foi dissolvido após a defesa alegar que não havia segurança para o julgamento prosseguir.
O crime
Segundo o Ministério Público, o boxeador passava em frente à residência do réu, no dia 11 de março de 2011, quando foi chamado por ele, mas seguiu caminhando. O MP declara que o acusado "passou a acompanhá-lo, na mesma direção pela calçada, e sacou da cintura uma pistola Taurus". Depois, segundo a denúncia, atirou e atingiu o rapaz duas vezes.
Para o MP, o crime ocorreu por causa "da intolerância do réu com o grupo de jovens que se reunia com a vítima nas proximidades de sua casa". Segundo testemunhas, Abe reclamou disso várias vezes. Para a promotoria, o assassinato também está ligado ao "sentimento de inveja e frustração de não impor o bastante sua condição de policial à vítima, que tinha projeção nacional dentro do esporte que praticava".
A promotoria também afirma que "tais sentimentos teriam aflorado com o fato de a vítima não ter atendido seu chamado e, em represália, sentindo-se ultrajado e desprezado, efetuou os disparos fatais, impedindo qualquer espécie de reação". A investigação apurou que o policial já havia proferido ameaças a Tairone.