A morte da adolescente Marta Avelhaneda Gonçalves, de 14 anos, em uma sala de aula da Escola Luiz de Camões em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, completa um ano nesta quinta-feira (8), e a colega apontada pela polícia como responsável ainda não foi encontrada para ser internada provisoriamente, como foi determinado pela Justiça.
Há a suspeita de que a jovem, que tinha 12 anos na época e cujo nome não é divulgado em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, tenha saído do Rio Grande do Sul.
— O procedimento (de investigação) foi concluído em 10 dias, a promotoria agiu rápido, a Justiça deferiu mandado e na hora de cumprir ela não foi encontrada — comenta o delegado Leonel Baldasso, responsável pela investigação.
Ele diz que a Polícia Civil cumpriu dois mandados em endereços da adolescente responsabilizada em Cachoeirinha na época do crime. O delegado mantém contato com o advogado da família, e ainda espera que a garota se apresente espontaneamente.
O Ministério Público afirmou, em nota à imprensa, que já empreendeu "esforços sobremaneira" em diversos endereços para a localização da menina considerada responsável pelo crime. Disse, também, que atuou para que os recursos da defesa dela fossem rejeitados pela Justiça e que conseguiu manter a decisão da medida de internação provisória.
Amigos de Marta planejam protesto no domingo
Em redes sociais, familiares afirmam estarem preparando um novo protesto para o próximo domingo (11), às 16h, no Parcão de Cachoeirinha. A irmã dela, que postou a mensagem que vem sendo compartilhada por amigos, pede na rede social por Justiça.
— Só nossa família e Deus sabem o que passamos desde esse dia até hoje. Além de sofrermos a dor da perda, sofremos a dor da injustiça — lamenta.
O perfil do Facebook da menina, ainda ativo em sua memória, amanheceu com algumas mensagens de amigos em fotos falando sobre o aniversário de sua morte e pedindo por justiça.
Defesa da adolescente diz que morte foi uma fatalidade
À época do crime, a adolescente responsabilizada concedeu entrevista a GaúchaZH. Ela confirmou a briga com Marta, mas negou que a tenha asfixiado. Seu advogado, Marcos Barrios, voltou a reforçar a versão de que a adolescente foi atacada por trás por Marta. Segundo ele, as duas teriam caído no chão, com Marta por cima, supostamente agredindo a adolescente.
— Temos convicção de que a fratura foi causada por colegas que a tiraram (de cima da menina apontada como responsável pela morte). É uma flagrante fatalidade — diz o advogado.
Barrios garante não saber o paradeiro da adolescente, e afirma que as medidas judiciais contra a cliente dele são "um grande abuso, da maneira que estão postas". Para ele, "não vai se remediar a morte da menina acusando de qualquer forma e a qualquer preço".
A defesa afirma haver um habeas corpus em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para evitar que a adolescente seja internada. Segundo Barrios, novas conversas com a família sobre a apresentação dela não foram feitas.
Relembre o caso
A morte de Marta Avelhaneda Gonçalves, 14 anos, foi a consequência mais grave dos casos de bullying registrados em escolas do Rio Grande do Sul. Os nove alunos que presenciaram a briga entre Marta e uma adolescente de 12 anos na Escola Estadual Luiz de Camões, em Cachoeirinha, no dia 8 de março de 2017, revelaram em depoimento à polícia que havia uma divisão de grupos dentro da turma e que as duas colegas acabaram integrando lados opostos.
O bullying teria começado logo no primeiro dia de aula de Marta. Um grupo de meninas, que incluía a adolescente de 12 anos, teria apontado para ela com xingamentos como "gorda" e "balão". Nada do que ocorreu entre elas foi revelado aos pais ou professores. A diretora Fani de Oliveira mal conhecia a aluna nova.
No segundo dia, a professora que deu as duas primeiras aulas percebeu que as meninas estavam agitadas e observou que Marta parecia calma. Durante a troca de período, outro desentendimento veio à tona. Um menino teria chamado a adolescente de 12 anos de "feia", e uma amiga dela teria respondido que "havia gente pior". Marta entendeu que a indireta teria sido para ela.
A adolescente indiciada pela Justiça saiu da sala para checar qual seria a próxima aula, já que o professor demorava a chegar. Segundo relato dos alunos, Marta teria dado uma rasteira nela assim que a garota retornou à sala. Ela teria caído e ficado embaixo de Marta, no chão. A partir daí, os alunos tiveram dificuldades de visualizar o que aconteceu, pois Marta era maior e os cabelos de ambas estavam soltos.
Uma testemunha disse que viu a adolescente empurrando Marta com um movimento que parecia um soco. Outros alunos viram uma terceira colega puxar Marta de cima da rival na tentativa de apaziguar a briga. O que se viu em seguida foi Marta caindo e passando mal, e a outra menina levantando do chão.