O indiciamento do delegado Moacir Fermino por falsidade ideológica e corrupção de testemunhas pela Corregedoria da Polícia Civil, na última sexta-feira (16), foi considerado "brando" pelo advogado Marco Mejía. Ele defende o mestre de magias Silvio Rodrigues, que acabou preso com base em depoimento falso de testemunha que apontou que teria envolvimento na morte de duas crianças, encontradas esquartejadas, o que foi descartado.
Mejía observa que, caso seja condenado por apenas esses dois crimes, o delegado pode cumprir a pena em regime semiaberto, com a possibilidade de conversão em prestação de serviços à comunidade. É que, juntos, esses crimes têm pena que varia entre quatro a nove anos.
O advogado entende que o delegado — conhecido por afirmar que teve "revelações divinas" ao longo da investigação — deveria responder por outros seis crimes. Veja abaixo:
- Tortura: Para o advogado, o mestre de magias ficou por mais de uma semana na carceragem da Central de Polícia, sem possibilidade de contatar sua defesa. Também não foi fornecido alimentação — que era entregue por familiares —, ou possibilidade de higiene ou banho de sol.
- Discriminação religiosa: Para a defesa, o crime fica evidente a partir do momento em que o delegado Fermino passa a afirmar que as crianças foram mortas em um ritual de magia, denegrindo religiões de matriz africana.
- Falsificação de documentos: O advogado entende que o delegado adulterou documentos. Uma das situações ocorreu durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão. Segundo Mejía, policiais abriram um cofre em busca de uma máscara e uma capa, que teriam sido usadas no ritual. Entretanto, nada foi encontrado no guarda-volumes, conforme o advogado. Entretanto, em um relatório policial é afirmado que os objetos estariam ali, ainda segundo a defesa.
Além disso, Mejía considera que Fermino mentiu ao afirmar que as crianças foram mortas no Templo de Lúcifer, em Gravataí. Buscas foram feitas no terreno, mas apenas um osso de animal foi encontrado. Peritos também procuraram vestígios de sangue, o que não foi localizado.
- Falso testemunho: A defesa de Sílvio acredita que o crime ocorreu ao se oferecer vantagens para que testemunhas mentissem. Em coletiva na sexta-feira (16), delegados ligados à Cogepol afirmaram que Fermino chegou a consultar uma testemunha para que modificasse o depoimento inicial. Ela teria visto sacos plásticos pretos, na casa de um dos investigados. Entretanto, o delegado queria que desse um novo depoimento, afirmando que os sacos eram azuis.
- Denunciação caluniosa: Por se afirmar que sete pessoas teriam participado da morte das duas crianças, entre elas o mestre de magias Silvio Rodrigues.
- Formação de quadrilha: Devido à participação do delegado, do informante de Fermino — de nome Paulo —, das três testemunhas — que reconheceram que mentiram à polícia —, na história criada por Paulo da morte das crianças estar ligada a um ritual satânico.
Advogado vai pedir acesso a inquérito
Mejía deve entrar com uma notícia-crime no Ministério Público para incluir esses seis indiciamentos a Fermino.
—A polícia foi leniente. A corregedoria foi branda demais para um agente público — considera o advogado.
Antes, deve solicitar o acesso do inquérito da Corregedoria da Polícia. O pedido deve ser feito ainda nesta semana.