O primeiro dia de julgamento de João Guatimozin Moojen Neto, 28 anos, durou quase 12 horas. Réu pelas mortes dos dois filhos e de um vizinho, de 79 anos, além da tentativa de homicídio contra a mulher, Moojen Neto ouviu a ex-companheira Bárbara Penna de Moraes e Souza, 25 anos, além de seis testemunhas de defesa, falarem sobre ele e sobre a relação do casal. Por fim, foi a vez de ele dar a sua versão.
O depoimento do réu era um dos momentos mais esperados da sessão. Antes da fala, um vídeo de 17 minutos foi apresentado no telão. Nas imagens, Moojen Neto aparece negando que tenha começado o fogo. Depois, admite e diz que jogou Bárbara pela janela. Por volta das 20h30min, o réu começou a falar:
— Não tenho raiva em relação a ela (Bárbara). Na real, nunca esqueci — afirmou, depois de pedir perdão a Bárbara e aos familiares.
De cabeça baixa, disse que o sentimento é de vazio e passou a contar sobre briga que ocasionou o crime, na madrugada de 7 de novembro de 2013, em um apartamento no bairro Jardim Lindóia, na zona norte da Capital. Disse que discussão começou porque ele queria buscar drogas.
Quando o promotor começou as perguntas, a defesa pediu para conversar com réu. Ao retornar, Moojen Neto admitiu ter dado início ao fogo, mas negou que tenha jogado Bárbara pela janela e disse que não sabia que os dois filhos estavam no local. Depois, permaneceu em silêncio e a sessão foi encerrada.
O júri será retomado a partir das 9h desta quarta-feira (4), no Fórum de Porto Alegre. Os debates se iniciam com a explanação da acusação e, em seguida, ocorre a apresentação da defesa. Cada uma das partes terá uma hora e meia. Caso desejem, terão uma hora cada para réplica e tréplica. Depois, o Conselho de Sentença se reúne e o resultado será conhecido.
Para o Ministério Público (MP), Moojen Neto ateou fogo ao apartamento, causando a morte dos filhos – Isadora, de dois anos, e João Henrique, de três meses – e do vizinho Mário Enio Pagliarin, 79 anos. O idoso foi encontrado morto, sufocado pela fumaça, nas escadas do prédio.
O fogo deixou 40% do corpo de Bárbara com queimaduras. Ela teve de ficar quase quatro meses hospitalizada e foi submetida a mais de 230 cirurgias reparadoras. Em um dos momentos mais emocionantes do julgamento, ela retirou o aplique.
— Essa é a verdadeira Bárbara. Assim que eu fiquei. (Chorou e retirou o aplique) É a minha destruição. É do jeito que fiquei. Por ele. Nada disso precisaria estar acontecendo — afirmou.
Moojen Neto responde por um homicídio qualificado tentado (emprego de fogo e recurso que dificultou a defesa da vítima) e três homicídios qualificados consumados, com as mesmas qualificadoras.
O que diz a defesa
A defensora pública Tatiana Kosby Boeira, que atua em defesa do réu, falou com a imprensa pouco antes do início do julgamento. Ela afirmou que se trata de um caso trágico, mas defendeu o réu, afirmando que ele era usuário de drogas e estava sob efeito de entorpecentes na madrugada do crime. Tatiana disse ainda que Moojen Neto sofre de transtorno de personalidade, atestado pelo Instituto Psiquiátrico Forense (IPF).
— Vamos mostrar qual a real responsabilidade dele no caso — afirmou.
Além de Bárbara, serão ouvidas sete testemunhas de defesa, entre elas os pais do réu, o padrasto, um psiquiatra e um preso que divide cela com ele. Moojen Neto está detido na Penitenciária Estadual de Charqueadas.