Seis pessoas foram indiciadas pela morte de três homens que participavam de um jogo de futebol no parque esportivo da PUCRS, em Porto Alegre, em dezembro do ano passado. Além delas, uma adolescente também vai responder pelos assassinatos de Fabio Rover Domingues, 26 anos, e Rodrigo Santos de Almeida, 33 anos, e de um terceiro homem que morreu após mais de três meses internado no hospital. Uma quarta pessoa ficou ferida no jogo.
O inquérito foi concluído na última sexta-feira (1) e encaminhado para a Justiça. Os resultados finais da investigação foram apresentados à imprensa nesta segunda-feira (4) pelo delegado Rodrigo Reis, da 1ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre (DHPP).
Dos seis indiciados — que não tiveram os nomes divulgados pela Polícia Civil —, cinco já estão detidos no sistema prisional, e uma mulher de 32 anos está solta. Eles responderão por homicídio duplamente qualificado — por motivo torpe e por impossibilitar a defesa das vítimas — formação de quadrilha e uma tentativa de homicídio.
Desde o início, a polícia trabalhava com a hipótese do crime ser um acerto de contas de facções rivais ligadas ao tráfico de drogas. Durante as investigações, descobriu-se que Domingues seria um dos cinco indiciados pela morte de João Carlos da Silva Trindade, o Colete, ocorrida em agosto do ano passado.
Além dos seis indiciados, outras quatro pessoas teriam participado do crime, entre elas a adolescente de 15 anos. Dois homens foram mortos ao longo da investigação, e a polícia tenta descobrir a identidade do 10º suspeito, que ficou ferido no tiroteio.
Câmeras ajudaram a identificar envolvidos
O delegado salienta que imagens de câmeras do complexo esportivo ajudaram a identificar nove dos 10 envolvidos. Na gravação, a adolescente de 15 anos e a mulher de 32 anos aparecem analisando inicialmente o local, antes da chegada dos oito homens, todos armados.
— Elas circularam ao redor do campo e pelo complexo buscando identificar o início da partida e também a melhor entrada para o local do fato. Depois disso, essas duas mulheres saem, encontram os oito homens e entram com eles, indicam o caminho e saem antes do tiroteio. E, na sequência, inicia o tiroteio e essas pessoas são mortas.
O alvo, segundo Reis, era um time formado por integrantes de uma quadrilha que controla o tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição. Na partida, participavam duas lideranças desse grupo - um deles acabou morto (Domigues) e outro conseguiu fugir do local, sem se ferir.
— O objetivo era atingir as lideranças e outras pessoas envolvidas com a criminalidade na Vila Maria da Conceição. E foi praticado por uma facção rival a deles, que é a mesma que vem praticando diversos tiroteios aqui na Vila Maria da Conceição desde aquela época — salienta Reis.
Conforme o delegado, essa facção rival atua no bairro Bom Jesus e vem tentando ampliar território, para controlar a Vila Maria da Conceição. Na semana passada, um tiroteio entre traficantes se estendeu por mais de meia hora na região. A situação causou medo e confusão entre moradores da região. Alguns disparos atingiram residências e a polícia está averiguando se também acertaram o muro da escola de ensino fundamental Pequena Casa da Criança, que teve as atividades suspensas na parte da tarde.
O grupo também é investigado pela morte de cinco pessoas no bairro Lomba do Pinheiro, zona leste da capital gaúcha, em dezembro do ano passado. A chacina aconteceu em duas casas na Avenida Deputado Adão Pretto, antigo Beco da Taquara.
Sem relação com morte de Colete
Ainda segundo o delegado, o tiroteio durante o jogo de futebol não teria relação direta com a morte de João Carlos da Silva Trindade, o Colete. Reis explica que o assassinato dele ocorreu por disputas internas da facção que controla a Vila Maria da Conceição.
— Tem vinculação com outra disputa, que surgiu justamente com a reorganização da Vila Maria da Conceição — explica.
Após a morte de Colete, o grupo que ele liderava passou a manter vínculos com facção que comandava o bairro Santa Tereza, na zona sul da cidade.
— Essa facção rivaliza historicamente com o pessoal que ocupa e que controla o tráfico e a distribuição de drogas no bairro Bom Jesus e isso acabou, de acordo com o nosso trabalho de investigação, chamando a atenção dessa facção com o bairro Bom Jesus. Eles acabaram fazendo outras parcerias com pessoas que tinham até certo conhecimento da Vila Maria da Conceição e agora está nessa disputa intensa para controlar a vila, que sempre foi um ponto de venda de drogas muito rentável na capital — detalha Reis.