Criminosos atiram contra a Guarda Municipal em uma das principais avenidas de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, em plena manhã desta sexta-feira (6). Esse foi o sexto (leia abaixo) ataque a agências bancárias no Rio Grande do Sul em apenas 30 horas. Em cinco regiões distintas, ladrões armados e com emprego de explosivos invadiram bancos, renderam moradores, entraram em confronto com a polícia e incendiaram veículos. Investigações preliminares dão conta de que os mesmos grupos estiveram envolvidos em ataques anteriores no Estado.
Para o delegado João Paulo de Abreu, da Delegacia de Roubos, pelo menos três grupos organizados estariam envolvidos nos ataques ocorridos entre a madrugada de quinta e a manhã de sexta-feira.
— Infelizmente, a gente percebe a existência de três grupos distintos que estão atacando nosso Estado com explosivos. São bandos que tiveram parte das suas ações desmanteladas por conta da polícia e se reorganizaram. Esses criminosos atacam com balaclava, luvas, têm queimado veículos, e agem em horários nos quais a resposta das forças policiais é dificultada, por conta do efetivo menor na madrugada — afirma.
Antes do ataque no Vale do Sinos, criminosos explodiram agência do Banrisul em Boa Vista do Incra, no Noroeste. A cidade de 2,5 mil habitantes estava sem PMs no momento.
O delegado entende que a falta de efetivo não é fator preponderante na escolha dos alvos pelos criminosos:
— Logicamente que é um dos fatores, mas eles conhecem muito bem a região, são organizados e sabem as rotas de fuga. Os criminosos que atuam unicamente no roubo a bancos, assalto a carro-forte, com emprego de explosivos, integram grupos organizados no uso de explosivos, armamentos e procedimentos do crime — argumenta.
A sequência de ataques segue tendência identificada por levantamento realizado pela Rádio Gaúcha. Em 2018, ocorreram ao menos 87 ataques (como furtos e roubos a bancos e caixas eletrônicos) no Estado. Desses, 53 foram nos primeiros 10 dias, o que corresponde a 60,91% das ocorrências. Para Abreu, isso se justifica pelo período de maior circulação de valores.
— O próprio período do mês é propício a esses ataques. Período sabático, se reorganizarem. Houve em junho ataque em Santo Expedito do Sul, onde a principal pessoa foi presa. Esse grupo se reorganizou e agora veio atacar em Jaquirana – afirma, onde três acabaram mortos pela BM.
Para o professor de Tecnologia em Segurança Pública e Gestão Pública da Feevale Charles Kieling, a série de ataques a bancos pode ser reflexo da migração do crime organizado, que foi em busca de “mercado” rentável.
— No último ano, houve descaracterização dos grupos criminosos no Rio Grande do Sul devido à crise econômica. A alternativa que eles encontraram foi migrar de assaltos e roubos para os bancos.
Já o delegado não vê migração do crime para ataques a banco:
– Por vezes, os crimes patrimoniais têm relações com facções, mas não vejo de forma tão contundente. Vejo que crimes patrimoniais hoje não geram tanto lucro quanto o tráfico.
Municípios cobram identificação de autores
Prefeito de Garibaldi, na Serra, e recém-empossado presidente da Federação das Associações dos Municípios (Famurs), Antonio Cettolin salienta que os ataques a bancos têm causado tensão em cidades pequenas. Para tentar ajudar a deter os crimes, prefeituras de cidades próximas se unem para equipar a polícia local. Compram de novas viaturas a armas pesadas, além de câmeras de monitoramento.
— Temos feito de tudo um pouco. Nós, municípios, estamos juntos, participando, mas não somos especialistas em segurança — analisa.
Em Canoas, na entrada de agência, roubo com morte
Ao chegar para fazer depósito em um Itaú, no bairro Niterói, em Canoas, às 10h30min de sexta-feira, Oli Lenz, 49 anos, foi morto em um assalto. Conforme o coronel Oto Eduardo Amorim, da Brigada Militar, a vítima iria depositar R$ 5 mil e, ao se aproximar do banco, foi abordada por dois homens armados.
Ainda segundo Amorim, a vítima teria reagido com socos à abordagem dos criminosos, que atiraram, roubaram o dinheiro e fugiram em um Palio. Na fuga, colidiram em um ônibus, e foram presos. Policiais recuperaram R$ 3,5 mil – o restante teria sido dado a um terceiro criminoso, que fugiu. Os presos – Wellington Alberto Mello da Silva, 20 anos, e Douglas Rodrigues da Silva, 23 – disseram à BM que o roubo era encomendado.Com eles, foi apreendida uma pistola.
"Crime chega com fuzil e dinamite"
Na maioria das vezes, os ataques são bem-sucedidos porque os criminosos estudam a região antes de cometer o crime, alerta o professor de Tecnologia em Segurança Pública e Gestão Pública da Feevale Charles Kieling. Sabem quando a cidade estará sem efetivo da Brigada Militar e a hora em que o banco será "abastecido" com dinheiro. Além disso, analisam possíveis rotas de fuga. Assim, sabem, momento certo para agir e por onde escapar.
— As cidades que podem ser atacadas também não são monitoradas pela polícia. É essa
situação que as corporações têm de começar a se dar conta.
Para Kieling, é preciso intensificação no trabalho de inteligência policial, que pudesse monitorar criminosos e frustrar possíveis ações.
— Os órgãos de segurança não desenvolvem estrutura de inteligência. No sentido de identificar como o crime está conversando dentro do presídio, por exemplo. Não adianta exigir da agência bancária tinta em caixa eletrônico, porta blindada, vidro blindado, vigilante armado. O crime chega de fuzil, metralhadora e dinamite. Para isso há necessidade do Estado, de desenvolver trabalho de inteligência para evitar que o crime chegue a ocorrer, que faça o que quer.
O coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, José Vicente da Silva Filho, também vê a necessidade de mais ações de inteligência policial.
— Hoje, 10% dos criminosos respondem por 70% dos crimes nas cidades. A polícia precisa saber onde está agindo, estar atenta à dinâmica criminal. Aqui em São Paulo, cada área da cidade, equivalente a um distrito policial, tem de refazer o planejamento das ações policiais semanalmente.
Para Kieling, é preciso criar barreiras nas proximidades das agências para reduzir as chances de fuga. Entre elas estão lombadas eletrônicas, redutores de velocidade e rotatórias próximo das agências.
— Os criminosos chegam e encontram pista livre. Há uma necessidade de pensar em gestão de risco. Não adianta colocar o PM ali na frente. Tem de dificultar. Bandido gosta é de facilidade. Tem de fazer gestão de risco do cenário para criar dificuldade onde existe a agência bancária. Envolve a prefeitura. Não só a agência bancária. A agência já faz o seu trabalho. Quanto mais dificuldade, pior é o acesso.
O coronel da reserva paulista reconhece que a estrutura policial é deficitária na maior parte das cidades pequenas do país. Por isso, segundo ele, é preciso encontrar mecanismos para dificultar o crime. O oficial cita o caso de caixas eletrônicos que foram projetados com bocal pequeno – que dificulta a colocação de dinamite – e ainda com cofre com placa de aço de 2 centímetros de espessura.
— Se colocar explosivos fora do caixa, não vai abrir. As soluções precisam vir de todos os lados — analisa.
O que diz a BM
Por meio de nota, o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Eduardo Biacchi Rodrigues, manifestou a posição da corporação:
"A missão legal da Brigada Militar é exercer a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Nesse contexto, a Corporação atua diariamente tanto em ações preventivas quanto repressivas. O planejamento das ações é norteado por uma análise minuciosa dos crimes em geral, trabalho este realizado pela inteligência policial da Brigada Militar. A partir dos relatórios gerados a Brigada Militar desenvolve várias operações buscando enfrentar o avanço da criminalidade e proporcionar segurança a sociedade gaúcha. Atualmente, o crime o que mais tem tomado a atenção da polícia é o de furto e roubo a banco, em especial nas cidades do interior. E para conter esse tipo de delito, a BM desenvolveu a Operação Avante Paz Interior, que tem por finalidade atuar fortemente nos ataques a bancos, em especial naqueles com uso de explosivos ou com cordão humano. São crimes que têm a prioridade do comando da BM, em face ao elevado grau de violência que apresentam.
A operação Avante Paz Interior realiza patrulhamentos, abordagens e barreiras em regiões do interior do RS, com tropas de operações especiais e apoio de helicópteros tripulados com policiais do GATE. Estas tropas são treinadas e possuem forte poder de reação armada. Desta maneira se consegue atuar de forma qualificada, diminuindo o tempo de resposta e aumentando o número de cidades do interior com cobertura policial especializada. Em resumo, atua-se com todo o recurso policial disponível para fazer frente ao crime.
Na distribuição de novos policiais militares para os municípios, sempre é levado em consideração o índice de criminalidade e a defasagem de policiais que apresentam. A distribuição é calcada em estudos criteriosos."
Os ataques
Novo Hamburgo - 9h09min - sexta-feira
Três criminosos armados com pistolas e fuzil invadiram uma agência do Santander, na esquina da Avenida Pedro Adams Filho com a Rua Joaquim Nabuco, no centro da cidade. O grupo rendeu funcionários e clientes que aguardavam atendimento e, em seguida, recolheu o dinheiro dos caixas. Trocaram tiros com guardas municipais. Fugiram em um Cruze, que foi encontrado queimado no centro da cidade.
Boa Vista do Incra - 3h30min - sexta-feira
Quatro homens armados participaram da explosão de uma agência do Banrisul no Noroeste. A cidade com 2,5 mil habitantes estaria sem policiamento no momento do fato. Os ladrões teriam conseguido levar dinheiro de apenas um dos terminais. Os bandidos fugiram por estradas vicinais da região e teriam jogado miguelitos (pregos retorcidos) na BR-158. Um veículo da BM e um caminhão tiveram pneus furados.
Jaquirana - 13h30min - quinta-feira
Assaltantes fizeram um cordão humano com moradores do município da Serra durante o roubo a dois bancos, uma lotérica e um posto de combustíveis. Primeiro, ocorreram os ataques aos Banco do Brasil e Banrisul. Depois, arrombaram os estabelecimentos, que estavam fechados devido aos assaltos. Na fuga, os assaltantes levaram dois reféns, libertados em seguida. Três suspeitos do assalto morreram em confronto com a BM.
Canguçu - 3h15min - quinta-feira
Quatro criminosos explodiram o Banco do Brasil, durante um apagão na energia elétrica. Na ação, assaltaram um caminhão, incendiaram e atravessaram o veículo na BR-392, para evitar chegada de reforço policial. Em Canguçu, no quartel da BM espalharam pregos retorcidos para furar pneus das viaturas. A BM acredita que os bandidos desligaram a energia elétrica. A Polícia Civil suspeita que a interrupção é decorrente das explosões.
Maximiliano de Almeida - 3h15min - quinta-feira
Bandidos atacaram a agência do Banco do Brasil do município, no norte do Estado. Eles espalharam miguelitos no trajeto. Os criminosos atiraram nos vidros da agência, utilizando espingardas calibre 12. Eles invadiram o local, mas não conseguiram roubar o dinheiro dos caixas e do cofre. Segundo a polícia, o bando escapou sem levar nada após o alarme soar.