Uma das testemunhas mais esperadas pela defesa de Leandro Boldrini no júri do caso Bernardo é o perito Luiz Gabriel Costa Passos, aposentado do Instituto de Criminalística do Paraná. Os advogados querem mostrar que o receituário apreendido pela polícia, usado para comprar Midazolam, não foi assinado por Boldrini. Midazolam é o remédio que teria causado a morte de Bernardo Uglione Boldrini, em 4 de abril de 2014.
A perícia do Instituto-geral de Perícias (IGP) foi inconclusiva sobre a assinatura ser ou não de Boldrini. O resultado do IGP diz que não foi possível atestar a "autenticidade ou inautenticidade" da assinatura. Para a testemunha, a assinatura não é do "punho de Lenadro Boldrini". Ele diz que foi uma "imitação".
Logo no começo de sua fala o perito explicou:
— Só pego uma perícia se o interesse da parte puder ser compatibilizado com a verdade científica.
Passos também contou que ao ser procurado pela defesa de Boldrini, alertou que "não se comprometia com resultado que fosse do interesse da defesa". O profissional contratado pela defesa disse que analisou 160 assinaturas de Boldrini para fazer a comparação. O perito disse ter encontrado "sete divergências gráficas significativas" ao comparar hábitos gráficos de Boldrini com o material apreendido.
— Esses hábitos não existem na assinatura questionada. Constatei defeitos de traçado na assinatura questionada — disse o perito, que seguiu: — No centro da assinatura questionada tem interrupção anormal do movimento da escrita, parada e retomada da caneta. Quando não existem nos padrões essa parada e retomada e existem em assinatura questionada revelam indícios fortes de falsificação gráfica.
Segundo o perito, essas paradas seriam necessárias para que a pessoa que está fazendo a falsificação possa visualizar novamente o modelo que está tentando copiar.
Usando apresentação no telão e se dirigindo aos jurados, o perito discorreu sobre as divergências que afirmou ter encontrado em suas análises.A testemunha também informou ter mandado questionamentos aos peritos do IGP sobre as divergências que encontrou em seu trabalho. Segundo Passos, a resposta foi confusa.
As defesas dos outros três réus não fizeram questionamentos ao perito. A promotora Sílvia Jappe questionou o motivo de a defesa só ter juntado o parecer técnico do perito ao processo na semana passada e quis saber quanto Passos recebeu pelo trabalho. O perito se negou a dizer por se tratar de questão de "foro íntimo".
O promotor Ederson Vieira começou perguntando a diferença entre assinatura e rubrica.
— Rubrica é maneira de pessoa grafar sua assinatura mais simplificada — disse o perito.
Vieira ponderou que o material questionado — que está no receituário apreendido — é uma rubrica e não uma assinatura. O promotor questionou por que o perito comparou rubrica com assinatura. Também perguntou sobre a coleta de padrões gráficos de Boldrini. Vieira foi contundente em seus questionamentos, dando a entender que as comparações teriam sido feitas com materiais gráficos que beneficiassem a tese da defesa.
A contundência resultou em bate-boca. O advogado Rodrigo Grecelle disse que o promotor Vieira estava desrespeitando a testemunha. Vieira rebateu:
— Falta de respeito é vir do Paraná e desprestigiar os peritos do Rio Grande do Sul.
Vieira, então, apresentou aos jurados conclusão do IGP sobre as assinaturas. A defesa de Boldrini reclamou do que chamou de ataque do MP sem possibilidade de defesa, ao que a juíza autorizou que o perito falasse novamente. A sessão foi encerrada por volta das 13h30min, com intervalo para almoço, e deve ser retomada à tarde.