Um misto de homenagem e protesto marcou o enterro do motorista de aplicativo Sidney Moreira, 41 anos, na manhã desta segunda-feira (23). A cerimônia ocorreu no Cemitério Jardim da Paz, na zona leste de Porto Alegre, e foi antecedida por uma carreata de motoristas de aplicativos pelas ruas e avenidas da cidade.
Segundo estimativa de organizadores, mais de 400 carros participaram da marcha, que seguiu até o cemitério. Muitos carros levavam a mensagem: "Mais um para tua conta, Marchezan". Os motoristas criticam a retirada de três emendas pelo prefeito na sanção das leis dos apps, uma delas que permita ao motorista aceitar ou não viagens com pagamento em dinheiro.
—A gente não sabe quem é o próximo, a gente trabalha à noite e fica exposto à criminalidade — entende Lucas Schardosim, 29 anos, que trabalha há um ano e meio com aplicativos de transporte.
No cemitério, o cortejo contou com a presença de dezenas de pessoas. Muitos percorreram em prantos o caminho da capela, onde o corpo estava sendo velado, até o jazigo.
O sepultamento foi marcado por orações e uma salva de palmas ao motorista. De repente, um homem ergue a voz em meio ao enterro e passa a fazer uma homenagem a Moreira. Era Jordano Souza, 40 anos, que atua em três aplicativos diferentes há mais de um ano.
— Ele batalhou para sustentar a família e acabou sendo morto. Não vamos deixar que seja mais um — disse.
Em seguida, pediu que outros condutores levantassem seus celulares para demonstrar que não eram poucos. Em gesto contínuo, dezenas de celulares foram erguidos. Apesar de chamá-lo de colega, ele não conhecia pessoalmente a vítima, mas acabou se colocando no lugar dele.
— A ideia era alertar o risco que estamos passando — conta.
Vizinho da família, o motorista Reinaldo da Silva Almeida, 61 anos, lamentou a morte.
— É uma coisa sem explicação. Ele era uma pessoa muito boa.
Polícia busca imagens
A Polícia Civil aposta em imagens de câmeras de segurança para esclarecer a morte de Moreira. De acordo com a delegada Caroline Jacobs, na manhã desta segunda-feira (23), os policiais estão nas ruas à procura das câmeras e ainda não há certeza sobre a existência das imagens.
Agentes também irão trabalhar para ouvir de maneira formal os familiares de Moreira, para ver se ele tinha algum desafeto. Em um primeiro momento, a hipótese de latrocínio — roubo com morte — é a que surge com mais força.
— Trabalhamos com a hipótese porque ele trabalhava com dinheiro e não foi encontrado cédulas e o celular, mas ainda é uma possibilidade, não conseguimos descartar outras linhas — resume a delegada.
A Delegacia de Homicídios também pediu à Uber o trajeto da última corrida feita por ele antes de seu desaparecimento. A polícia trabalha com a informação de que o aplicativo estava ativo no momento do crime.
Até o momento, não há suspeitos.
Segundo levantamento de GaúchaZH, este é o 13º motorista de aplicativo assassinado na Grande Porto Alegre desde 2016.
O que diz a EPTC:
A assessoria da Prefeitura afirmou que a Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) deveria ser procurada sobre o assunto. Confira nota:
Com foco na segurança ao usuário e na qualidade, a regulamentação do transporte por aplicativo proposta pelo município atualizou a legislação sobre o serviço, que já é uma realidade na cidade. Por se tratar de uma atividade privada, o município tem limites legais de ingerência, não podendo influenciar no modelo de negócios das empresas. Para mais segurança para os motoristas e usuários, entre as determinações, as empresas deverão ser registradas e autorizadas pelo município para exercer a atividade, por meio da Empresa Pública de Transporte de Circulação (EPTC). A possibilidade de pagamento em dinheiro não pode ser limitada por uma lei municipal, pois se trata de regra federal e também uma decisão da prestadora do serviço. Neste quesito, o motorista pode escolher a plataforma que será parceiro, pois existem as que aceitam moeda corrente e outras que não. Assim como a informação prévia, na solicitação do veículo, de pontos de origem e destino do passageiro, sendo um direito da empresa escolher como deseja operar. Os dados de cadastro de usuários são fornecidos às empresas. Não podemos exigir a exposição dessas informações do usuário pela prestadora do serviço sem inferir no modelo de negócios. Aguardamos a redação final da lei, que deve ser enviada pela Câmara após a votação dos vetos, para avaliar a nova regulamentação.