O mês de abril, quando foram inauguradas duas delegacias especializadas em crimes rurais no Rio Grande do Sul, apresentou redução de 34% nos crimes de abigeato (furto de animais) em comparação com o ano passado. Foram 458 registros contra 690 realizados no mesmo período de 2017. A média diária também teve queda: passou de 23 para 15 casos. As delegacias são continuidade da força-tarefa, criada em agosto de 2016, para combater esse tipo de crime no Estado.
O foco das DPs Especializadas na Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato (Decrab), instaladas em Bagé, na Região da Campanha, e em Santiago, na Região Central, é o combate ao crime organizado. Além do abigeato, são investigados casos de receptação e furto ou roubo de maquinário agrícola.
Para o delegado Cristiano Ritta, que coordena as Decrabs, a redução dos índices é reflexo do combate às organizações criminosas. Ao todo, desde o início da força-tarefa, 26 grupos foram identificados e se tornaram alvos de ações policiais.
— Grandes grupos criminosos foram desarticulados, com integrantes presos. A gente identificou que o crime se especializou no campo. Os grupos cada vez mais organizados. É uma estrutura com divisão de tarefas e hierarquia. O sistema de receptação também é bem articulado, inclusive com a colocação da carne em estabelecimentos acima de suspeitas — explica.
Segundo o delegado, um dos focos atuais da investigação é encontrar locais onde os animais furtados são abatidos. Em 18 de maio, foi deflagrada a Operação Grande Negócio, em cinco municípios da Serra, Vale do Caí e Vale do Taquari. Sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos em um frigorífico e outros estabelecimentos em Barão, Imigrante, Santa Clara do Sul, Caxias do Sul e Harmonia. Foi a segunda ofensiva desde a inauguração das delegacias.
No primeiro ano da operação, foram realizadas mais de 100 prisões e R$ 6 milhões em bens foram apreendidos. As investigações que estavam em andamento foram incorporadas ao trabalho das delegacias. Conforme Ritta, a proposta é descapitalizar esses grupos, por meio da apreensão de bens adquiridos a partir dos furtos.
— Muitas pessoas aparentemente mantêm vida lícita, mas tiveram patrimônios construídos dessa forma — afirma.
Presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira concorda que o trabalho da força-tarefa estadual e inauguração das delegacias foram fundamentais para a redução dos índices:
— O abigeato não é só questão de perda significativa, tem o abalo moral. O produtor chega na propriedade e vê os animais destruídos. É bem mais do que simples crime. O Estado vinha falhando nessa prerrogativa. Mas melhorou muito. Eles realmente conseguiram terminar com essas quadrilhas de abigeatários.
Os alvos
O perfil das propriedades atacadas varia de acordo com a forma de atuação de cada grupo. Em alguns casos, os criminosos contam com a conivência de funcionários das fazendas. Isso facilita o acesso aos animais, já que são grandes extensões de terra. Se eles têm alguém dentro da propriedade, que consegue juntar o gado para que seja abatido. Se não, saem a campo e, quando acham os animais reunidos, agem ali mesmo.
Organização
As organizações investigadas têm funções estabelecidas desde a logística, o roubo de veículos para transportar os criminosos e os animais furtados e os executores dos crimes, além dos locais de abate — quando não é feito na propriedade atacada. O produto fruto do abate irregular tem diferentes polos do Estado, como a Região Metropolitana, a Região Sul e a Fronteira. Mais de 35 toneladas de carne foram apreendidas no primeiro ano da força-tarefa contra o abigeato no Estado.
Onde registrar
Mesmo nas cidades onde há delegacia especializada, o produtor que tiver algum animal furtado deve fazer o registro normalmente na DP do município. A polícia é que deverá avaliar se o caso deve ser investigado pela Decrab. Os crimes cometidos por abigeatários locais, que não estão envolvidos em organizações criminosas estruturadas, devem ser investigados pela polícia local. Além de Bagé e Santiago, Camaquã também receberá delegacia especializada. As cidades de Cruz Alta e Rosário do Sul atuarão como sedes complementares.
As cidades
Bagé, onde foi a instalada a primeira Decrab, registrou i maior número abigeatos no Estado, em abril deste ano, com 14 casos. Em seguida, vem São Gabriel, com 12, e Rio Grande, Santana do Livramento e Uruguaiana, cada um com nove registros. Em abril de 2017, a cidade que teve mais casos foi Santana do Livramento, com 18 registros. Em seguida, Gravataí com 17 registros, Alegrete, com 16, e Santa Maria, com 14. Pelotas, Soledade e Uruguaiana tiveram 12 registros.