A promessa de dinheiro fácil fez pessoas investirem valores em dois supostos esquemas de pirâmides investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) das empresas InDeal Consultoria em Mercado Financeiro e Unick Forex, com sedes no Vale do Sinos. Segundo o procurador da República Celso Tres, houve até casos de pessoas que teriam feito empréstimos com a intenção de ter retorno financeiro maior.
Entre as promessas, estaria lucro mensal de 15% sobre o montante investido, fixado em contrato assinado. Além disso, seriam oferecidos mais 5% de ganhos sobre valores de pessoas indicadas. Somados, os rendimentos poderiam chegar a 20% por mês. Ou seja, caso fosse aplicado R$ 100 mil, o retorno seria de R$ 20 mil.
— Quando a pirâmide ainda estava se consolidando, eles até pagavam, as pessoas ganhavam um dinheiro e as vítimas ficavam seduzidas. Entretanto, a grande maioria não ganhou nada. No final do ano passado, passamos a receber reclamações de falta de pagamento — observa o procurador, que não revela quantas denúncias foram feitas contras as empresas por suposta fraude.
Para as supostas vítimas, seria explicado que o dinheiro seria aplicado em fundo para compra e venda de criptomoedas. Os investigadores identificaram que a InDeal chegou a movimentar mais de R$ 100 milhões no final ano passado, o que chamou a atenção da Receita Federal.
Agora, o MPF está fazendo o rastreamento do patrimônio e dos valores depositados às empresas. A orientação para quem investiu dinheiro é tentar resgatar o montante aplicado.
— Estamos fazendo rastreamento patrimonial. Mas os administradores já adquiriram veículos, imóveis de luxo e muitos se desfizeram desses bens — salienta Tres.
Entre maio e outubro de 2018, a InDeal comprou R$ 2,4 milhões em imóveis. Segundo o MPF, nesse período, três dos cinco sócios também adquiriram R$ 7,05 milhões em bens, o que totaliza R$ 9,45 milhões. Também foi identificada a compra de carros de luxo.
Como o suposto esquema foi identificado
O MPF apontou três elementos para identificar o investimento como um esquema Ponzi, como é conhecido esse tipo de golpe. Um deles é o "rendimento prometido altíssimo", acima de opções do mercado. O outro ponto seria a aplicação dos recursos em criptomoedas, considerado "novo e bastante desconhecido do público em geral dificultando a avaliação e críticas dos enormes ganhos prometidos".
Por último, foram identificadas restrições contratuais para retirada de dinheiro por parte dos investidores: "limite mensal de solicitação de resgate será de uma vez em um mês sem qualquer tipo de taxa ou desconto. Havendo mais de uma solicitação de resgate será cobrada taxa de 4,5% do valor solicitado a cada nova solicitação. Após completar a vigência de um mês do presente contrato, o cliente contratante poderá a qualquer tempo solicitar o resgate integral ou parcial de seus ativos criptográficos acrescidos do ganho de capital".
Também chamou a atenção do MPF o capital social da empresa InDeal, anunciado como
R$ 100 milhões. "Levando em consideração que a empresa foi criada com um capital social de R$ 25 mil em 2011, é uma evolução bastante expressiva em tão pouco tempo", observou o procurador.
Ainda segundo Tres, a empresa apresentou crescimento financeiro de 61.000%. "Com relação aos sócios, a movimentação financeira é incompatível com os rendimentos declarados. No mês de junho, a movimentação financeira dos cinco sócios variou entre
1.100% e 13.600% superior aos rendimentos".
Para o procurador, o suposto esquema pode "causar estragos na poupança popular da região do Vale dos Sinos. Apuramos que diversas pessoas na região estão realizando aportes na ordem de centenas de milhares de reais nesse esquema, proporcionando aos fraudadores enriquecimento ilícito às custas dos clientes contratantes".
Contraponto
A reportagem de GaúchaZH tentou contatar as empresas por telefone. Até a publicação desta notícia, a InDeal e a Unick Forex não atenderam aos telefonemas.