Uma mazela da segurança, que se tornou rotina no Estado nos últimos dois anos, com presos custodiados dentro de viaturas, revela aspecto ainda mais grave no bairro Navegantes, na Capital. Além de serem mantidos algemados em dois micro-ônibus, em frente à 3ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), na Zona Norte, por falta de vagas em presídios, detentos reclamam de não receberem alimentação.
— Hoje ainda não veio nada — reclamou um dos presos, pouco antes das 16h.
A escassez de alimentação teria se agravado nos últimos três dias. Isso em um contexto no qual os detentos já estão sendo mantidos dentro das viaturas de forma improvisada. Um dos veículos, durante a tarde, abrigava 10 presos. Em uma disputa de espaço, presos estendem cobertores no chão, onde dormem amontoados. Alguns deles estão ali há mais de uma semana, sem banho.
— A gente só quer uma vaga no presídio. Ninguém aguenta mais ficar aqui — reclama um dos homens, que está no local há cinco dias.
Neste período, a única refeição do dia costuma chegar no fim da tarde. Na quinta-feira (25), teriam recebido apenas três marmitas para nove pessoas. Nesta sexta-feira (26), a primeira refeição para 15 homens chegou às 16h, com o que seria o almoço. Mas a comida estava completamente estragada, inclusive cheirava mal.
Em um dos veículos, um preso deitado exibe um ferimento no abdômen. Outro está com o braço quebrado. PMs atravessam a rua e levam mais um para dentro do micro-ônibus.
— A culpa não é deles (dos PMs) de não ter comida. Não tinham que estar aqui — concorda um dos presos.
Sem comida, os presos ficam agitados. Pedem que familiares possam levar alimentação.
— Alguém liga para minha mulher, diz para ela trazer comida pra mim — reclama um.
O dia a dia da custódia se torna ainda mais tenso para os policiais, que precisam carregar os presos de um lado para o outro. Ao fim do turno, estão todos exaustos.
— A gente queria estar na rua, fazendo policiamento. Mas precisa ficar aqui — reclama um dos PMs.
Os presos que permanecem ali são detidos em flagrante, que não podem ser enviados para presídios por falta de vagas. Dentro da 3ª DPPA também não há mais espaço. Para manter esses detentos, é preciso que policiais militares do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e do 20º BPM permaneçam fazendo a custódia.
A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) reconheceu o problema com a alimentação dos presos e informou que está buscando uma solução.
Metade dos presos em viaturas
Segundo levantamento da Ugeirm Sindicato, que representa escrivães, inspetores e investigadores da Polícia Civil, na Região Metropolitana havia, pelo menos, 171 presos em 10 delegacias na tarde desta sexta-feira. O Departamento de Polícia Metropolitana afirmou que dos 141 presos em oito delegacias, sob sua responsabilidade, às 16h30min metade estava dentro de viaturas.