Morador de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, um investidor de 34 anos – que pede para não ser identificado – vive momentos de angústia. Desde janeiro, diz ter aplicado R$ 10 mil em criptomoedas por meio da inDeal Consultoria, que se tornou alvo da Operação Egypto, deflagrada na manhã desta terça-feira (21) pela Polícia Federal (PF), com apoio da Receita Federal e da Polícia Civil. Agora, o homem não sabe se conseguirá reaver o dinheiro.
Com sede em Novo Hamburgo, a companhia é investigada por movimentar valores sem autorização do Banco Central em suposto esquema de pirâmide financeira, oferecendo a interessados retorno de até 15% no primeiro mês de aplicação.
Além dos crimes de operação de instituição financeira sem autorização legal, gestão fraudulenta, apropriação indébita financeira, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o inquérito apura o envolvimento de pessoas que teriam tentado obter informações sigilosas da investigação e que foram identificadas.
Assim que veio à tona, a notícia disseminou incertezas entre as pessoas — uma delas é o morador de Cachoeirinha. Ele conta que chegou à empresa por indicação de um colega de trabalho. Fez contato, recebeu a visita de um corretor e começou aplicando R$ 5 mil, em janeiro deste ano.
— O contrato foi assinado em cartório, com firma reconhecida. Parecia tudo certo — relata.
No mês seguinte, ele soube que a inDeal estava sendo investigada pelo Ministério Público Federal (MPF), mas, como a empresa seguiu operando, concluiu que podia continuar investindo e ampliou os aportes, atingindo, gradualmente, a soma de R$ 10 mil. Ele diz ter lucrado cerca de R$ 1 mil e ter mantido o valor na conta para potencializar os ganhos. Nesta terça-feira, assim que soube da operação policial, solicitou o resgate dos R$ 11 mil.
— Todo o dinheirinho que conseguia economizar, colocava nisso. O que me levou a crer que estava tudo certo foi a própria investigação do Ministério Público, que não fechou a inDeal. Achei que não havia irregularidades, e nunca tive nenhum problema com a empresa. Agora todos os corretores garantiram que esse valor vai ser ressarcido, mas estou em dúvida — pondera.
Ele conta que, até fevereiro, quando o MPF começou a investigar a companhia, os clientes depositavam dinheiro diretamente para a empresa comprar criptomoeadas e que o retorno era de 15% ao mês — os investigadores desconfiam que o valor seria usado em outros investimentos e na compra de bens. Depois disso, o sistema teria sido modificado.
— Após a investigação, a gente comprava os bitcoins em um site específico de compra e venda de moedas digitais e encaminhava para a empresa administrar, com taxa de retorno de 9% — recorda.
O investidor afirma ter amigos que direcionaram toda a poupança para o negócio, com valores de R$ 90 mil a R$ 100 mil. Eles também solicitaram resgate nesta terça e estão preocupados. O morador de Cachoeirinha garante que não sabia que a empresa atuava sem autorização do Banco Central e teme arcar com prejuízos.
— O delegado (superintendente da PF no Estado, Alexandre da Silveira Isbarrola) disse na Rádio Gaúcha que, para garantir o pagamento de todos, foram apreendidos bens dos investigados (veículos e artigos de luxo). Só que não ficou claro como o ressarcimento vai acontecer. Eu e meus amigos já conversamos e estamos pensando em procurar um advogado para nos ajudar a buscar informações na Polícia Federal — conclui.
O nome da empresa não foi divulgado pela PF, mas a reportagem confirmou a identificação ao ir até a sede onde os mandados foram cumpridos.
O advogado da inDeal, Julião Ludwig, afirmou que ainda não teve acesso ao inquérito e, por isso, não tem detalhes da investigação. Entretanto, o defensor salienta que em outra operação em janeiro já foi comprovado a inexistência de pirâmide, o que deve ocorrer novamente agora.