A ação de um atirador de elite — como ocorreu no Rio de Janeiro nesta terça-feira (20), colocando fim a um sequestro — é o "último degrau", utilizado quando outras alternativas de mediação não dão certo. A análise foi feita pelo comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio Grande do Sul pouco depois de a Polícia Militar carioca abater o homem que fez reféns em um ônibus na Ponte Rio-Niterói.
O tenente-coronel Douglas Soares, à frente dos especialistas em tiros de precisão do Bope no RS, salienta que o responsável pelo disparo precisa de um cenário limpo e seguro para evitar riscos aos reféns:
— Às vezes, o causador da crise está bloqueado por outros reféns. No caso de um cordão humano, por exemplo.
O oficial destaca que os agentes de segurança atuam nessas situações com dois objetivos principais: “salvar vidas e aplicar a lei”. O comandante afirma que os policiais também trabalham para preservar a vida do sequestrador, mas precisam usar a força letal em cenários onde a negociação não é viável para garantir a segurança do maior número de pessoas. Por questões de segurança, Soares não divulgou o número de atiradores de elite do Bope gaúcho.
Como exemplo de uma negociação bem sucedida no Estado, Soares cita o caso do sequestro de um lotação em Porto Alegre, em janeiro de 2002. Na ocasião um auxiliar de cozinha rendeu passageiros e motorista. Após 27 horas de diálogo com agentes de segurança, o sequestrador se rendeu e liberou os últimos reféns. Ninguém ficou ferido na ação.
Protocolo do Bope no RS nesse tipo de ação
1 - Negociação
Agentes tentam garantir a rendição do sequestrador mediante diálogo. Os profissionais tentam encerrar o caso sem o uso da força, imobilizando e detendo o alvo após ele se entregar às autoridades.
2 - Uso de equipe tática
Ao verificar que a negociação não está evoluindo, os integrantes do grupo de crise montado para enfrentar o sequestrador podem promover o uso de uma equipe tática com a intenção de imobilizar o alvo. Essa opção é utilizada quando os responsáveis avaliam que o cenário permite esse tipo de ação com risco baixo de policiais ou reféns feridos.
3 - Uso de atirador de elite
Em um cenário onde a negociação não é produtiva e o uso da equipe tática é arriscado, atiradores de elite, também conhecidos como snipers, podem ser acionados. O emprego do uso letal ocorre apenas em casos onde todas as alternativas de resolução do sequestro são esgotadas, segundo o comandante do Bope. O atirador precisa ter uma visão limpa do sequestrador. Por exemplo, se o alvo está obstruído por algum refém, o disparo não pode ser efetuado. Caso o uso do atirador de elite seja decidido, o especialista responsável pelo disparo tem de garantir que o alvo seja neutralizado para impossibilitar alguma reação que coloque em risco a vida das pessoas no entorno.
Distância do tiro
Em áreas urbanas, o Bope trabalha com um cenário onde o disparo tem de ser efetuado em uma distância de até cem metros. Quando a ação ocorre em localidades rurais, essa distância pode chegar a quilômetros. Nesse caso, o tipo de armamento também muda para garantir a maior precisão do disparo.
Condições para o disparo
No grupo de crise montado para enfrentar o sequestrador, o atirador de elite conta com o auxílio de um colega que fornece informações sobre as condições do tempo no terreno, como altitude, direção e velocidade do tempo e umidade do ar. Com base nesses dados, o atirador consegue um cálculo mais eficaz para garantir a precisão do disparo.
Fuzil de precisão utilizado pelo Bope no RS
Fuzil modelo AR-10 Super Sass
- O fuzil é equipado com luneta da marca Leopold, modelo Mark 4, com magnificação de 4,5 - 14 e objetiva de 50mm.
Munição
Sellier & Bellot, Match HPBT de 168 grains
- Esse tipo de fuzil é utilizado em crise localizada em edificações e em alvos com distâncias até 500 metros. Em áreas urbanas, ele é utilizado até cenário de até cem metros.