Desolada e ainda buscando respostas para a violência que paralisou a cidade, Suzano (SP) se despediu, nesta quinta-feira (14), das vítimas do massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil. Em cortejo fúnebre, depois de um velório coletivo no ginásio municipal, os corpos de quatro alunos e de uma funcionária da instituição foram enterrados no Cemitério São Sebastião, em clima de incredulidade e indignação.
A cerimônia começou por volta das 7h, na Arena Suzano. Lado a lado, em caixões a abertos, rodeados por cinco dezenas de coroas de flores, foram velados no local os corpos de seis, dos 10 mortos: os estudantes Claiton Ribeiro, 17 anos, Caio Oliveira, 15, Samuel Melquíades, 16, e Kaio Limeira, 15, além das funcionárias Marilena Umezu, 59 anos, e Eliana Xavier, 38. Durante todo o dia, milhares de pessoas passaram pelo ginásio, onde foram celebrados dois cultos ecumênicos. Cerca de 50 profissionais da rede municipal de saúde, entre psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais, acompanharam mães em desespero, país atônitos e uma comunidade traumatizada. Nas mãos, um homem carregava um cartaz pedindo “mais segurança”. Uma bandeira brasileira foi estendida na arquibancada.
– Ainda não dá para acreditar no que aconteceu. Estamos todos tentando entender – desabafou o familiar de um dos mortos, inconsolável.
Por volta das 8h10min, acompanhado do prefeito Rodrigo Ashiuchi, o ministro da Educação, Ricardo Vélez, esteve no ginásio, onde conversou com os parentes dos que se foram. Deixou o recinto uma hora depois, sem falar com a imprensa.
Às 14h, religiosos conduziram um ato de despedida, no qual pediram paz.
– Por mais que tudo isso aconteça, nosso caminho não será desviado. Não vamos acreditar, nunca, que a violência vence – disse o bispo Dom Luiz Stringhini, da Diocese de Mogi das Cruzes, município vizinho.
A partir das 15h, os esquifes foram transportados aos poucos – um a cada 30 minutos – para o enterro. O primeiro foi o de Samuel, que saiu sob uma salva de palmas.
O corpo de Marilena foi o único a não ser levado no comboio, porque a família aguarda um filho da educadora, que chega nesta sexta-feira (15) da China.
Também por decisão de familiares, o velório de Douglas Murilo Celestino, 16 anos, começou por volta de 1h desta quinta, em uma igreja evangélica de Suzano. Já o corpo do comerciante Jorge Antônio de Moraes, morto a tiros pelo sobrinho Guilherme Monteiro, 17 anos, um dos autores da matança na escola, foi velado no Cemitério Colina dos Ipês, em Suzano, onde foi sepultado por volta das 11h. Até o início da tarde, não havia informações confirmadas sobre o funeral dos assassinos, Monteiro e Luiz Henrique de Castro, 25 anos.
O drama de Suzano começou por volta das 9h30min de terça-feira (12), quando a dupla invadiu a escola com um revólver calibre 38, quatro carregadores, uma besta (arma que dispara flechas), machados e artefatos que pareciam ser explosivos. Ex-alunos da instituição, os dois chegaram atirando a esmo. Deixaram oito mortos, pelo menos uma dezena de feridos e também morreram – segundo a polícia, um disparou na cabeça do outro e depois se matou. Também foi morto o tio de Guilherme, Jorge Antônio Moraes, dono da locadora Jorginho Veículos, onde a dupla roubou o carro que usaria para chegar ao colégio.